O megalodonte (Otodus megalodon) foi um tubarão pré-histórico gigante e um dos maiores predadores que já habitaram os mares –um estudo recente estima que esses temíveis caçadores podiam chegar até 24 metros de comprimento. Para manter um grandalhão desses bem alimentado, ele precisava de uma quantia considerável de comida: cerca de 100 mil calorias ingeridas por dia, 50 vezes mais que um humano adulto.
Agora, um grupo internacional de cientistas se uniu para entender qual era a dieta do tubarão gigante extinto há 3,6 milhões de anos. Antes deste novo estudo, o consenso entre os pesquisadores era que esses predadores basicamente caçavam baleias e outros grandes mamíferos marinhos sempre que precisavam fazer uma boquinha.
Mas uma análise dos fósseis de dentes sugere que os megalodontes aproveitavam todas as oportunidades para comer, fazendo vários lanchinhos em vez de focar em grandes banquetes.
Quando tinha a oportunidade, o megalodonte comia presas grandes com prazer, claro. Mas seu menu diário era flexível, e ele podia se manter tanto com vários animais menores quanto com um animal enorme. O tubarão pré-histórico também podia beliscar comidinhas durante o dia para não passar fome, como sugere um estudo publicado no periódico Earth and Planetary Science Letters.
Esses hábitos alimentares também variavam de acordo com a região em que os megalodontes viviam. Os predadores gostavam de culinária local: o que quer que estivesse passeando pelas mesmas águas que eles entrava em seu cardápio.
Os megalodontes eram os predadores dominantes dos mares, o que significava que dificilmente virariam presa de algum outro carnívoro.
Dentes do tamanho de uma mão
Esses hábitos alimentares variados foram descobertos analisando os minerais encontrados nos fósseis de dentes de megalodontes (nome que, aliás, significa “dente gigante”), revelando uma dieta rica e diversa. Esses dentes tinham cerca de 18 centímetros de comprimento – o tamanho de uma mão humana – e eram serrilhados, prontos para destruir qualquer presa com uma única mordida letal.
A análise geoquímica desses dentões foi comparada com outras dentaduras da mesma época e de predadores marinhos modernos, como tubarões e golfinhos. Eles focaram em encontrar traços de zinco, um mineral que só é adquirido pela comida. Os isótopos de zinco encontrados nos dentes ajudaram a entender os tipos de animais que os megalodontes comiam.
A proporção entre dois desses isótopos foi a chave para entender a dieta megalodôntica. Os dentes dos megalodontes apresentam menos zinco-66 em relação ao zinco-64 — e essa diferença revela o tipo de alimento que consumiam, já que a proporção desses isótopos muda conforme os níveis da cadeia alimentar. A distância entre eles só cresce quando os animais comidos se distanciam dos níveis mais baixos da cadeia alimentar. Quanto mais alto na cadeia alimentar, menos zinco-66 é transferido de um peixe para o outro, e dá para ver isso nos dentes.
Eles reconstruíram uma estrutura de cadeia alimentar com base nesses dados de zinco-66. O megalodonte estava no topo da lista, mas com uma proporção de isótopos de zinco não tão diferente dos outros predadores do mar. Isso indica que eles não se alimentavam só de animais no topo da cadeia alimentar, mas também de peixes das camadas de baixo.
Os cientistas também descobriram que os megalodontes dividiam o topo da cadeia alimentar com outros “supercarnívoros oportunistas”, como foram apelidados. Essa descoberta mostra que eles não eram os reis absolutos do oceano, mas que dividiam os mares com outros gigantes.
As descobertas sobre a dieta dos megalodontes combinam com a hipótese de que esses predadores pré-históricos foram extintos em parte por causa da ascensão dos tubarões-brancos. Os Carcharodon carcharias são menores, mas mais ágeis, e têm hábitos alimentares parecidos com os megalodontes. A agilidade pode ter servido como diferencial evolutivo para os atuais maiores predadores do mar, que podem chegar a quase 6 metros.
Fonte: abril