Saúde

Dispositivo de monitoramento de borboletas-monarca alcança sucesso: saiba mais!

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Pela primeira vez desde que naturalistas começaram a registrar, há quase um século, a extraordinária migração das borboletas-monarca, cientistas finalmente podem observar cada etapa do trajeto desses insetos, capazes de cruzar um continente inteiro. A façanha só se tornou possível graças a um minúsculo transmissor solar de 60 miligramas, inaugurando uma nova fase para a biologia da conservação. 

O dispositivo, criado pela empresa Cellular Tracking Technologies permite registrar o deslocamento individual de monarcas desde o sul do Canadá até seus remotos refúgios nas montanhas centrais do México. O dispositivo, vendido por cerca de US$ 200, acompanha as borboletas em tempo real em um aplicativo gratuito de celular, o Project Monarch Science. Este é um salto tecnológico após décadas de métodos rudimentares baseados em adesivos colados às asas dos animais, dos quais menos de 1% eram recuperados. 

Além disso, as etiquetas permitem que o público geral acompanhe a migração das monarcas no app. A tecnologia é desenvolvida por uma equipe com experiência em biologia da conservação, capaz de criar dispositivos para animais que vão de abelhões a focas, e representa a realização de um projeto que foi desenvolvido durante 20 anos pelo fundador da empresa, Michael Lanzone. 

“Agora, teremos respostas que podem ajudar a reverter o declínio desses insetos”, disse Cheryl Schultz, bióloga da Washington State University, ao The New York Times. A pesquisadora é autora de um estudo recente que documentou uma queda de 22% na abundância de borboletas na América do Norte ao longo de 20 anos. 

Uma corrida no céu

Os testes de campo começaram em setembro, no Canadá, onde 30 borboletas foram monitoradas e demonstraram desempenho surpreendente — uma delas, LPM021, chegou a ser detectada a 1.600 quilômetros da Guatemala, mais de dois meses depois da sua partida. A maioria das borboletas-monarca pesa entre 500 e 600 miligramas, portanto, a maioria dos insetos se adaptaram bem ao dispositivo.  

O sucesso inicial levou à distribuição gratuita de mais de 400 etiquetas para pesquisadores nos EUA e Canadá, saturando o aplicativo com trilhas de voo e estimulando a expectativa sobre qual borboleta alcançaria primeiro a reserva de hibernação no México. A vencedora foi JMU004, que chegou ao santuário de El Rosario, no México, 47 dias depois de ser saído do estado da Virgínia, nos Estados Unidos.

O propósito do rastreamento é claro: entender como insetos tão pequenos conseguem atravessar mais de 4 mil quilômetros, muitas vezes desviando drasticamente da rota ideal antes de se corrigirem com precisão impressionante.

Os dados já revelam que as monarcas contam com dois sofisticados sistemas de navegação. Em dias claros, orientam-se pelo Sol, ajustando o rumo conforme a trajetória solar no céu. Quando o clima fecha, recorrem a uma bússola magnética baseada em luz ultravioleta, sensível ao ângulo do campo magnético terrestre. Ainda assim, permanece o mistério maior: como milhares de indivíduos encontram, geração após geração, os mesmos locais de hibernação ocupados por seus tataravós?

Uma migração em risco

A chegada a esses abrigos é um triunfo improvável: apenas uma em cada quatro monarcas sobrevive à jornada, vítimas do clima, da urbanização e de predadores. No México, elas se agrupam tão densamente em árvores de abeto que os galhos se curvam sob o peso da massa alaranjada. Mas o espetáculo está encolhendo. Nos anos 1990, as colônias mexicanas recebiam centenas de milhões de borboletas. Hoje, raramente passam de 60 milhões – apenas 38 milhões no último inverno.

A queda é atribuída a fatores ligados à atividade humana e às mudanças climáticas: calor extremo e secas provocadas por mudanças climáticas; desmatamento e infestação por besouros nas áreas de inverno; e, sobretudo, a eliminação quase total do algodoeiro nos campos agrícolas do Meio-Oeste, planta essencial onde as fêmeas depositam seus ovos. 

Tecnologia, ciência cidadã e um futuro incerto

O avanço técnico por trás dos novos transmissores – chamados BlūMorpho – depende da integração com bilhões de dispositivos habilitados para Bluetooth, capazes de captar o sinal sempre que uma monarca passa a até 90 metros de distância. A empresa espera que, no futuro, aficionados paguem pelo equipamento, embora especialistas alertem que o manuseio inadequado pode ferir os insetos. 

Ainda assim, o engajamento público é visto como crucial para salvar a espécie. Restaurar habitats com algodoeiro e plantas de néctar, reduzir pesticidas, proteger os santuários de inverno e intensificar o monitoramento populacional são medidas consideradas essenciais, segundo a ONG ambientalista WWF. “Não acho que essas etiquetas devam ser usadas indiscriminadamente – elas devem ser usadas para conservação e pesquisa direcionada”, disse a pesquisadora Leone Brown, em entrevista ao The New York Times. “Mas muita gente adora borboletas-monarca, então acho que farão o que quiserem.”

Fonte: abril

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