Mesmo que nunca tenha entrado em uma briga, você provavelmente já assistiu a alguma cena de filme em que, depois de desferir muitos socos, os punhos de um personagem ficam sangrando.
Nem todas as espécies sofrem com esse desgaste. É o caso da lacraia-do-mar, também conhecida como tamarutaca, dona do soco mais rápido do reino animal. Seus golpes são mais rápidos que um piscar de olhos, e ela sai intacta da pancadaria.
“Esse crustáceo nativo de águas oceânicas rasas subtropicais desfere golpes a 80 km/h, o suficiente para quebrar conchas duras como se fossem biscoitos.”
Ainda mais impressionante é que esse animal faz isso sem que suas “armas” se danifiquem, graças à estrutura incrível de seus dactyl clubs. Dactyl vem de dáctilo, estruturas como dedos, garras ou apêndices em geral. Já club é “clave” ou “porrete” em inglês.
Apesar de não terem um nome oficial em português, podemos imaginar os dactyl clubs como “garras-porrete”: uma estrutura feita para socar.
No vídeo abaixo é possível assistir o momento em que a lacraia-do-mar dá um golpe em um caranguejo, arrancando dele uma pata de uma vez só. Não tem problema se você não enxergar o soco de primeira: ele é repetido em câmera lenta logo depois.
Segundo um estudo publicado na última quinta-feira (6) na Science, o segredo está em um design naturalmente engenhoso: as garras são compostas por camadas de fibras de quitina (um polímero natural) organizadas em algo chamado “estrutura de Bouligand”.
Trata-se de uma espécie de amortecedor que atenua o impacto dos golpes, evitando que o camarão se machuque enquanto faz estrago nos outros.
Ainda em 2015, pesquisadores já haviam sugerido que é essa estrutura incomum que confere a propriedade de absorção de choques. É como se essa camada do exoesqueleto fosse um filtro capaz de captar as ondas de choque de frequência mais alta, que são as mais perigosas e concentram sua energia em rajadas de apenas nanossegundos.
“Se a energia se concentra em uma escala de tempo curta, ela é mais destrutiva”, diz diz o coautor do estudo, Maroun Abi Ghanem, em entrevista à Nature. “Essa energia mecânica deve ser absorvida de alguma forma, para que não atinja o camarão e o prejudique.”
No estudo, a equipe queria testar as capacidades de absorção do exoesqueleto da lacraia-do-mar. Eles apontaram ondas de laser de alta frequência em uma amostra do exoesqueleto que reveste os porretes e utilizaram outro laser para medir como essas ondas ficam presas em sua camada intermediária. O experimento comprovou a hipótese anterior.
Os pesquisadores não são biólogos, mas engenheiros, que acreditam que o estudo dessa estrutura pode revolucionar a fabricação de implantes cirúrgicos ou filtros mecânicos para aparelhos eletrônicos.
Fonte: abril