Não é tão comum parar para pensar o que acontece com os nossos dejetos depois que a gente se despede deles na privada. Porém, junto com o xixi e as fezes, vão para o cano uma série de substâncias – como o resíduo de medicamentos que ingerimos.
Na maioria das vezes, o tratamento de esgoto não consegue remover os resíduos químicos de remédios para ansiedade, depressão e antibióticos. Eles correm para os rios – e podem chegar até no mar. Um novo estudo publicado na Science avaliou a consequência que esses medicamentos causam para salmões que entram em contato com o clobazam, um ansiolítico comumente encontrado na água.
Uma equipe de cientistas analisou as comunidades de salmão comum (Salmo salar) que vivem no rio Dal, na Suécia, e descobriu que “até mesmo pequenos traços de drogas no ambiente podem alterar o comportamento animal de maneiras que podem moldar sua sobrevivência e sucesso na natureza”, escrevem os autores da pesquisa, para o site The Conversation .
Hoje em dia, são encontrados restos de remédios em todos os oceanos do mundo. O problema é que os mesmos alvos biológicos dos medicamentos nos humanos também estão presentes em animais. Ou seja, podem influenciar o funcionamento neural dos bichinhos. Nos últimos anos, os poluentes farmacêuticos foram registrados afetando a fisiologia, migração, desenvolvimento e reprodução.
Para analisar como os salmões são afetados, a equipe de cientistas acoplou aos peixes um implante que liberava clobazam, junto a transmissores de rastreamento, para acompanhar o trajeto dos animais do rio para o mar. Os resultados do experimento mostraram que a presença do medicamento aumentou a chance de sobrevivência dos peixes e que eles chegavam ao mar Báltico mais rapidamente quando estavam sob influência.
Porém, por mais que completar a migração mais rapidamente pareça um bom resultado, na verdade não é. A mudança de padrão pode afetar o ecossistema inteiro. Por exemplo: a chegada antecipada ao mar pode fazer com que os peixes encontrem mais predadores, ou uma água imprópria para a espécie. Além disso, os animais que dependem dos salmões para sobreviver podem perder a janela de alimentação.
Como solução, os autores dizem que “não há uma resposta única, mas ao avançar e integrar ciência, tecnologia e política, podemos ajudar a proteger a vida selvagem dos efeitos indesejados da poluição farmacêutica”. Porém, deixam como sugestão uma atualização dos sistemas de filtragem, uma produção mais ecológica de medicamentos, com opções que se tornem menos tóxicas depois do uso e uma maior regulação de descarte.
Fonte: abril