
Há 4,5 bilhões de anos, quando algumas rebarbas e restos da formação do Sol coalesceram para formar a Terra, a atmosfera do planeta recém-nascido era bem diferente da atual: consistia principalmente em dióxido de carbono, com pitadas de nitrogênio, vapor de água, metano e amônia.
Note que não havia oxigênio – e era ótimo que não houvesse. Afinal, como o nome já diz, ele oxida as coisas. E não são só bicicletas ou geladeiras que estão sujeitas a enferrujar. Os seres vivos sofrem a versão orgânica desse mesmo tipo de desgaste.
Isso acontece porque moléculas de O2 são extremamente reativas. Elas procuram o tempo todo outros compostos químicos para conseguirem o que mais desejam: elétrons. Vamos recapitular.
Tudo é feito de átomos, inclusive você. Cada átomo – seja ele de hélio, ferro ou ouro – consiste em um núcleo de partículas mais pesadas chamadas prótons e nêutrons, rodeado por um enxame de elétrons, que são bem mais leves e insubstanciais. Justamente por ficarem na periferia do átomo, são os elétrons os responsáveis por interagir com os elétrons dos outros átomos e ditar as relações entre eles. Os diplomatas da escala subatômica.
Elétrons têm uma propriedade chamada spin – “giro”, em português –, e gostam de andar em pares com spins opostos. Você pode imaginar um par de bolinhas girando em direções contrárias, o que ajuda, mas é uma metáfora, porque elétrons não são bolinhas. Eles não têm diâmetro ou volume, não são objetos mensuráveis. Vale mais a pena pensar no spin como você pensa em carga elétrica: ela pode ser negativa ou positiva, e os opostos se atraem.
Uma molécula de oxigênio comum é uma anomalia química porque possui dois elétrons sem par. O jeito é procurar um parceiro de dança em outras moléculas que estão dando sopa por aí. Quando eles encontram um bom match, rola a oxidação.
Um belo dia, há cerca de 2 bilhões de anos, uma linhagem de bactérias desenvolveu um método inédito de geração de energia. Elas passaram a usar gás carbônico e luz solar – os dois recursos mais comuns do planeta na época – para fabricar o próprio açúcar.
O problema é que não existe almoço de graça: esse artifício de geração de comida, que hoje chamamos de fotossíntese, veio com o efeito colateral de produzir quantidades cavalares de oxigênio, que foram se acumulando na atmosfera.
Para os micróbios pioneiros, adaptados a um metabolismo sem esse gás, esse foi um desinfetante poderoso. É difícil colher dados porque formas de vida tão pequenas mal deixam fósseis, mas calcula-se que uns 90% da biosfera tenha deitado eternamente em berço esplêndido. A vida enferrujou, e foi um massacre.
Com tantos nichos ecológicos desocupados, a seleção natural entrou em ação. Surgiu o processo oposto da fotossíntese: a respiração, que consiste em queimar carboidrato com oxigênio para gerar energia. É o que suas células fazem até hoje, diga-se. Um novo metabolismo, adaptado a uma nova atmosfera, e mais eficaz do ponto de vista energético do que as soluções que existiam antes.
Até hoje, embora você precise respirar oxigênio para sobreviver, seu corpo sofre estresse oxidativo das chamadas espécies reativas de oxigênio, mais conhecidas pela sigla EROs (você já deve ter ouvido falar em “radicais livres”; eles são um tipo de EROs).
As EROs se formam em abundância ao nosso redor porque 21% da atmosfera é oxigênio, e é por causa dessas pestinhas que a vitamina E é tão importante: ela é um antioxidante, que blinda a membrana das células.
Felizmente, é quase impossível ter deficiência de vitamina E: a dita-cuja está por toda parte. Em geral, o problema só acomete quem fez cirurgias bariátricas ou tem problemas na absorção de gorduras pelo intestino, já que se trata de uma molécula lipossolúvel.
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Fonte: abril