📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Os receptores de vitamina D estão distribuídos por diversas regiões do cérebro, influenciando a saúde mental por meio da regulação dos neurotransmissores e da redução de processos inflamatórios. A deficiência dessa vitamina está associada à depressão, ansiedade e quadros psicóticos.
  • Pacientes com transtornos mentais apresentam taxas mais elevadas de deficiência de vitamina D, atribuídas à menor exposição solar, obesidade e outros fatores.
  • Estudos mostram que a suplementação de vitamina D melhora os sintomas de depressão, em especial em pacientes idosos e adolescentes. Os níveis sanguíneos ideais variam entre 60 e 80 ng/mL.
  • A exposição solar segura continua sendo a melhor fonte de vitamina D. Contudo, indivíduos que consomem óleos de sementes devem aguardar de 4 a 6 meses após a suspensão do consumo antes de aumentarem a exposição ao sol. Se a exposição regular não for possível, a suplementação pode ser necessária.
  • Estratégias para uma exposição solar segura incluem o uso de astaxantina (12 mg/dia), aplicação de creme de niacinamida, ingestão de aspirina infantil antes da exposição ao sol e suplementação com hidrogênio molecular.

🩺Por Dr. Mercola

Os receptores de vitamina D não se restringem ao sistema esquelético em benefício da saúde óssea, mas também se fazem presentes em várias áreas cerebrais, como no hipocampo, substância negra e cerebelo.

Isso evidencia o papel essencial da vitamina D no desenvolvimento neurológico e no funcionamento do sistema nervoso. Quando seu corpo não tem vitamina D suficiente, a liberação de neurotransmissores é comprometida, os fatores neurotróficos são afetados e a neuroproteção é prejudicada.

Essas perturbações estão ligadas a mudanças de humor e comportamento, contribuindo para condições psiquiátricas como depressão, ansiedade e até quadros psicóticos. A vitamina D também ajuda na modulação da inflamação, que costuma estar alta em vários transtornos mentais. É por isso que otimizar seus níveis de vitamina D é importante tanto para a saúde física quanto para manter seu bem-estar mental.

A deficiência de vitamina D e sua prevalência em condições de saúde mental

A deficiência de vitamina D é comum e afeta mais da metade da população mundial, sem distinção de idade ou etnia. Em pessoas com transtornos psiquiátricos, as taxas de deficiência são ainda mais elevadas. Estudos indicam que pacientes psiquiátricos tendem a apresentar níveis mais baixos de vitamina D em comparação com a população em geral.

Os fatores que contribuem para essa deficiência incluem a baixa exposição à luz solar devido ao tempo que permanecem em ambientes fechados, má alimentação e obesidade, que sequestra a vitamina D e a armazena no tecido adiposo. Além disso, alguns medicamentos psiquiátricos levam ao ganho de peso, agravando ainda mais a deficiência da vitamina D.

Essa deficiência generalizada é preocupante porque baixos níveis de vitamina D têm sido associados a maior incidência de diversos problemas de saúde mental, incluindo depressão, esquizofrenia e transtornos de ansiedade, cada um sendo afetado de maneiras distintas.

Quanto à depressão, baixos níveis de vitamina D estão associados ao aumento dos sintomas e a um risco maior de desenvolvimento do transtorno. A vitamina D pode proteger o hipocampo durante a desregulação relacionada ao estresse e favorecer a liberação de dopamina, um neurotransmissor envolvido na regulação do humor.

A esquizofrenia, um transtorno mental crônico caracterizado por distorções no pensamento e percepção, é outra área de interesse relacionada aos benefícios da vitamina D. Pesquisas apontam uma alta prevalência de deficiência de vitamina D entre indivíduos com esquizofrenia, em particular aqueles que estão experimentando episódios agudos.

