SAÚDE

Como o Polegar com Unha Beneficiou os Roedores na Conquista Mundial

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Um novo estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com o Field Museum of Natural History, em Chicago, revelou que muitos roedores possuem uma característica antes subestimada: uma unha no polegar.

O achado, publicado como capa da revista Science, sugere que essa modesta estrutura anatômica foi decisiva para a sobrevivência e expansão dos roedores em todos os continentes, com exceção da Antártida.

A primeira análise dos pesquisadores concluiu que, entre os gêneros analisados – que correspondem a aproximadamente 90% das espécies descritas –, quase 80% possuem as unhas dos polegares, isso é uma coisa que não se sabia antes”, disse Rafaela Missagia, professora do Instituto de Biociências da USP e autora do artigo, para o Jornal da USP.

O pequeno polegar

Os pesquisadores examinaram centenas de exemplares preservados em coleções científicas e traçaram uma árvore genealógica que comparava roedores que manipulam alimentos com as mãos e aqueles que dependem apenas da boca. O resultado revelou um padrão consistente: nos animais em que havia polegar com unha, havia também maior habilidade de quebrar sementes, abrir nozes e explorar alimentos que outros mamíferos não conseguem acessar.

A pesquisa dividiu as espécies entre aquelas com únguis, (estrutura queratinizada que pode ser dividida entre garra ou unha), e as que não tinham nenhuma dessas formações. O padrão alimentar seguiu a anatomia: roedores com unhas manipulavam sementes e frutos, enquanto aqueles sem o polegar funcional recorriam a uma alimentação exclusivamente oral capivaras, por exemplo, mastigam gramíneas sem usar as patas.

Anderson Feijó, curador do Field Museum e coautor do estudo, explicou ao Jornal da USP que se sabe que os primatas possuem unhas em todos os dedos, enquanto coelhos exibem apenas garras. Mas nos roedores, essa condição mista é única uma unha no polegar, garras nos outros dedos.

Manicure animal (literalmente)

Estudos sobre unhas costumam se concentrar em primatas, mas agora os cientistas defendem que roedores também devem entrar no centro desse debate. “Os roedores também possuem unhas e seus polegares são capazes de realizarem uma manipulação eficiente e bem-feita de alimento”, disse Missagia.

Essa dualidade presente nos roedores conferiu a certas espécies uma vantagem adaptativa: maior precisão no manuseio de alimentos, sem perder a força e a escavação garantidas pelas garras.

Em casos extremos, como nos esquilos das Filipinas, a ausência da unha os levou a depender apenas dos dentes para roer a casca de árvores. Já espécies fossoriais, adaptadas a cavar túneis, apresentaram predominantemente garras, reforçando a relação direta entre morfologia e modo de vida.

Além das análises em animais modernos, a equipe encontrou indícios fósseis de que roedores já exibiam unhas nos polegares há cerca de 50 milhões de anos. Essa persistência sugere que a estrutura desempenhou um papel fundamental desde os primórdios do grupo.

O trabalho vai na contramão de uma visão histórica que via os polegares desses animais como vestigiais ou rudimentares. A professora ressaltou que a relevância da relação funcional e evolutiva é essencial para os animais ainda hoje.

Com quase 40% de todas as espécies de mamíferos vivas pertencendo à ordem Rodentia, os pesquisadores acreditam que essa pequena inovação evolutiva pode ter sido determinante para tamanha diversidade.

Fonte: abril

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