Em 1949, uma mandíbula misteriosa despontou em uma caverna do sítio arqueológico de Swartkrans, na África do Sul. A peça, que ganhou o código SK 15, claramente pertencia a algum parente próximo e extinto do Homo sapiens. Na época, não foi possível identificar qual.
Agora, um grupo de pesquisadores propõe que o osso veio de uma espécie diferente e, até então, desconhecida: o Paranthropus capensis. O artigo foi publicado no periódico especializado Journal of Human Evolution, sob liderança do paleoantropólogo Clément Zanolli da Universidade de Bordeaux, na França.
As espécies do gênero Paranthropus têm o apelido de “quebra-nozes” entre alguns cientistas por causa de suas mandíbulas enormes e molares gigantes. A nova espécie, porém, não faz juz à alcunha, já que seu queixo e seus dentes não eram assim tão avantajados.
Antes de descobrirem o novo membro da família, os cientistas conheciam três espécies do gênero Paranthropus: P. aethiopicus, P. boisei e P. robustus. Toda essa galera viveu entre 2,7 milhões de anos e 1 milhão de anos atrás, quando o gênero foi extinto.
Há 1,4 milhões de anos, os Paranthropus capensis eram só uma das muitas espécies de hominídeos andando pela África – mas os Homo sapiens não chegaram a conviver com eles. O gênero Homo surgiu há cerca de 2,8 milhões de anos, mas nossa espécie tem “só” 300 mil anos.
Duas espécies coexistindo
Quando os cientistas encontraram a mandíbula pela primeira vez, imaginaram que ela fizesse parte de uma espécie que nunca haviam visto, que chamaram de Telanthropus capensis. Estavam certos no caráter inédito do fóssil, mas não no gênero que inventaram para ele.
A partir da década de 1960, os pesquisadores começaram a achar que a mandíbula era de um Homo ergaster, uma das primeiras espécies do gênero Homo e uma parente muito próxima dos famosos Homo erectus.
Agora, com exames de raio-x no fóssil SK 15, cientistas conseguiram criar modelos virtuais 3D dos espécimes, e perceberam que aquelas estruturas não pertenciam a um Homo ergaster, muito menos a um gênero inédito inventado quando a mandíbula foi descoberta.
O que eles tinham em mãos parecia ser uma espécie nova – mesmo que bem antiga – de Paranthropus. É a primeira vez desde a década de 1970 que se identifica uma espécie inédita nesse gênero.
A mandíbula até se parece com a de um Homo ergaster, mas é muito mais grossa que o padrão do gênero Homo. Os dentes molares também ajudaram a fazer a diferenciação: enquanto o P. capensis tem molares longos e retangulares, o H. ergaster tem dentes bem redondos.
Essa descoberta significa que duas espécies diferentes de Paranthropus coexistiram e provavelmente foram vizinhas na África do Sul há 1,4 milhões de anos.
Os P. robustus e P. capensis provavelmente ocupavam nichos ecológicos diferentes pelo que se sabe de suas mandíbulas: enormes no caso dos robustos Paranthropus e menores no caso da espécie inédita, que provavelmente tinha uma dieta mais variada e delicada.
Fonte: abril