Em um artigo publicado na revista Sight & Sound em 1975, o cineasta declarou: “Quando faço um filme, eu o sinto no meu corpo. Gosto de carregar os rolos, sentir o peso. Quando filmamos, preciso sentir e tocar o próprio filme”.
O cinema, um jogo com a morte
Nessa perspectiva, poucas colaborações na tela e nos bastidores foram tão homéricas, apaixonadas, violentas e completamente loucas quanto a de Werner Herzog e . Essa relação de amor e ódio foi, aliás, brilhantemente mostrada no documentário , lançado em 1999. Se as filmagens de sua primeira colaboração, , tiveram sua (enorme) cota de problemas, isso era pouco em comparação com as filmagens dantescas de , que foram um verdadeiro inferno.
A História do cinema é constelada de exemplos de produções que foram além do caótico. Mas raras são aquelas que puderam ser capturadas ao vivo, como um alucinante diário de bordo. Existem duas referências absolutas nessa área: o extraordinário , dirigido por , que relata as lendárias filmagens de com imagens capturadas na hora. E , de , realizado no exato momento em que Herzog filmava Fitzcarraldo.
Aqui está o trailer…
“Fiquei relutante em dar meu consentimento por muito tempo”
Longe de tudo, a 1400 quilômetros do primeiro vilarejo, Herzog filma seu filme na perigosa floresta tropical na Amazônia. Uma cobra venenosa finca suas presas na perna de seu guia. Este é obrigado a cortar a perna com uma motosserra para sobreviver…
Flower Films
A equipe de filmagem também enfrenta duas das maiores chuvas do século, sendo forçada a interromper seu trabalho e a enfrentar a lama. Soma-se a isso o incêndio de um acampamento de mil e cem pessoas, dois acidentes de avião, uma guerra fronteiriça entre o Peru e o Equador, a doença de seu ator principal , vítima de uma grave disenteria, a ponto de ser repatriado com urgência. E cujo papel será justamente assumido por Klaus Kinski após uma reescrita completa do roteiro.
O ator é novamente genial em um papel agora feito sob medida. Mas suas crises de raiva, caprichos e confrontos repetidos com Herzog foram tais que, em uma manhã de 15 de junho de 1981, dois índios machiguengas propuseram, com a maior seriedade do mundo, ao diretor que abatesse Kinski, que ninguém mais suportava. E, claro, o ponto alto do espetáculo: um navio de 320 toneladas içado na encosta de uma montanha apenas pela força humana, e em plena selva…
Wildlife Films
Burden of Dreams não omite nada dessas filmagens dantescas. “É um filme muito bom”, diria Herzog mais tarde sobre o documentário de Les Blank. “Fiquei relutante em dar meu consentimento por muito tempo. E Les veio me ver e me disse: ‘Werner, se você falhar em fazer o navio a vapor passar para o outro lado da montanha na selva, pelo menos teremos as imagens’. Senti que ele tinha razão. É um filme maravilhoso [falando de Fitzcarraldo], mesmo que me tenha dado muitos problemas”.
Ao contrário do documentário Meu Melhor Inimigo, que teve o mérito de ser lançado em DVD há 25 anos (!) e reeditado no exterior em um pacote com o filme em 2009, Burden of Dreams, infelizmente, nunca teve qualquer edição física. A menos que se recorra à importação, esta obra-prima do documentário permanece inédita em nosso país.
Fonte: adorocinema
