📝RESUMO DA MATÉRIA
- A doença de Alzheimer afeta mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo o sono de má qualidade um fator de risco significativo.
- Ritmos circadianos desregulados são comuns em pacientes com Alzheimer e agravam o declínio cognitivo; quando seus níveis de melatonina estão equilibrados, você apoia a sincronização dos relógios internos do cérebro, o que melhora a função cerebral geral e a resiliência.
- Estudos clínicos mostram que a suplementação de melatonina melhora a função cognitiva em pacientes com Alzheimer, com a diminuição dos níveis de melatonina servindo como um indicador precoce da doença.
- A melatonina funciona como um poderoso antioxidante, auxilia na saúde do sistema imunológico e no sucesso reprodutivo, reduz a dor pós-operatória e tem propriedades anticancerígenas; ela também ajuda a manter a integridade da barreira hematoencefálica, uma defesa importante que impede a entrada de substâncias nocivas no cérebro.
- A produção natural de melatonina pode ser otimizada ao tomar sol pela manhã, minimizar a exposição à luz azul à noite, mantendo o quarto escuro, e reduzir o estresse antes de dormir.
🩺Por Dr. Mercola
A doença de Alzheimer é um desafio imenso, afetando mais de 50 milhões de pessoas no mundo todo e com previsão de ultrapassar 150 milhões até 2050. Se você ou alguém próximo está preocupado com o declínio cognitivo, entender as raízes do Alzheimer é crucial. Essa condição é caracterizada pelo acúmulo de placas de beta-amiloide (Aβ) e emaranhados neurofibrilares (ENFs) no cérebro, levando à perda neuronal e demência.
Embora a genética desempenhe um papel nisso, o estilo de vida e os fatores ambientais influenciam o risco de forma significativa. Dentre esses, os distúrbios do sono, como insônia e apneia do sono, destacam-se como fatores de risco modificáveis associados ao Alzheimer. O sono de má qualidade prejudica processos cerebrais essenciais, incluindo a depuração do Aβ.
Dormir mal não só contribui para o Alzheimer, mas o início da doença também piora a qualidade do sono. Ao priorizar hábitos de sono saudáveis, você apoia os mecanismos naturais de defesa do cérebro, reduzindo o risco de desenvolver a doença de Alzheimer.
Melatonina — Mais do que apenas um auxiliar do sono
A melatonina, um hormônio produzido pela glândula pineal, é bastante reconhecida por regular os ciclos do sono. Mas seus benefícios vão muito além de ajudar você a dormir. A melatonina é liberada na corrente sanguínea durante a noite, sinalizando ao seu corpo que é hora de descansar. Esse hormônio não influencia apenas os órgãos periféricos, mas também desempenha um papel vital no sistema nervoso central.
Além disso, se você quiser proteger a saúde do seu cérebro, a melatonina pode ser sua guardiã noturna. Ela interage com receptores específicos no cérebro, ativando vias que reduzem a produção de proteínas Aβ e combatem seus efeitos. A melatonina também ajuda a manter a integridade da barreira hematoencefálica, uma defesa importante que impede a entrada de substâncias nocivas no cérebro.
À medida que envelhecemos, a produção de melatonina diminui de forma natural, o que pode contribuir para o aumento do risco de Alzheimer. Ao suplementar com melatonina, você recupera alguns de seus efeitos protetores, melhorando tanto a qualidade do sono quanto a saúde cognitiva. Incorporar melatonina à sua rotina noturna pode ser um passo simples, mas poderoso, para proteger seu cérebro contra os danos do Alzheimer.
Efeitos antiamiloides e redutores de tau da melatonina
Há um debate sobre se a beta-amiloide é um sintoma do Alzheimer, e não uma causa, e se poderia ter um papel protetor no processo da doença. No entanto, quando você toma melatonina, ela reduz a produção de Aβ ao promover a via não amiloidogênica, o que previne a formação de placas.
Além disso, a melatonina não para por aí — ela também atua sobre as anomalias da proteína tau. As proteínas tau hiperfosforiladas formam emaranhados neurofibrilares, que comprometem a função neuronal e levam ao declínio cognitivo. Foi demonstrado que a melatonina inibe as enzimas responsáveis pela hiperfosforilação da tau, prevenindo assim a formação desses emaranhados.
Além disso, a melatonina aumenta a depuração de Aβ do cérebro, dando suporte aos astrócitos e melhorando a eficiência do sistema glinfático, a via de remoção de resíduos do cérebro. Essas ações duplas fazem da melatonina uma poderosa aliada na redução de danos relacionados ao Aβ e ao tau.
O impacto da melatonina nos ritmos circadianos e no cérebro
O relógio interno do seu corpo, ou ritmo circadiano, regula inúmeros processos fisiológicos, incluindo o sono, a liberação de hormônios e a regeneração celular. A melatonina é uma reguladora essencial desses ritmos, garantindo que as funções do seu corpo permaneçam sincronizadas com o ciclo dia-noite. Ritmos circadianos desregulados são comuns em pacientes com Alzheimer e agravam o declínio cognitivo.
