Há cinco anos, nesta data, a Covid-19 já se espalhava pelo globo. No Brasil, havia pouquíssimos casos reportados e o carnaval correu normalmente – algo que não aconteceria no ano seguinte.
Ninguém sabia exatamente a origem da doença que foi detectada pela primeira vez na província de Wuhan, na China. Hoje, mais de uma dúzia de estudos apontam que o primeiro (ou os primeiros) paciente da Covid-19 foi infectado a partir de animais selvagens no Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, em Wuhan. Atualmente, o animal que está no topo da lista é o cão-guaxinim (Nyctereutes procyonoides).
Talvez você já tenha ouvido falar que a doença veio dos morcegos, e pode estar confuso com essa nova informação. Mas não há contradição: a hipótese de vários cientistas é que o SARS-CoV-2 (o vírus causador da Covid-19) teria surgido nos morcegos do sul da China, a partir de mutações de outros vírus.
Entretanto, os primeiros humanos não teriam sido contaminados diretamente pelos morcegos, cujo habitat natural é bem longe de Wuhan. E sim por um outro animal intermediário. Esse intermediário faria uma ponte entre o habitat dos morcegos Rhinolophus e a área de captura de animais selvagens para a venda no mercado
O cão-guaxinim é apenas um dos candidatos: outros ainda não foram eliminados. Mas eles chamam a atenção dos pesquisadores por serem comuns nos mercados de Wuhan, e porque vários estudos já constataram que são reservatórios de muitos vírus patogênicos.
Apesar do nome, os cães-guaxinim não são parentes próximos dos guaxinins. Eles são canídeos, o mesmo grupo dos cães domésticos, e têm parentesco mais próximo com as raposas. São onívoros, e, diferentemente de outros canídeos, eles podem hibernar no inverno.
Eles também são os principais suspeitos como intermediários no caso do surto de SARS (síndrome respiratória aguda grave) de 2002 e 2003. Os pesquisadores isolaram parentes próximos do vírus que causa a SARS em vários cães-guaxinins e civetas (um pequeno mamífero carnívoro nativo da Ásia) retirados de um mercado de animais vivos em Guangdong, na China.
Isso tudo motivou uma equipe de pesquisadores da Alemanha que investigaram a suscetibilidade dos cães-guaxinins ao SARS-CoV-2. Ainda em 2020, eles provaram que podem ser infectados pelo vírus causador da Covid-19, mas não ficam doentes. Mesmo assim, eles podem transmitir a infecção a outros animais.
Durante os três anos anteriores ao começo do surto de Covid-19, em média, 38 cães-guaxinins eram vendidos no Mercado de Huanan a cada mês. Os dados são de uma pesquisa que analisou as vendas de 47 mil animais entre maio de 2017 e novembro de 2019 no Mercado.
“Embora alertemos contra a atribuição errônea das origens da Covid-19, os animais selvagens à venda em Wuhan sofreram condições precárias de bem-estar e higiene, e detalhamos uma série de outras infecções zoonóticas que eles podem potencialmente transmitir”, escreveram os autores.
Outras evidências que apoiam a teoria do cão-guaxinim surgiram em 2023, quando pesquisadores chineses publicaram dados genômicos de amostras coletadas no Mercado de Huanan em janeiro de 2020. No começo daquele ano, o Mercado foi fechado e a venda de animais selvagens foi proibida.
Nessa ocasião, os pesquisadores coletaram amostras de vários locais do Mercado, inclusive de barracas, latas de lixo e esgoto. A análise apontou a presença de DNA mitocondrial de cães-guaxinim em vários swabs, incluindo aqueles que também testaram positivo para SARS-CoV-2.
“Os resultados não provam que os animais foram infectados pelo SARS-CoV-2, mas, se tivessem sido infectados, esse é o tipo de evidência que se esperaria encontrar”, diz Kristian Andersen, biólogo evolucionista da Scripps Research, nos EUA, em entrevista ao portal de notícias da Nature.
Outros animais no mercado também podem ter sido infectados com o vírus e possivelmente transmiti-lo às pessoas, como ratos-de-bambu, e dois tipos de porcos-espinho (Hystrix brachyura e Erinaceus amurensis) e ouriços de Amur. Mas ainda não se sabe muito sobre a suscetibilidade dessas espécies à infecção e a capacidade de disseminação do SARS-CoV-2.
Fonte: abril