📝RESUMO DA MATÉRIA
- Um juiz federal determinou que o fluoreto na água potável apresenta riscos injustificáveis à saúde, exigindo uma ação da EPA. Esta decisão foi baseada em evidências científicas, incluindo estudos que relacionam a exposição ao fluoreto a um menor QI em crianças.
- Pesquisas mostram que a exposição pré-natal ao fluoreto está associada ao aumento de problemas neurocomportamentais em crianças pequenas, incluindo sintomas de transtorno do espectro autista e disfunção executiva.
- Estudos indicam que o excesso de fluoreto afeta a função da tireoide, levando ao aumento das glândulas tireoides, aumento do risco de nódulos e níveis hormonais desregulados em crianças expostas a altas concentrações de fluoreto.
- O tribunal considerou fatores como a gravidade dos danos, o tamanho da população exposta e a falta de margem de segurança entre os níveis perigosos e a exposição real para determinar o risco injustificável do flúor.
- Para reduzir a exposição ao fluoreto, use filtros de água certificados, escolha produtos odontológicos sem flúor e esteja ciente do conteúdo de fluoreto em alimentos e bebidas, como chá.
🩺Por Dr. Mercola
Um juiz federal tomou uma decisão histórica que pode impactar de forma significativa as práticas de fluoretação da água nos EUA. Após uma revisão completa das evidências científicas, o juiz Edward Chen do Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Norte da Califórnia concluiu que o fluoreto na água potável nos níveis atuais representa um risco inaceitável à saúde humana.
Essa decisão, baseada em uma preponderância de evidências, exige que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA inicie uma resposta regulatória. O caso, movido por vários grupos de defesa e indivíduos, contestou a negação anterior da EPA de uma petição para regulamentar o fluoreto sob a Lei de Controle de Substâncias Tóxicas (TSCA) dos EUA.
A decisão do juiz Chen é digna de nota porque marca a primeira vez que um tribunal avaliou de forma independente os riscos da fluoretação da água sem se submeter ao julgamento da EPA. Essa decisão pode levar a novas regulamentações sobre o fluoreto na água potável, abordando preocupações de longa data sobre seu impacto na saúde pública.
A ciência por trás da decisão
No centro da decisão do tribunal esteve a revisão sistemática do Programa Nacional de Toxicologia (NTP) dos EUA sobre os efeitos do flúor no neurodesenvolvimento e cognição. Essa análise abrangente, que passou por várias rodadas de revisão por pares, examinou 72 estudos humanos sobre a exposição ao fluoreto e o QI em crianças.
A monografia do NTP concluiu que a maioria desses estudos, incluindo 18 de 19 estudos de alta qualidade, encontrou uma associação entre maior exposição ao fluoreto e menor QI em crianças.
“Embora a revisão sistemática do NTP não tenha a intenção de definir uma dose segura mais baixa, as informações compiladas fornecem fortes evidências de que a fluoretação da água, conforme feita nos EUA, adicionando fluoreto a uma concentração de 0,7 miligramas por litro (mg/L), provavelmente está reduzindo o QI de pelo menos algumas crianças”, afirmou Chris Neurath, diretor científico da Fluoride Action Network (FAN), em um comunicado à imprensa.
Além disso, de acordo com o relatório do NTP: “esta revisão conclui, com confiança moderada, que exposições estimadas mais altas ao fluoreto (por exemplo, como em aproximações de exposição, como concentrações de fluoreto na água potável que excedem as Diretrizes da Organização Mundial da Saúde para Qualidade da Água Potável de 1,5 mg/L de fluoreto) estão associadas com consistência a um QI mais baixo em crianças”.
Essa base científica desempenhou um papel crucial na determinação do juiz de que o fluoreto representa um risco injustificável à saúde humana, sobretudo ao desenvolvimento cognitivo das crianças.
Exposição pré-natal ao fluoreto está associada a problemas neurocomportamentais
A pesquisadora da Universidade da Flórida, Ashley Malin, descreveu o relatório do NTP como “o relatório mais rigorosamente conduzido de seu tipo”. No entanto, Malin e seus colegas também revelaram conexões alarmantes entre a exposição pré-natal ao fluoreto e problemas neurocomportamentais em crianças pequenas. A pesquisa deles, a primeira do tipo nos EUA, se concentrou em um grupo de mulheres em sua maioria hispânicas e seus filhos.
O estudo descobriu que níveis mais altos de fluoreto urinário materno durante a gravidez estavam associados a um risco maior de problemas neurocomportamentais nos filhos até os 3 anos de idade. Em específico, para cada aumento de 0,68 mg/L no fluoreto urinário materno, havia quase o dobro de chances de problemas neurocomportamentais totais estarem na faixa clínica limítrofe ou clínica.
Essas descobertas são preocupantes, dado que os níveis de fluoreto observados nos participantes do estudo eram típicos daqueles encontrados em comunidades com fluoretação da água na América do Norte. Os resultados do estudo traçam um cenário preocupante sobre como a exposição pré-natal ao fluoreto afeta o desenvolvimento das crianças.