Quando seus níveis de melatonina estão equilibrados, você auxilia na sincronização dos relógios internos do cérebro, o que melhora a função geral do cérebro e a resiliência. Ao fortalecer a barreira hematoencefálica (BHE), a melatonina também ajuda a proteger o cérebro de substâncias nocivas que podem desencadear inflamação e estresse oxidativo — ambos envolvidos na doença de Alzheimer.
Ao manter ritmos circadianos robustos, a melatonina ajuda a garantir que seu cérebro remova toxinas de forma eficaz e promova a saúde dos neurônios. Se você sofre com padrões de sono irregulares, a suplementação com melatonina pode ajudar a restaurar seu equilíbrio circadiano, fornecendo um escudo protetor para seu cérebro contra a desordem que pode levar à doença de Alzheimer.
Evidências clínicas e perspectivas futuras da melatonina na prevenção do Alzheimer
Estudos clínicos estão começando a validar os efeitos promissores da melatonina observados em modelos animais e culturas celulares. Pesquisas envolvendo idosos e pacientes com comprometimento cognitivo leve mostraram que a suplementação com melatonina pode melhorar as funções cognitivas e a qualidade do sono.
Por exemplo, uma meta-análise de 22 ensaios clínicos randomizados constatou que o tratamento com melatonina por um período de 6 a 12 meses estava associado a um melhor desempenho cognitivo em pacientes com Alzheimer.
Além disso, níveis fisiológicos mais elevados de melatonina têm sido associados a maiores volumes do hipocampo, uma região do cérebro importante para a memória e muitas vezes comprometida no Alzheimer. Estudos piloto também sugerem que a melatonina, combinada com a terapia de luz intensa, reduz comportamentos agitados e melhora o sono em pacientes com demência.
Níveis de melatonina como um indicador precoce da doença de Alzheimer
Uma pesquisa separada ressalta o papel fundamental da melatonina não apenas na regulação do sono, mas também na detecção precoce da doença de Alzheimer. Um estudo publicado no Journal of Pineal Research revelou que idosos que apresentam alterações neuropatológicas iniciais do Alzheimer já apresentam níveis bastante reduzidos de melatonina no líquido cefalorraquidiano.
Os resultados demonstraram uma clara correlação negativa entre os níveis de melatonina e a gravidade da neuropatologia do Alzheimer, em específico no córtex temporal — a região do cérebro onde a patologia do Alzheimer costuma começar.
Esse declínio ocorre antes mesmo do início dos sintomas clínicos, sugerindo que a diminuição de melatonina é um evento precoce na progressão do Alzheimer. Ao medir os níveis de melatonina no líquido cefalorraquidiano, os profissionais de saúde podem detectar o Alzheimer em um estágio em que as intervenções podem ser mais eficazes.
A glândula pineal — O principal regulador do seu cérebro
No centro da produção de melatonina fica a glândula pineal, um órgão pequeno, mas poderoso, situado no centro do seu cérebro. Chamada com frequência de “Sede da Alma” por René Descartes, a glândula pineal desempenha um papel fundamental na sincronização do relógio interno do corpo com o ambiente externo.
Ela recebe informações sobre o ciclo claro-escuro dos seus olhos e as traduz em secreção de melatonina. Durante a escuridão, seus pinealócitos (células especializadas dentro da glândula pineal) sintetizam e liberam melatonina, sinalizando ao seu corpo que é hora de relaxar e se preparar para dormir. Essa produção rítmica não apenas regula seus padrões de sono, mas também influencia diversos processos fisiológicos em todo o corpo.
À medida que você envelhece, sua glândula pineal pode se calcificar, reduzindo sua eficiência e produção de melatonina, o que pode contribuir para distúrbios do sono e maior vulnerabilidade a doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Entender o papel fundamental da glândula pineal destaca a importância de manter sua saúde por meio da exposição adequada à luz, minimizando a luz azul das telas durante a noite e considerando a suplementação de melatonina para apoiar suas funções naturais e proteger seu bem-estar cognitivo.
Dito isto, embora a melatonina seja muitas vezes descrita como um hormônio pineal, apenas 5% da melatonina do seu corpo — que também é um potente agente anticancerígeno — é produzida na glândula pineal. Os outros 95% são produzidos dentro de suas mitocôndrias – desde que você tenha uma exposição adequada ao sol, que está envolvida na produção de melatonina.
Benefícios multifacetados da melatonina além do sono
Os benefícios da melatonina vão muito além de ajudar você a dormir à noite. Esse hormônio versátil atua como um poderoso antioxidante e auxilia o sistema imunológico, a saúde reprodutiva e até mesmo o metabolismo energético. Por exemplo, a melatonina influencia a sensibilidade à insulina e a homeostase da glicose, desempenhando um papel na prevenção do diabetes tipo 2.