Alguns estudos também encontraram uma forte associação entre baixos níveis de vitamina D e a gravidade dos sintomas da esquizofrenia, indicando que a vitamina D pode desempenhar um papel importante na função cognitiva e na neuroproteção. Em transtornos do espectro psicótico, como a esquizofrenia, a deficiência de vitamina D costuma estar associada a piores desfechos clínicos e maior gravidade dos sintomas, devido à redução da neuroproteção e à neurotransmissão prejudicada.

O impacto da vitamina D em condições específicas de saúde mental

Transtornos do neurodesenvolvimento, incluindo autismo e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), também apresentam correlações significativas com os níveis de vitamina D, de modo que a suplementação pode contribuir para a melhora de sintomas comportamentais e cognitivos.

Algumas pesquisas também indicam que indivíduos com transtorno bipolar costumam apresentar níveis mais baixos de vitamina D em comparação àqueles sem a condição. Por exemplo, níveis elevados da proteína transportadora da vitamina D foram observados em pacientes bipolares, sugerindo uma relação entre o metabolismo da vitamina D e a regulação do humor.

Além disso, a vitamina D exerce influência sobre os transtornos do sono-vigília, já que a deficiência afeta os ritmos circadianos e resulta em uma pior qualidade do sono. Otimizar os níveis de vitamina D é, portanto, uma estratégia terapêutica promissora para muitas condições de saúde mental. Estudos demostram que a suplementação de vitamina D promove melhorias nos sintomas depressivos,  com resultados mais evidentes em pessoas que já apresentavam deficiência da vitamina.

Por exemplo, pacientes idosos com depressão, adolescentes e aqueles em recuperação de doenças agudas se beneficiaram com o aumento da ingestão de vitamina D. No contexto da esquizofrenia, a adição de vitamina D aos tratamentos antipsicóticos padrão tem sido associada a melhores resultados cognitivos e redução da gravidade dos sintomas.

A neuroinflamação, que é a inflamação do tecido nervoso, está envolvida em muitos distúrbios neurológicos e mentais, como a lesão cerebral traumática, a doença de Alzheimer e a demência vascular. A vitamina D tem se destacado como um agente promissor no combate à neuroinflamação, em razão de suas propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras.

Estudos com animais, como os realizados em ratos com lesão cerebral traumática, também demonstraram que a suplementação de vitamina D direciona as células microgliais para um estado anti-inflamatório, reduzindo o edema cerebral e protegendo a barreira hematoencefálica.

A vitamina D ajuda a aliviar a depressão e a ansiedade

Uma meta-análise publicada no Journal of Affective Disorders avaliou a eficácia da suplementação de vitamina D no tratamento da depressão primária. O estudo analisou 18 ensaios clínicos randomizados para investigar se a vitamina D contribui para a redução dos sintomas depressivos em adultos. Os resultados mostraram uma redução significativa nos escores de depressão entre os participantes que receberam suplementação de vitamina D, em comparação com o grupo placebo.

Foi notável que os benefícios foram mais evidentes em indivíduos com níveis basais de vitamina D acima de 20 ng/mL, nos quais a redução dos sintomas depressivos foi mais acentuada. Esses achados indicam que níveis mais elevados de vitamina D podem ser necessários para alcançar melhoras significativas nos quadros de depressão.

Outro estudo, publicado no The American Journal of Geriatric Psychiatry, também identificou uma associação relevante entre deficiência de vitamina D e o aumento de sintomas depressivos em adultos mais velhos. O estudo analisou dados de 299 participantes, dos quais mais de 60% apresentavam deficiência ou insuficiência de vitamina D.

Esses indivíduos apresentaram pontuações mais altas na Escala de Depressão Geriátrica, em particular nos subdomínios relacionados à disforia e à falta de sentido. Tal correlação negativa sugere que níveis mais baixos de vitamina D possuem uma ligação direta com sentimentos intensos de tristeza, desesperança e falta de propósito, elementos centrais da depressão. O estudo também observou que níveis mais altos de suficiência de vitamina D, próximos a 95,5 ng/mL, estavam associados à ausência ou à presença a mínima de sintomas depressivos.

