“Lá no fundo da grota, caboclo velho se vira com o que tem” — e no meio da vida simples descrita por Baitaca, uma verdadeira fauna campeira se revela, entre cavalos, aves, cães e até bichos de nome estranho.
A canção, que virou símbolo do orgulho do homem do campo, faz um retrato vívido da rotina na roça, com trechos que mencionam animais típicos do interior e expressões bem do sul do Brasil.
Veja alguns bichos e os trechos da música em que aparecem:
• Pingo de Arreio: “E o meu pingo de arreio / Puxava o sorro do mato”. Pingo é o cavalo manso, pronto para a lida. “De arreio” indica que está encilhado, ou seja, com sela e pronto para montar.
• Sorro: O trecho acima também cita o “sorro”, um termo regional para a raposa-do-campo ou graxaim, típico do bioma sulista. O verbo “puxar o sorro do mato” significa sair à caça ou afugentar.
• Saracura: “Num galho de angico / Uma saracura cantava”. É uma ave de pernas longas e grito forte, bastante comum nas margens dos rios e brejos. O canto anuncia a chuva ou o fim da tarde.
• Zorrilho: “E lá pelas tantas / Ouvi o grunhido do zorrilho”. Animal parecido com o gambá, conhecido pelo forte odor como defesa.
• Guaico ou guaipecada: “O guaipeca latiu pra uma mão-pelada”. Guaipeca é cachorro vira-lata. No Sul, “guaipecada” é forma carinhosa de chamar esses cães valentes.
• Mão-pelada: Também chamada de guaxinim, aparece no mesmo verso. Animal noturno, curioso, de hábitos alimentares variados.
• Potro tordilho: Tordilho é o cavalo de pelagem cinza. Potro é o cavalo jovem.
• Perdiz e Nambu: Ambas são aves silvestres, típicas da caça e da culinária campeira. O nambu tem canto suave e a perdiz é ligeira.
• Jacu e Sabiá: O jacu é uma ave de mata, grande, parecida com peru-do-mato. A sabiá é famosa pelo canto melodioso — ambos são comuns no ambiente rural.
• Bois de canga: “Encostei os bois de canga e fechei a porteira”. Refere-se aos bois usados para puxar carroça ou arado, presos por uma canga (peça de madeira).
• Vaca e o bezerro: Ícones da lida diária, aparecem indiretamente no trecho que descreve a lida da ordenha e do sustento.
Essa riqueza de termos e referências transforma a música em uma espécie de guia ilustrado da vida no campo.
Muito além da melodia contagiante, “Do Fundo da Grota” serve como documento cultural da lida campeira, trazendo o cheiro da terra molhada, o som do mato e o retrato de uma vida simples, mas cheia de identidade.
Fonte: primeirapagina