PolĂ­tica

Conflito: Macron e Lula em lados opostos sobre um tema crucial

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(, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 30 de março de 2024)

Os governos do Brasil e da França estĂŁo em desacordo na questĂŁo mais sĂ©ria que tĂȘm entre si. O presidente Emmanuel Macron, na sua recĂ©m-encerrada visita ao Brasil, passeou de barco na , tirou foto com Ă­ndio, fez reuniĂŁo com empresĂĄrio — enfim, aquelas coisas todas que chefe de Estado estrangeiro mais graduado tem de fazer quando vem ao Brasil. Mas na hora de conversar sobre assunto que realmente interessa, os presidentes da França e do Brasil ficaram de lados opostos. Lula acha que o acordo comercial abrangente que estĂĄ sendo discutido hĂĄ 20 anos com a Europa, dando mais acesso dos produtos brasileiros aos mercados europeus, Ă© bom e teria de ser assinado jĂĄ. Macron acha que o mesmo acordo, como disse em pĂșblico, Ă© “pĂ©ssimo” e que “nĂŁo Ă© louco” para pĂŽr sua assinatura nele.

HĂĄ, certamente, proposiçÔes do Brasil que sĂŁo difĂ­ceis de engolir por parte dos paĂ­ses europeus — como, por exemplo, a exclusĂŁo das empresas estrangeiras das compras feitas pelo governo brasileiro. Mas essa, e muitas outras, sĂŁo coisas que podem ser mudadas. A trava, no universo das realidades prĂĄticas, nĂŁo estĂĄ nas questĂ”es ligadas Ă  “polĂ­tica industrial”, e sim na crescente resistĂȘncia dos paĂ­ses ricos Ă  uma mudança estratĂ©gica — a que estĂĄ sendo causada no equilĂ­brio alimentar do mundo pela maciça, e cada vez mais competitiva, produção agrĂ­cola do . A nĂŁo mais do que 30 anos atrĂĄs, o Brasil era um grande zero na produção mundial de alimentos. Hoje, estĂĄ entre os dois ou trĂȘs maiores produtores e exportadores de comida do mundo, a começar por itens vitais como soja, milho e carnes. Mudou o jogo — e mudou o olhar do Primeiro Mundo sobre o Brasil.

“Uma legislação muitas vezes análoga ao suicídio, ano após anos, agride, encarece e criminaliza a produção rural europeia”

J. R. Guzzo

HĂĄ mais de um aspecto na questĂŁo, Ă© claro, mas o centro das tensĂ”es parece estar na dificuldade cada vez maior dos paĂ­ses europeus em lidarem com as suas prĂłprias agriculturas e agricultores. Uma legislação muitas vezes anĂĄloga ao suicĂ­dio, ano apĂłs anos, agride, encarece e criminaliza a produção rural europeia — e reduz a atividade no campo a um pesadelo de subsĂ­dios, proibiçÔes, exigĂȘncias e, sobretudo, Ă  ditadura de regras escritas por burocratas bem pagos e bem alimentados, mas em geral sem noção do que estĂŁo fazendo. SĂł pensam em ambiente, clima, coisas orgĂąnicas – e supĂ”em que Ă© uma excelente ideia suprimir a agricultura e entregar aos governos a tarefa secundĂĄria de fazer as pessoas comerem.

O Brasil, com a eficiĂȘncia da sua produção, complica ainda mais essas dificuldades. VĂȘm aĂ­ as alegaçÔes de que a agricultura brasileira deveria ter “as mesmas exigĂȘncias ambientais” para a ser autorizado a vender comida na Europa. Assim nĂŁo vai haver acordo.

Fonte: revistaoeste

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