Quando criaturas abissais saem lá do fundão dos oceanos e fazem uma rara visita à superfície, as manchetes costumam ser sempre as mesmas: variações adjetivadas para carinhosamente descrever o peixe como horrível, assustador e bizarro.
Foi só recentemente que tudo começou a mudar, e estes peixes feiosos ganharam espaço no coração dos espectadores. O peixe diabo-negro, por exemplo, fez uma legião de apaixonados no começo deste ano. Já o peixe-bolha, uma vez o “mais feio do mundo”, virou o “peixe do ano” na Nova Zelândia.
A questão é que ser feio é também sobreviver: um corpo gelatinoso suporta uma pressão que esmagaria um submarino comum e é uma adaptação essencial para quem vive abaixo dos três mil metros de profundidade; características bioluminescentes para guiá-los no breu, nem se fala; e um aspecto transparente para camuflagem na escuridão total é garantir a chegada do dia seguinte.
No entanto, um pequeno peixe rosado fez uma viagem improvável até o topo e, surpreendentemente, continuou fofo.
O bumpy snailfish — ou peixe-caracol-rugoso — não é o monstro marinho das lendas, mas sim uma criatura de aparência delicada.
“É adorável”, disse Mackenzie Gerringer, bióloga marinha da State University of New York em Geneseo, para o The New York Times. Para ela, o peixe é a antítese da imagem sombria que associamos às profundezas.
Descoberto na costa da Califórnia, o animal veio à tona durante uma expedição científica liderada pelo Monterey Bay Aquarium Research Institute. Com corpo gelatinoso, cabeça arredondada e uma coloração rosada, o peixe é uma adaptação para suportar pressões de mais de cem megapascais (mais de mil vezes a pressão de 1 atm, que é sentida a nível do mar) e temperaturas mais frias que a de um refrigerador doméstico — tudo isso sempre com um sorrisão na cara.
Gerringer chama os animais de “belos e interessantes” e se surpreende com as aparências delicadas vindas de um bicho que vive em um ambiente extremamente hostil. São “adaptações realmente emocionantes” disse ao jornal americano.
Os cientistas descreveram não apenas esse espécime, mas três novas espécies de peixes-caracol. Esses animais vivem desde poças de maré até os pontos mais abissais do planeta. Muitas das espécies foram descobertas apenas nas últimas duas décadas, caracterizadas por seus corpos sem escamas e por um disco na barriga que os ajuda a se fixarem em rochas ou peixes maiores.
O recordista, o snailfish da Fossa das Marianas, sobrevive a 8 mil metros de profundidade. A descoberta foi publicada na revista Ichthyology & Herpetology.
Fonte: abril