No Brasil, a TCL é mais conhecida pelos televisores. Mas a empresa chinesa também produz celulares e tablets, alguns dos quais trazem uma tecnologia interessante: a tela Nxtpaper, que tenta reproduzir a experiência de leitura proporcionada pela tecnologia de papel eletrônico (e-ink), presente em leitores como o Kindle.
O smartphone TCL 60 Nxtpaper, lançado recentemente no País, é um deles. A tela Nxtpaper é um LCD, mas com várias modificações, que incluem o processo de nano-etching (superfície microesculpida) e a polarização da imagem.
Os LCDs tradicionais funcionam com polarização linear, ou seja, geram ondas eletromagnéticas -que os nossos olhos interpretam como luz- oscilantes numa única direção. Já a tela Nxtpaper emite luz com polarização circular, mais parecida à polarização aleatória da luz ambiente.
Ao ligar o 60 Nxtpaper pela primeira vez, você não nota nada de muito diferente a não ser o acabamento da tela de 6,8 polegadas, que é fosca. O segredo do aparelho está numa tecla lateral deslizável, que dá acesso aos modos de leitura.

Ao acioná-la, você tem três opções: “modo de papel colorido” (que deixa as cores menos saturadas), “modo de papel de tinta” (que deixa a tela preto-e-branco) e “modo máximo de tinta” – que, além de deixar a tela preto-e-branco, substitui a home page do celular por outra mais simples, que comporta no máximo 7 apps à sua escolha; todos os demais são suspensos, e ficam inacessíveis.
A ideia é ajudar você a escapar das inúmeras distrações presentes nos celulares, e passar algum tempo lendo. Nos modos “papel de tinta” (o sistema da TCL traz algumas traduções meio quadradas, como essa) e “modo máximo de tinta”, a tela Nxtpaper realmente fica parecendo papel eletrônico, o que torna a leitura muito melhor do que num smartphone convencional.
A imagem é muito nítida e estável, sem a cintilação típica dos LCDs, e o fundo branco das páginas tem tonalidade levemente quente, sem a frieza excessiva de algumas telas e-ink. Você pode instalar o aplicativo Kindle para Android, e acessar a sua biblioteca da Amazon no aparelho. O resultado é ótimo; ler livros no 60 Nxtpaper é viável e agradável.
No “modo máximo de tinta”, lendo livros no app Kindle, o 60 Nxtpaper consumiu em média 6% de bateria a cada hora de uso (alcançando, portanto, uma autonomia de 16 horas de tela ligada). Já com o aparelho no modo normal, alternando entre o navegador, Spotify, YouTube, Gmail e WhatsApp, o consumo foi de 10% da bateria a cada hora de tela acesa.
Não é uma marca espetacular (sobretudo considerando a bateria relativamente grande, de 5.200 mAh), mas é aceitável. O smartphone da TCL vem com 8 gigabytes de memória RAM, 512 GB de armazenamento e processador Mediatek Helio G92 – o que, junto à conectividade (o aparelho é 4G, não tem 5G), é seu ponto fraco.
Trata-se de um chip pouco potente, que alcança cerca de 260 mil pontos no benchmark (teste sintético) AnTuTu. É pouco mais de metade da performance oferecida por um Samsung Galaxy A26, por exemplo, que está na mesma faixa de preço do aparelho da TCL (comercializado por cerca de R$ 1.500 no varejo brasileiro).
Isso significa que o 60 Nxtpaper pode dar algumas engasgadas de vez em quando, ao alternar entre apps. Seria bem melhor que ele viesse com uma CPU mais poderosa. Mas o chip modesto não chega a comprometer o uso normal, moderado, no dia a dia, nem atrapalha a leitura de textos – que é, afinal, a proposta do aparelho.
O TCL 60 Nxtpaper é um smartphone interessante, com tecnologias de tela que realmente transformam a experiência de uso. Seus modos “de tinta” deixam a leitura mais agradável e também são menos estimulantes, podendo ser úteis para prevenir ou combater um problema bem comum no mundo moderno: o vício em smartphone.
Fonte: abril