A promessa seria de entregar conteúdo útil


O Discover foi criado com a promessa de entregar conteúdo útil, confiável e relevante com base nos hábitos de navegação de cada usuário. Contudo, na prática, o que temos visto é o oposto. Sites recém-criados — muitos deles com registros anônimos e zero histórico editorial — têm figurado entre os principais resultados do feed.
Como eles conseguem isso? Simples: exploram brechas do algoritmo. Usam títulos apelativos, imagens sensuais, palavras-chave enganosas e um formato que simula conteúdo jornalístico. O objetivo é um só: enganar o sistema de indexação e viralizar no Discover.
É comum encontrar matérias que, na verdade, escondem links para jogos de azar, salas de apostas ilegais ou conteúdos pornográficos. E, pior: ao clicar, o usuário é levado para páginas que instalam cookies, rastreadores e até arquivos potencialmente perigosos.
Invasão silenciosa: links maliciosos em sites públicos


Um fenômeno ainda mais alarmante está em curso: sites de órgãos públicos estão sendo utilizados como hospedeiros para páginas maliciosas. Em muitos casos, esses links são colocados em subdiretórios ou dentro de arquivos antigos e abandonados em servidores governamentais, sem qualquer supervisão técnica.
Isso cria um efeito duplo: por um lado, o link carrega a autoridade de um domínio confiável, como um site oficial de uma secretaria ou prefeitura; por outro, o Google interpreta esse link como “seguro” e o impulsiona no Discover, sem sequer identificar o conteúdo malicioso embutido.
O resultado? Milhões de pessoas acessando páginas que não têm qualquer valor informativo — apenas manipulação, sensacionalismo e riscos reais à sua segurança digital.
Sites de qualidade estão sendo sufocados
Enquanto os sites maliciosos nadam de braçada, veículos legítimos e especializados relatam quedas drásticas no alcance orgânico dentro do Discover. Plataformas com redação profissional, SEO técnico, boas práticas editoriais e histórico de credibilidade simplesmente sumiram do radar do algoritmo.
Isso não é apenas frustrante para quem produz conteúdo sério — é também um golpe no próprio usuário, que passa a receber menos conteúdo confiável e mais estímulos tóxicos. A curadoria do Discover, que deveria valorizar a qualidade, tem se mostrado vulnerável a quem sabe manipular seu sistema.
Google se cala diante do problema
Apesar de diversas denúncias feitas por profissionais de SEO, jornalistas e usuários comuns nas redes sociais, o Google tem ignorado sistematicamente os sinais de que há algo errado com a curadoria do Discover. Não há uma política transparente sobre quais critérios reais definem o destaque de um conteúdo no feed — nem há explicações sobre como páginas recém-criadas com spam conseguem posições privilegiadas.
Em vez de priorizar veículos confiáveis e especializados, o sistema privilegia quem joga mais sujo. O silêncio da empresa diante dessa crise é, no mínimo, preocupante. Afinal, estamos falando da principal empresa de tecnologia do planeta, que diz prezar por “organizar as informações do mundo e torná-las acessíveis e úteis”.
Impactos diretos na sociedade e no jornalismo
Quando o Discover prioriza conteúdos de baixa qualidade, sensacionalistas ou maliciosos, há um impacto direto no ecossistema da informação. Veículos sérios perdem audiência, receita e relevância — enquanto golpistas prosperam. Isso compromete a confiança do usuário e contribui para a disseminação de desinformação, práticas ilegais e vícios digitais.
Além disso, o incentivo indireto à pornografia disfarçada, jogos ilegais e outras práticas questionáveis mina o propósito educacional, social e informativo que a internet deveria ter. Em vez de empoderar o usuário, o sistema o afunda em um looping de estímulos vazios.
É preciso responsabilização — e reação
O Discover não é apenas um espelho do comportamento do usuário. É também uma ferramenta ativa de construção de percepção. O que é mostrado, o que é ocultado, o que é priorizado… tudo isso afeta o que pensamos, acreditamos e consumimos.
O Google precisa urgentemente rever os critérios de curadoria do Discover. Precisa ser mais transparente sobre os filtros aplicados, abrir canais eficazes para denúncias e implementar barreiras técnicas contra sites maliciosos — especialmente aqueles que usam domínios públicos para mascarar golpes.
Se não o fizer, corre o risco de transformar seu próprio ecossistema em um ambiente tóxico, onde o conteúdo sério morre afogado em cliques fáceis.
O que vale mais, o clique ou a confiança?
A promessa do Google sempre foi a de tornar a informação acessível e útil. Mas quando a principal ferramenta de descoberta da empresa — o Discover — prioriza jogos de azar, pornografia disfarçada e páginas duvidosas, o que está sendo promovido não é conhecimento, mas ruído.
Ainda há tempo para mudar. O Google tem recursos, tecnologia e responsabilidade para fazer melhor. Mas enquanto isso não acontece, cabe a nós, usuários e produtores de conteúdo, exigir transparência, segurança e responsabilidade. A informação é um direito — não uma moeda de troca para o algoritmo mais esperto.
Fonte: cenariomt