O luto é uma experiência triste, desagradável mas, infelizmente, um sentimento universal, que já foi e pode vir a ser experienciado por qualquer um de nós. Luto é a dor causada pela morte de um ente querido; o conceito se estende à dor pela perda de alguém, não necessariamente relacionada à morte, ou de algo a que dispensamos grande valor afetivo, mas, nesses dois últimos contextos, falaremos em outra ocasião.
Quando a vida chega ao fim, costuma-se dizer que alguém se vai e aqueles que ficam e que lhe nutriam afeto são invadidos de emoções turbulentas, que misturam dor, raiva e até culpa. A isso denomina-se reação de luto, que se trata de um período adaptativo, até certo ponto normal, que envolve emoções diversas, sensações físicas e alteração no comportamento. O luto não é apenas uma tristeza, é mais do que isso, é um complexo processo de adaptação a uma perda; são vidas que ficam e sofrem a ausência de uma vida que foi.
A tristeza é o principal sentimento, experimentado como uma dor que atravessa o peito, que adormece com o sono e desperta a cada amanhecer e que parece interminável. A raiva também costuma estar presente e dirige-se ao mundo, à vida, às pessoas, a si mesmo, ao próprio ente que morreu e até a Deus. A culpa também aparece frequentemente por algo que se fez ou por algo que se deixou de realizar; brigas, discussões mal resolvidas ou ainda o pedido de desculpas, que ficou apenas na vontade, são coisas que mobilizam a culpa da pessoa enlutada. A ansiedade e o medo podem fazer coro à tristeza por se ter que encarar a possibilidade do mesmo fim. O alívio e a paz são sentimentos, que comumente aparecem, quando o fim se segue a um sofrimento prolongado.
Não só os sentimentos são afetados durante o estado de luto, o corpo físico também reage de inúmeras formas, como no caso de alterações no apetite e no sono, problemas digestivos, sensação de fadiga constante, sintomas dolorosos corporais, principalmente a dor de cabeça e as dores musculares, queda da imunidade, com frequentes infecções virais e bacterianas.
Os pensamentos, muitas vezes, tornam-se confusos e negativos, como se a perda fosse irreal e de que a pessoa poderia surgir viva a sua frente a qualquer momento. Há dificuldade de atenção e concentração e, consequentemente, prejuízo da memória. O isolamento social e o choro incontroláveis em determinados momentos são comuns; os períodos de maior tristeza, com choro franco, ocorrem principalmente em ocasiões inesperadas, geralmente em locais ou situações que lembrem, consideravelmente, a participação ativa da pessoa que se foi.
O tempo é o senhor da razão e dia após dia estes sentimentos vão se tornando mais brandos, um dia mais forte e outro um pouco menos. Os instantes de maior tristeza acontecem como reações em ondas e mesmo depois de muito tempo da perda, pode acontecer um dia ou outro de grande manancial de sentimentos, que se compara à dor dos primeiros dias da perda de alguém.
Frequentemente o indivíduo enlutado é, de certa forma, estimulado, ou até mesmo pressionado a superar a dor da perda e conformar-se com ela. Não há nada pior do que essa pressão, uma vez que toda pessoa enlutada deve ter o direito de sofrer a sua dor e não se sabe exatamente qual é o tempo considerado normal de duração desse sofrimento, apesar de que nos causa preocupação o luto prolongado intenso, principalmente acima de doze meses.
Sabe-se, no entanto, que a resposta é individual, alguns sofrem por mais tempo do que outros; para alguns a dor perdura a vida toda. É preciso também entender a duração e a intensidade do processo de luto em relação ao vínculo afetivo entre a pessoa enlutada e aquela que morreu. Por isso, para a saúde mental, o tempo de dor é importante, porém um pouco menos do que sua intensidade e de como essa dor se manifesta ao longo do tempo.
Há necessidade de apoio profissional quando o sofrimento é de longa duração, grande intensidade e afeta consideravelmente a vida da pessoa enlutada, funcionando como algo até certo ponto paralisante. Nesses casos, podemos estar diante de um luto prolongado ou complicado, um luto que sai do esperado, afasta-se da normalidade, a que chamamos de luto patológico, uma condição de saúde que tem tratamento.
Fonte: primeirapagina