Esses resultados reforçam o papel crucial que a vitamina D desempenha na manutenção da saúde mental, destacando o potencial de sua suplementação enquanto intervenção estratégica para aliviar os sintomas depressivos em populações mais velhas. Os transtornos de ansiedade, assim como a depressão, também afetam de forma significativa a vida diária e o bem-estar geral.

Pesquisas apontam que baixos níveis de vitamina D não estão associados apenas ao aumento dos sintomas de depressão, mas também ao aumento da ansiedade. As propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias da vitamina D ajudam a reduzir o estresse oxidativo e a inflamação, que estão entre os principais fatores da fisiopatologia dos transtornos de ansiedade.

Regiões do cérebro como o córtex pré-frontal e o hipocampo, envolvidas na regulação do humor e da ansiedade, possuem receptores de vitamina D e a enzima necessária para a sua ativação. Isso indica que níveis adequados de vitamina D são essenciais para manter a saúde e a funcionalidade dessas áreas do cérebro. A suplementação com vitamina D também tem mostrado efeitos positivos na redução dos sintomas de ansiedade.

Maximizando os benefícios da luz solar para a produção de vitamina D

Embora os suplementos de vitamina D estejam amplamente disponíveis, a luz solar continua sendo o padrão ouro para a síntese de vitamina D no corpo. Além da produção de vitamina D, a exposição ao sol oferece vantagens adicionais à saúde. Na verdade, níveis elevados de vitamina D costumam indicar uma exposição saudável e adequada ao sol, o que pode explicar diversos benefícios à saúde que costumam ser atribuídos apenas à vitamina D, como redução dos sintomas ligados à saúde mental, menor risco de câncer e maior longevidade.

No entanto, um fator importante que muitas vezes é ignorado nas discussões sobre exposição solar é o impacto dos óleos alimentares, em especial os óleos de sementes. Se você costuma consumir óleos de sementes, precisará ter um cuidado redobrado com a exposição ao sol. Esses óleos contêm grandes concentrações de ácido linoleico (LA), uma gordura que se torna prejudicial sob ação da radiação ultravioleta. A combinação entre a luz solar e a pele rica em LA pode desencadear inflamação e danos ao DNA.

Por esse motivo, é aconselhável limitar a exposição solar aos períodos mais amenos, como início da manhã e final da tarde, caso você esteja consumindo esses óleos com regularidade. Uma abordagem segura é esperar de 4 a 6 meses após eliminar esses óleos da sua dieta antes de aumentar sua exposição ao sol. Diversas características pessoais também influenciam como seu corpo tolera e responde à luz solar:

• Pigmentação da pele: A melanina funciona como um protetor solar natural. Pessoas com pele mais escura precisam de mais tempo ao sol para produzir a mesma quantidade de vitamina D que aquelas com pele mais clara.

• Composição corporal: O tecido adiposo armazena compostos solúveis em gordura, incluindo óleos de sementes oxidados. Pessoas com maiores percentuais de gordura corporal podem precisar ser mais cautelosas, pois os óleos armazenados aumentam o período de risco mesmo após mudanças na dieta.

Recomendações para uma exposição segura ao sol

A forma mais simples de avaliar se a exposição ao sol está adequada é por meio de um “teste de queimadura solar”, observando sua pele em busca de qualquer sinal de vermelhidão. Se você não notar sequer uma leve coloração rosada, é provável que você esteja dentro de uma faixa de exposição segura. Sempre evite as queimaduras solares, pois elas indicam que já ocorreu dano à pele. À medida que os estoques de LA são reduzidos no organismo, há uma diminuição significativa na suscetibilidade às queimaduras solares e no risco de câncer de pele.

Essas recomendações tem como objetivo garantir tanto a produção ideal de vitamina D quanto a proteção contra o estresse oxidativo, enquanto seu corpo elimina o LA armazenado. Portanto, durante o período de transição:

• Até você completar 6 meses sem consumir óleos de sementes, evite a exposição solar direta entre 2 e 3 horas antes e depois do meio-dia solar. Embora a eliminação completa dos óleos de sementes pelos tecidos leve cerca de 2 anos, após cerca de 6 meses já é possível observar uma desintoxicação significativa, permitindo uma exposição solar benéfica mesmo nos horários de maior intensidade.