Mulheres com maior exposição ao fluoreto durante a gravidez tenderam a avaliar seus filhos com pontuações mais altas em termos de problemas neurocomportamentais gerais e sintomas internalizantes. Isso incluía maior reatividade emocional, ansiedade e queixas somáticas, como dor, dores de cabeça e problemas gastrointestinais, aos 3 anos de idade. Níveis mais altos de fluoreto na urina materna também foram associados ao aumento dos sintomas do transtorno do espectro autista.
Essas descobertas estão alinhadas com pesquisas do Canadá, que descobriram que a exposição à água potável fluoretada durante a gravidez estava associada a sintomas de disfunção executiva em crianças de 3 a 5 anos, incluindo menor controle inibitório e diminuição da flexibilidade cognitiva.
Mecanismos por trás dos efeitos neurotóxicos do fluoreto
Estudos em animais esclareceram os mecanismos subjacentes à associação entre a exposição pré-natal ao fluoreto e o desenvolvimento neurocomportamental. Pesquisas em ratos expostos a baixos níveis de fluoreto durante a gestação e a primeira fase da vida revelaram alteraçoes nos marcadores neurobioquímicos de dano oxidativo, metabolismo do glutamato e atividade da acetilcolinesterase. Essas mudanças têm sido implicadas na fisiopatologia de distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo o autismo.
Além disso, a exposição pré-natal ao fluoreto afeta o neurodesenvolvimento e a cognição de forma negativa, causando disfunção mitocondrial, bloqueando os processos de reparo celular e interferindo na função sináptica. Vale ressaltar que, mesmo em níveis baixos, a exposição pré-natal ao fluoreto suprime a atividade da glândula tireoide materna, contribuindo para problemas cognitivos e neurocomportamentais nos filhotes.
Excesso de fluoreto afeta a função da tireoide
Um estudo realizado em Tianjin, na China, também examinou os efeitos da exposição ao fluoreto na saúde das crianças. Os pesquisadores mediram os níveis de fluoreto na água potável e na urina das crianças para avaliar a exposição. Muitas áreas adicionam fluoreto suplementar, resultando em níveis de exposição variados na população.
Pesquisadores descobriram que crianças que viviam em áreas com altas concentrações de fluoreto na água potável apresentaram glândulas tireoides muito maiores e um aumento no risco de nódulos e anomalias na tireoide. Para cada aumento de unidade no fluoreto da água, o volume da tireoide aumentou de forma considerável. Crianças expostas a altos níveis tinham cerca do dobro do volume da tireoide em comparação àquelas em áreas de baixa exposição.
O estudo também descobriu que a ingestão excessiva de fluoreto desregulou os níveis normais de hormônios da tireoide, reduzindo em particular os níveis de T3 livre. Esses resultados sugerem que a exposição ao fluoreto pode interferir na função da tireoide das crianças por meio de múltiplos mecanismos, incluindo a alteração do armazenamento e liberação de iodo na glândula tireoide.
Essa interrupção dos hormônios da tireoide durante períodos críticos de desenvolvimento pode ter impactos duradouros. Os pesquisadores observaram que o fluoreto afeta a atividade do hormônio estimulante da tireoide (TSH) ao inibir a ciclase ácida da tireoide, explicando alguns desses efeitos.
A exposição a altos níveis de fluoreto também foi associada a menores pontuações de QI em crianças em idade escolar. Em comparação com crianças em áreas de baixa exposição, aquelas que vivem em regiões com alto teor de fluoreto na água potável obtiveram pontuações muito mais baixas em testes de QI. Os pesquisadores encontraram uma correlação negativa entre os níveis de fluoreto urinário e as pontuações de inteligência. Crianças expostas a níveis mais altos tiveram maior probabilidade de ter pontuações médias de QI, com menos crianças atingindo as faixas mais altas de QI.
O estudo sugere que o fluoreto pode atravessar a barreira hematoencefálica e se acumular no cérebro, causando déficits de aprendizagem e memória. O acúmulo de fluoreto também pode causar danos nos nervos do sistema nervoso central e alterar a cognição, o comportamento e a função neuropsiquiátrica.
Avaliando o risco do fluoreto para sua saúde
A análise do tribunal se concentrou em vários fatores-chave para determinar o risco representado pelo fluoreto. Primeiro, a gravidade do dano — redução do QI em crianças — foi considerada significativa. Mesmo pequenas reduções no QI têm impactos substanciais no desempenho educacional, na situação de emprego, na produtividade e nos ganhos salariais.
Em segundo lugar, o tribunal considerou o tamanho da população exposta, que inclui mais de 2 milhões de mulheres grávidas e seus bebês nos EUA por ano. No geral, cerca de 200 milhões de americanos bebem água fluoretada. A frequência e a duração da exposição também foram observadas, pois a ingestão de fluoreto ocorre todos os dias por meio da água potável e de alimentos preparados com água fluoretada.