Uma revisão abrangente de meta-análises publicada na Pharmacological Research também revelou que a suplementação de melatonina melhora de forma significativa as taxas de gravidez em mulheres submetidas à tecnologia de reprodução assistida (TRA). Esse aumento é atribuído ao papel da melatonina em melhorar a qualidade dos embriões.
Ao atuar como um poderoso antioxidante, a melatonina reduz o estresse oxidativo no ambiente reprodutivo, promovendo óvulos e espermatozoides mais saudáveis. Além disso, a melatonina auxilia no equilíbrio hormonal, necessário para o sucesso da implantação e a manutenção da gravidez.
A revisão também revelou que pacientes perioperatórios que receberam melatonina necessitaram de uma quantidade bem menor de analgésicos. Esse benefício no alívio da dor é atribuído às propriedades anti-inflamatórias e analgésicas da melatonina, que ajudam a reduzir a percepção da dor e a diminuir a necessidade de medicamentos adicionais para o controle da dor.
Além disso, as propriedades que fortalecem o sistema imunológico da melatonina aumentam a capacidade do corpo de combater o câncer, ao mesmo tempo em que reduzem a inflamação e a fadiga. A melatonina também pode aumentar a eficácia das terapias contra o câncer ao inibir o crescimento do tumor e promover a apoptose das células cancerígenas.
A melatonina é um fator-chave na redução de danos celulares
Como mencionado, a melatonina atua como um potente antioxidante, protegendo suas células dos efeitos nocivos do estresse oxidativo. Uma revisão sistemática e meta-análise investigaram o impacto da melatonina no estresse oxidativo e encontraram evidências contundentes que comprovam suas propriedades antioxidantes.
A análise de 15 ensaios clínicos randomizados revelou que a suplementação de melatonina aumentou bastante a capacidade antioxidante total e, ao mesmo tempo, reduziu marcadores de dano oxidativo, como a proteína carbonilada (PCO) e o malondialdeído (MDA). Essas descobertas sugerem que a melatonina não apenas melhora a capacidade do corpo de combater o estresse oxidativo, mas também atenua diretamente os subprodutos nocivos da atividade dos radicais livres.
Reduzir os níveis de proteína carbonilada significa diminuir a oxidação de proteínas, o que é vital para manter a função das enzimas e a integridade celular. Da mesma forma, reduzir os níveis de malondialdeído ajuda a prevenir a peroxidação lipídica, protegendo as membranas celulares da deterioração.
Como otimizar sua produção de melatonina
Embora certas condições de saúde possam se beneficiar da suplementação de melatonina, tenha em mente que ela também ajuda a otimizar a produção natural do seu corpo. Além disso, a melatonina tem um alto perfil de segurança, mas o uso prolongado de altas doses de melatonina pode ser arriscado, pois doses acima de 5 mg a 10 mg podem extrair metais pesados, como o mercúrio, do seu corpo.
A menos que você esteja seguindo um bom programa de desintoxicação e usando sauna de forma regular, esses metais pesados podem causar danos biológicos. A otimização natural da produção de melatonina começa com a garantia de que você recebe luz solar suficiente durante o dia, pois isso ajuda a regular o seu ritmo circadiano.
Tente tomar sol pelo menos 15 minutos de manhã para ajudar a controlar os níveis de melatonina, reduzindo-os para níveis adequados durante o dia. Isso ajudará você a ficar alerta durante o dia e melhorar sua qualidade de sono à noite.
À medida que a noite se aproxima e o sol se põe, é importante minimizar a exposição à luz artificial. A luz azul de dispositivos eletrônicos e luzes LED é prejudicial pois suprime a produção de melatonina. Se você precisar usar luzes à noite, opte por lâmpadas incandescentes, velas ou luminárias de sal.
Para neutralizar a luz azul emitida pelas telas, considere usar um software bloqueador de luz azul ou usar um óculos com filtro de luz azul. Além disso, certifique-se de que seu quarto esteja completamente escuro quando você dormir, pois até mesmo a luz que passa pelas pálpebras fechadas reduz os níveis de melatonina. Se o seu quarto não estiver escuro na hora de dormir, considere usar uma máscara para dormir ou instalar cortinas blackout.
Praticar atividades para aliviar o estresse, como alongamento ou meditação antes de dormir, também pode ser benéfico. Isso ocorre porque a liberação de melatonina depende do hormônio noradrenalina. Altos níveis de estresse, que aumentam a produção de cortisol, inibem a liberação de noradrenalina e, por consequência, de melatonina. Portanto, além de praticar técnicas de redução de estresse, tente evitar atividades estressantes — como projetos relacionados ao trabalho — à noite.
Fonte: mercola