Uma estrutura geológica com 1,5 km de extensão e 300 metros de profundidade, no distrito de Ubatumirim, em Ubatuba (SP), pode se tornar a nona cratera de impacto oficialmente reconhecida no Brasil. O material foi obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Identificada por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a formação apresenta características compatíveis com o impacto de um asteroide metálico ocorrido há cerca de 30 mil anos.
A depressão chama atenção pelo formato quadrado, incomum entre crateras, e pela localização em mata preservada, às margens da Rodovia Governador Mário Covas (SP-055).
O geólogo e pesquisador aposentado Paulo Roberto Martini, que lidera os estudos, afirmou que a estrutura é “totalmente diferente do padrão geológico da região” e a considera “parente da cratera de Parelheiros”, na capital paulista, embora esta seja circular.
“A hipótese mais provável é do impacto de um asteroide mais metálico do que rochoso”, explicou. “Para comprovar, precisamos encontrar amostras de minerais como irídio, um mineral extraterrestre que é abundante nos meteoros.”

Martini busca financiamento e parcerias para aprofundar a pesquisa. Ele pretende investigar o leito do Rio Puruba, que nasce na cratera e deságua no Atlântico, em busca de vestígios minerais — como o irídio, típico de meteoros — que possam comprovar a origem extraterrestre da formação.
“É mais prático do que perfurar 300 metros de sedimento”, declarou o pesquisador. Como a área está dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, há restrições ambientais.
Segundo Martini, o formato quadrado reforça a hipótese de que o corpo celeste era metálico, pois esses mantêm a forma ao atravessar a atmosfera, gerando impactos com ângulos definidos. Ele compara o evento à Cratera do Arizona, nos EUA.
A Fundação Florestal, gestora do parque, declarou apoiar iniciativas científicas e se disponibilizou a oferecer suporte técnico e alojamento aos pesquisadores.
A cratera de Ubatuba foi analisada nos anos 1990 por estudiosos do Instituto de Geociências da USP e do antigo Instituto Geológico do Estado.
Na época, os cientistas sugeriram que o impacto teria ocorrido entre 2,5 milhões e 11 mil anos atrás, no Pleistoceno. O estudo gerou o artigo Uma possível estrutura de impacto de meteorito em Ubatuba, litoral norte, assinado por A.P. Souza (USP) e C.R.G. Souza (Instituto Geológico).
A comparação com a Cratera de Colônia, em Parelheiros, é inevitável. Formada por possível impacto há milhões de anos, a estrutura de 3,6 km foi descoberta em 1961 e tombada pelo Condephaat em 2003. Em 2021, um novo estudo da USP, com apoio da Fapesp, reforçou a hipótese de origem extraterrestre.
As oito crateras de impacto já estudadas no Brasil
Segundo o Banco de Dados de Impactos Terrestres (Earth Impact Database), apenas oito estruturas de impacto foram confirmadas no Brasil:
- – Maior astroblema da América do Sul, com 40 km de diâmetro e 246 milhões de anos.
- – Cratera complexa com núcleo central e 12 km de diâmetro; idade entre 200 e 240 milhões de anos.
- – Cratera complexa de 4,5 km de diâmetro; idade desconhecida.
- – Cratera sobre rochas vulcânicas, com 12 km de diâmetro e 120 milhões de anos.
- – Depressão circular de 9,5 km; 120 milhões de anos.
- – Estrutura circular de 3,2 km; idade entre 66 e 93 milhões de anos.
- – Cratera circular com 5,5 km de diâmetro e idade de 117 milhões de anos.
- – Localizada em área urbana, tem 3,6 km de diâmetro e data estimada entre 5 e 36 milhões de anos.
Caso os estudos de Ubatuba confirmem a origem por impacto, o Brasil poderá adicionar mais um registro à sua pequena e valiosa coleção de cicatrizes deixadas por colisões cósmicas.
Martini, que já ganhou projeção internacional ao identificar as nascentes do Rio Amazonas com base em imagens de satélite, agora pode ser também o responsável por revelar uma nova cratera ao mundo científico.
Fonte: revistaoeste