É importante ressaltar que o tribunal concluiu que não há uma margem de segurança suficiente entre os níveis nos quais o fluoreto é considerado perigoso e os níveis reais de exposição na água potável dos EUA. Essa falta de margem de segurança foi outro fator importante na decisão do juiz de que o risco do fluoreto é inaceitável e requer ação regulatória.
Essa decisão tem implicações significativas para sua saúde e a de sua família, ainda mais se você mora em uma área com água fluoretada. A decisão do tribunal destaca os riscos da exposição prolongada e de baixo nível ao fluoreto, em especial para mulheres grávidas e crianças pequenas. Embora a decisão não altere as práticas de fluoretação da água de imediato, ela exige que a EPA tome medidas para abordar esses riscos.
Isso pode levar a mudanças nos níveis de fluoretação, advertências adicionais ou à eliminação gradual da fluoretação da água. Como consumidor, é importante estar ciente da exposição ao fluoreto de várias fontes, incluindo água potável, produtos odontológicos e alimentos preparados com água fluoretada.
Passos práticos para reduzir sua exposição ao fluoreto
Embora o tribunal tenha ordenado que a EPA inicie um processo de regulamentação, as ações específicas que a agência tomará ainda não foram definidas. A EPA tem várias opções, que vão desde exigir rótulos de advertência até proibir a adição de fluoreto à água potável. À medida que esse processo se desenrola, você pode tomar medidas para reduzir sua exposição ao fluoreto.
Se você mora em uma área com água fluoretada, usar um filtro de água de alta qualidade certificado para remover o fluoreto é uma opção a ser considerada. Opte também por produtos odontológicos sem flúor e esteja ciente de que certos alimentos e bebidas, como chá preto e verde, também podem conter flúor em quantidades significativas. Para bebês, a amamentação é a melhor opção, pois o leite materno contém pouco ou nenhum flúor.
Se isso não for possível, é importante usar água filtrada e sem fluoreto para fazer a fórmula e reduzir a exposição no início da vida.
Escolhendo o sistema de filtragem de água certo
Ao considerar opções de filtragem de água para remover o fluoreto, você tem várias escolhas. Osmose reversa, deionizadores e meios de absorção de alumina ativada são eficazes na redução dos níveis de fluoreto. A destilação, embora não seja tecnicamente uma filtragem, também remove o fluoreto. Entretando, filtros de carvão comuns como PUR e Brita, assim como amaciantes de água, não filtram o fluoreto.
Para proteção completa, considere instalar um sistema de filtragem de água de alta qualidade para toda a casa. O ideal é filtrar a água tanto no ponto de entrada quanto nos pontos de saída, como chuveiros e pias de cozinha. Essa abordagem é ainda mais importante no preparo de fórmulas infantis. Cada método de filtragem tem seus prós e contras:
A osmose reversa (RO) remove cerca de 80% do fluoreto junto com outros contaminantes, mas requer manutenção regular para evitar o crescimento bacteriano. Um sistema de RO sem tanque com compressor pode ser sua melhor opção, embora possa ser necessária uma instalação profissional.
Os filtros de troca iônica removem sais dissolvidos e amaciam a água, mas podem apresentar problemas de contaminação bacteriana. Eles costumam ser combinados com filtros de carvão para melhores resultados. Filtros de carvão ativado granular são comuns em sistemas de bancada e balcões embutidos. Eles removem com eficácia contaminantes orgânicos e produtos químicos como cloro e pesticidas. No entanto, eles podem não ser tão eficazes contra o sulfeto de hidrogênio e exigem substituição regular.
Para uma remoção ideal de fluoreto, considere combinar um filtro de carvão ativado granular com carvão ósseo, que mostrou excelentes resultados em estudos. Seja qual for o sistema escolhido, certifique-se de que ele atenda às suas necessidades e orçamento, ao mesmo tempo em que proporciona uma redução eficaz do fluoreto. Tenha em mente também que alcançar uma saúde bucal ideal e prevenir cáries não deve envolver beber água fluoretada ou usar pasta de dente com flúor.
Abordagens naturais para a saúde bucal
Embora sua escova e pasta de dente sem flúor sejam ferramentas essenciais, elas estão longe de ser as únicas opções para cuidados dentários. Várias substâncias naturais, incluindo os alimentos que você consome, desempenham um papel significativo na melhoria não apenas da sua saúde bucal, mas também do seu bem-estar geral.
Concentre-se em uma dieta rica em nutrientes, em vitaminas e minerais que promovam a saúde dos dentes e gengivas. Considere agentes antimicrobianos naturais, como o bochecho com óleo de coco ou enxaguantes herbais para promover a higiene bucal sem os riscos associados à exposição ao flúor.
Ao tomar essas medidas para reduzir a exposição ao fluoreto e adotar práticas naturais de cuidados dentários, você protege sua saúde e ainda mantém dentes fortes e saudáveis. Mantenha-se informado, faça escolhas conscientes sobre sua água e produtos dentários e lembre-se de que a saúde geral começa com o que você coloca em seu corpo — incluindo a água que você bebe e os produtos que você usa todos os dias.
Fonte: mercola