Cientistas descobriram que dentes de dinossauros podem funcionar como uma cápsula do tempo do clima na época dos gigantes. Tudo porque, ao respirar, os animais do Mesozóico absorviam e armazenavam oxigênio em seus tecidos duros. Neste caso, a dentadura desses bichanos revela a condição atmosférica da era em que viveram.
Em um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), uma equipe analisou a composição química do esmalte dental de fósseis datados do Jurássico Tardio e do Cretáceo Tardio, revelando que os níveis de dióxido de carbono da atmosfera naquela época eram dramaticamente mais altos que os de hoje.
Usando medições de isótopos de oxigênio — versões do mesmo elemento com massas diferentes — os pesquisadores reconstruíram a composição atmosférica do passado. Os resultados apontam para cerca de 1.200 partes por milhão (ppm) de CO₂ durante o Jurássico Tardio, e aproximadamente 750 ppm no Cretáceo Tardio. Ambos são muito superiores ao nível pré-industrial de 280 ppm e aos atuais 425 ppm.
“Os dentes de dinossauro funcionam como cápsulas do tempo extremamente resistentes, preservando o clima de mais de 150 milhões de anos atrás — e, finalmente, podemos ler esse registro”, disse Dingsu Feng, geoquímica da Universidade de Göttingen e autora principal do estudo, em comunicado.
As evidências sugerem que atividades vulcânicas intensas, como as erupções das Armadilhas do Decã, na Índia, podem ter causado picos de CO₂ no fim do Cretáceo, possivelmente influenciando tanto o clima quanto os ecossistemas.
Além disso, a pesquisa indica que a fotossíntese global durante o período Mesozóico foi cerca do dobro da atual, provavelmente impulsionada pelas altas concentrações de CO₂ e temperaturas médias anuais mais elevadas. Isso significaria ecossistemas mais produtivos e uma teia alimentar terrestre e marinha mais robusta do que a que conhecemos hoje.
“As informações obtidas por meio do nosso estudo sobre a produção primária global [fotossíntese] fornecem evidências importantes de teias alimentares marinhas e terrestres que, de outra forma, seriam difíceis de obter”, afirma Eva M. Griebeler, coautora do estudo e ecologista da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, em comunicado.
Até agora, a reconstrução de climas antigos dependia principalmente de sedimentos marinhos e solos fossilizados, métodos que carregam margens maiores de incerteza. Segundo Thomas Tütken, paleontólogo e coautor do estudo, essa nova técnica “abre um caminho direto para conectar vertebrados terrestres ao ar que respiravam”.
Para os cientistas, compreender como o clima e a produtividade das plantas variaram ao longo de milhões de anos é essencial para projetar o futuro do planeta. “Investigar a composição da atmosfera da Terra primitiva e a produtividade vegetal naquele tempo é crucial para entender a dinâmica climática de longo prazo”, disse Feng em outro comunicado.
Fonte: abril