• Lembre-se de que, durante o horário de verão (meses de verão), o meio-dia solar ocorre às 13h, e não às 12h. Isso significa que, durante esses meses, o período de maior intensidade solar ocorre entre 10h e 16h.

• À medida que seu corpo elimina os óleos de sementes armazenados ao longo dos primeiros 6 meses, aumente de maneira gradual sua exposição ao sol,  aproximando-se do meio-dia solar. Comece com a exposição ao sol do início da manhã ou do final da tarde, aumentando aos poucos a exposição até chegar ao meio-dia conforme seus tecidos ficam mais limpos e resistentes à luz UV.

Se a exposição solar for necessária antes que seu corpo tenha eliminado os óleos de sementes, considere as seguintes medidas de proteção:

1. Suplementação com astaxantina Ingerir 12 miligramas por dia ajuda a aumentar a resistência da pele aos danos causados pelo sol.

2. Niacinamida tópica — Aplique um creme com vitamina B3 antes da exposição ao sol para ajudar a proteger o DNA contra os danos causados pela luz UV.

3. Aspirina antes da exposição solar — Tomar uma aspirina infantil de 30 a 60 minutos antes da exposição ao sol pode ajudar a reduzir o risco de câncer de pele, ao evitar a conversão do LA em metabólitos oxidados do ácido linoleico (OXLAMs) nocivos.

4. Hidrogênio molecular — Esse composto ajuda a neutralizar os radicais livres e reduz o estresse oxidativo, enquanto preserva espécies reativas de oxigênio benéficas.

Dicas de suplementação de vitamina D

Se a exposição regular ao sol não for possível, a suplementação de vitamina D pode ser necessária. Entretanto, a definição atual de deficiência (níveis abaixo de 20 ng/mL) tem se mostrado insuficiente para garantir boa saúde ou prevenir doenças. Embora a condição de suficiência comece em torno de 40 ng/mL (100 nmol/L nas medidas europeias), o intervalo ideal para favorecer a saúde situa-se entre 60 e 80 ng/mL (150 a 200 nmol/L). Para otimizar seus níveis de vitamina D:

  1. Faça exames duas vezes por ano para saber como estão seus níveis.
  2. Ajuste a exposição ao sol ou o uso de suplementos de acordo com os resultados.
  3. Repita o exame após 3 ou 4 meses para verificar se você alcançou o resultado desejado.
  4. Continue fazendo o acompanhamento regular para manter os níveis dentro do intervalo ideal.

Lembre-se de que a relação de cada um com o sol é única. Observe os sinais do seu corpo e ajuste sua exposição conforme necessário. O objetivo é aproveitar os benefícios oferecidos pelo sol ao mesmo tempo que evita as queimaduras. Também é importante ter em mente que a interação entre a vitamina D e a saúde mental é complexa e multifacetada. Apesar da suplementação ser promissora, ela não é uma solução que atenderá todos os casos.

A deficiência de vitamina D pode ser tanto uma consequência de transtornos mentais, em razão de fatores como a pouca exposição à luz solar e má alimentação, quanto um fator que contribui para a gravidade e resistência ao tratamento dessas condições. Por isso, buscar manter bons níveis de vitamina D deve fazer parte de um cuidado integral com a saúde mental, aliado com a melhoria da dieta, a prática de atividades físicas e outras intervenções psicossociais.

Garantir níveis adequados de vitamina D por meio da exposição segura ao sol e utilizar suplementos quando necessário é um pilar valioso de apoio ao bem-estar mental. Ao tomar medidas proativas para cuidar de seu nível de vitamina D, você fortalece sua saúde mental e aumenta sua resistência contra diversos transtornos psiquiátricos.