Se você oferecer uma maçã a um elefante, é provável que ele peça mais. E não será com um barulho ou um empurrão. O gesto escolhido pelo comilão pode simplesmente ser um apontar de tromba.
Essa é uma das 38 estratégias gestuais que os elefantes usam para se comunicar com humanos, segundo um novo estudo publicado na Royal Society Open Science.
A pesquisa, conduzida por cientistas na Universidade de Viena e realizada com elefantes no Zimbábue, coloca esses gigantes gentis no centro de uma questão há muito debatida na biologia: os animais não humanos podem usar gestos intencionais para influenciar o comportamento de outros, da mesma forma que nós fazemos?
Vesta Eleuteri, autora principal do estudo, explica que os gestos humanos funcionam mais ou menos assim: “Primeiro, verifico se você está olhando para mim. Se estiver olhando, posso apontar para a garrafa. Após esse sinal, espero sua reação. Se não reagir, eu insisto. Posso estender a mão para a garrafa, posso acenar para ela. Assim que você me der a garrafa, paro de gesticular”, disse ao The New York Times.
Foi exatamente essa estrutura de comunicação, feita em etapas e com clareza da intenção, que os pesquisadores buscaram nos elefantes. Para essa identificação, criaram um teste em que ofereciam aos animais duas bandejas: uma com seis maçãs e outra vazia. Quando ninguém os observava, os elefantes se mantinham quietos. Mas, ao perceberem que os humanos estavam atentos, eles começavam a agir.
Um dos elefantes estudados, Moka, balançava a tromba na direção das frutas ou do cuidador. Em outro momento, esticava a tromba como se pedisse: “Me dá mais uma.” E, se ganhava só três das seis maçãs disponíveis, o gesto se repetia até que a mensagem fosse compreendida e o desejo realizado – ou seja, para os cientistas isso significa que há intenção por trás dos movimentos.
No entanto, o estudo ressalta que quando os experimentadores ofereciam apenas a bandeja vazia, os elefantes não aumentavam a frequência dos gestos como acontece em estudos feitos com grandes primatas. Em vez disso, muitas vezes se calavam. Isso pode indicar que os elefantes não atribuíam intenção ao ato humano de negar-lhes a comida — ou, quem sabe, estavam apenas sendo educados.
“Esses elefantes vivem soltos em áreas turísticas durante o dia, mas ficam em um recinto fechado à noite. E foram treinados para não pedir comida”, diz a pesquisadora para o jornal americano. “Talvez estivessem pensando: ‘Será que não posso pedir essas maçãs?’”
Ao todo, os pesquisadores identificaram 38 gestos diferentes usados nesse tipo de interação. Os resultados trazem mais uma peça para o quebra-cabeça da evolução da linguagem. Se chimpanzés e elefantes — animais tão distintos em aparência e linhagem evolutiva — compartilham capacidades gestuais, isso pode indicar que a habilidade surgiu mais de uma vez na árvore genealógica da vida.
Para Eleuteri, o próximo passo é observar os elefantes em interações com outros elefantes, em ambientes completamente selvagens. Ela já está analisando gravações de elefantes em contextos sociais, tentando entender como influenciam uns aos outros por meio de movimentos corporais.
Fonte: abril