O livro reúne os diários escritos entre 1959 e 1962 por Tolksdorf, e oferece um retrato contundente da colonização no noroeste de Mato Grosso, onde o avanço de seringueiros e colonizadores atingiu diretamente territórios dos povos indígenas Rikbaktsa, Apiaká, Kaiabi e Tapayuna.
A obra denuncia, com rigor documental e sensibilidade histórica, os impactos da colonização privada em uma região de ocupação milenar, marcada pela omissão do Estado e pela violência dos processos de apropriação territorial.
“Nosso desejo, e era também o de Tolksdorf, é que as violências cometidas contra os povos indígenas sejam denunciadas, mesmo que ocorridas há mais de meio século”, contou a organizadora Anna Maria Ribeiro.
Durante a organização do material, chamou a atenção dos pesquisadores a omissão institucional do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) frente às invasões das terras indígenas, bem como a complexa convivência entre indígenas, colonos e seringueiros na mesma região.
“Foi marcante a inoperância do SPI, cônscio do impacto violento que essas invasões estavam causando àqueles povos indígenas”, pontuou Anna Maria.
O conteúdo dos diários contribui para a compreensão histórica dos conflitos agrários na Amazônia e das violências sofridas pelos povos originários, como ela destacou: “Vidas foram ceifadas por armas de fogo, doenças infectocontagiosas e também por ataques aos corpos femininos indígenas.”
A organização da obra seguiu um processo rigoroso de edição, com a uniformização de nomes e toponímias, e a inserção de 38 caixas explicativas com indicações de estudos complementares.
“Procuramos, na medida do possível, não interferir em demasia na versão traduzida do tradutor”, explicou a organizadora. A escolha do título também foi repensada pelos organizadores, que optaram por “Uma vida no Arinos” como forma de refletir com mais precisão o conteúdo da obra e a realidade vivida por Tolksdorf na região.
O livro “Diários de Fritz Tolksdorf: uma vida no Arinos” também está disponível gratuitamente em formato digital. Para acessar, basta escanear o QR Code presente no convite do evento ou visitar o site da editora: www.carliniecaniato.com.br. A iniciativa amplia o acesso à obra e contribui para a disseminação do conhecimento sobre a história e os impactos da colonização no noroeste de Mato Grosso.
Anna Maria Ribeiro F. M. da Costa é doutora em História pela UFPE, com pós-doutorado em Etnologia Indígena (PUC-SP). Atuou como pesquisadora da Funai por mais de três décadas e foi docente do Univag. É membro do Neru-UFMT e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
João Carlos Barrozo é sociólogo, doutor em Sociologia pela Unesp, e professor voluntário da UFMT. É fundador e atual coordenador do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (Neru-UFMT) e atua como pesquisador e orientador no Programa de Pós-graduação em História (PPGHis). Possui longa trajetória como educador no ensino fundamental, médio e superior.
Fonte: Olhar Direto