Ela Ă© pequena e discreta, mas nĂŁo se engane: possui o maior genoma do mundo.
Cientistas do Institut BotĂ nic de Barcelona, na Espanha, e do Jardim BotĂąnico Real de Kew, no Reino Unido, descreveram o ser vivo que carrega o recorde do maior genoma jĂĄ encontrado em todo o mundo: uma pequena planta do tipo samambaia, chamada Tmesipteris oblanceolata. O artigo descrevendo o achado foi publicado na revista iScience.
As células da Tmesipteris oblanceolata carregam chocantes 160 bilhÔes de pares de base, os bloquinhos que constroem as fitas de DNA. Isso é 7% mais do que o genoma que até então era considerado o maior: o da planta japonesa Paris japonica, que carregava o recorde desde 2010 com seus 150 bilhÔes de pares de bases. Saindo das plantas, o animal com maior genoma conhecido é o Protopterus aethiopicus, um peixe pulmonado africano, com 133 bilhÔes de pares de base.
Em termos de comparação, o genoma humano tem âsĂłâ 3 bilhĂ”es de pares de base, ou seja, a samambaia recordista tem um genoma 53 vezes maior que o nosso. Se todo esse DNA da planta fosse esticado, a fita resultante passaria dos 100 metros de comprimento.
A Tmesipteris oblanceolata Ă© encontrada na Nova CaledĂŽnia, um conjunto de ilhas no meio do Oceano PacĂfico que pertence Ă França, e em ilhas vizinhas como Vanuatu. A plantinha, que mede sĂł 15 cm no mĂĄximo, faz parte de um gĂȘnero de samambaias raro e pouco estudado atĂ© entĂŁo.
Pesquisas anteriores jĂĄ indicavam, porĂ©m, que ela poderia estar entre o seleto grupo de plantas que possuem genomas gigantes. Os pesquisadores â que em 2010 jĂĄ haviam identificado a recordista anterior, Paris japonica â decidiram olhar de perto e confirmaram essa suspeita.
Eles coletaram cĂ©lulas das folhas da samambaia e isolaram seus nĂșcleos em laboratĂłrio â Ă© lĂĄ que fica o genoma. Os pesquisadores entĂŁo recorreram a um mĂ©todo que envolve usar uma tinta florescente que se liga ao DNA analisado e brilha. Assim, conseguiram comparar o brilho resultante da Tmesipteris oblanceolata com o de vĂĄrias outras espĂ©cies de plantas que possuem genoma pequeno, e, analisando essa diferença, calcularam o tamanho da recordista.
Os pesquisadores se impressionaram com os resultados. Desde 2010, quando eles tinham encontrado a recordista anterior, tentavam quebrar o prĂłprio recorde sem sucesso, o que indica que, possivelmente, a Tmesipteris oblanceolata estĂĄ prĂłxima do limite mĂĄximo de genomas mundo afora.
Seres vivos com genomas tĂŁo grandes ainda sĂŁo um mistĂ©rio para a ciĂȘncia. Genomas sĂŁo, em resumo, como livros de receita que as cĂ©lulas usam para produzir proteĂnas. Mas, em qualquer genoma (pequeno ou grande), a maior parte da sequĂȘncia de pares de base nĂŁo codifica nenhuma proteĂna (leia mais aqui).
NĂŁo se sabe por que exatamente algumas espĂ©cies possuem tanto DNA assim â possivelmente, o tamanho do genoma nĂŁo causa nenhuma vantagem ou desvantagem evolutiva para elas, entĂŁo sĂł continua assim ao longo dos milĂȘnios.
O que Ă© certo, e vocĂȘ jĂĄ deve ter notado, Ă© que o tamanho do genoma de uma espĂ©cie nĂŁo tem nada a ver com o tamanho do ser vivo ou com sua complexidade.
Para tentar entender o mistĂ©rio dos DNAzĂ”es, o ideal seria sequenciar todo esse material genĂ©tico e analisĂĄ-lo com calma. Mas a ciĂȘncia ainda nĂŁo tem um mĂ©todo que faça isso com facilidade para um genoma tĂŁo grande. AtĂ© hoje, o maior genoma animal jĂĄ sequenciado pertence ao do peixe-pulmonado-australiano, com 43 bilhĂ”es de pares de bases (a planta, vale lembrar, tem 160 bi). Analisar os genes dele foi importante para entendermos como foi a origem dos animais terrestres, como explicamos aqui.
Fonte: abril