Em julho de 2023, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) lançou um novo telescópio para o espaço: Euclid (ou Euclides, em homenagem ao famoso matemático grego). A engenhoca tinha um rumo: o ponto de Lagrange Sol-Terra 2, a 1,5 milhões de km daqui (pontos de Lagrange são lugares no Sistema Solar onde as atrações gravitacionais do Sol e da Terra se anulam; objetos ali conseguem ficar “estacionados”).
O objetivo inicial do Euclides era contribuir em estudos sobre a energia e matéria escuras. Porém, com apenas uma semana de funcionamento, ele já se provou capaz de ir além.
Nesse primeiro período de observação, o Euclides vasculhou três áreas do céu, reportou 26 milhões de galáxias (uma delas a 10,5 bilhões de anos-luz de distância, diga-se) e catalogou com precisão 380 mil delas.
“Nos próximos anos, Euclides passará por essas três regiões dezenas de vezes, capturando muito mais galáxias distantes, tornando esses campos de estudo verdadeiramente ‘profundos’ até o final da missão, em 2030″, escreveu a ESA.
O Euclides mede a variedade de formatos e a distribuição das bilhões de galáxias. Ele reporta imagens com alta resolução e precisão de volta para cientistas aqui na Terra. Assim, é possível definir as distâncias e massas dessas grandes estruturas.
Em outubro de 2024, a ESA divulgou uma “pequena” prévia das imagens captadas pelo Euclides: um mapa do céu de 208 gigapixels – e que representa apenas 1% do trabalho final do telescópio. Você pode ler mais sobre neste texto da Super.
Nesta semana, a ESA compartilhou o que eles consideram, de fato, o primeiro grande pacote de dados obtidos com o Euclides. Segundo a agência, as informações correspondem a uma área de 63 graus quadrados do céu -–algo como a cobertura de 300 luas cheias. O atlas completo deve cobrir um terço do céu, 14 mil graus quadrados.
Já sobre as informações da matéria escura e energia escura, o telescópio precisará de mais tempo. “O potencial total do Euclides para aprender mais sobre a matéria escura e a energia escura da estrutura em larga escala da teia cósmica será alcançado somente quando ele tiver completado todo o seu levantamento”, disse em comunicado Clotilde Laigle, cientista do Consórcio Euclides e especialista em processamento de dados com sede no Instituto de Astrofísica de Paris.
Mesmo assim, a divulgação “já nos oferece um primeiro olhar único sobre a organização em larga escala das galáxias, que podemos usar para aprender mais sobre a formação delas ao longo do tempo”, completa Laigle.
Nas imagens recebidas, já foi possível identificar 500 eventos onde a deformação do espaço-tempo é visível. Isso porque, quando uma galáxia de fundo é ampliada por lentes, ela geralmente aparece como um arco brilhante ao redor da borda da galáxia em primeiro plano. É a medição desses arcos brilhantes que podem revelar quanta matéria escura se esconde ao redor de uma galáxia.
No final dos seis anos, mais de 1.5 bilhão de imagens de galáxias devem ser capturadas e cerca de 100 gigabytes são esperados por dia. Os dados, então, serão processados em ferramentas de inteligência artificial, que catalogam as galáxias. Nesta semana, surgiu o primeiro catálogo detalhado de mais de 380.000 delas, classificadas de acordo com características como braços espirais, barras centrais e caudas de maré.
“Estamos construindo as ferramentas e também fornecendo as medições. Dessa forma, podemos entregar ciência de ponta em questão de semanas, em comparação com o processo de anos de análise de grandes pesquisas como essas no passado”, disse Mike Walmsley, cientista do Consórcio Euclides da Universidade de Toronto, Canadá.
Fonte: abril