📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Os AVCs isquêmicos comprometem o fluxo de sangue para as células cerebrais, provocando danos por meio de três mecanismos distintos de morte celular, sendo a sobrecarga de ferro um fator-chave nesse processo.
  • O excesso de ferro acumulado durante um AVC acelera a morte celular, atuando como “gasolina em um incêndio” e agravando de forma significativa os danos cerebrais.
  • Novas pesquisas sugerem que controlar a morte celular ligada ao ferro pode viabilizar tratamentos de AVC mais eficazes, ajudando a proteger um número maior de células cerebrais contra danos.
  • Um simples exame de sangue, chamado ferritina sérica, avalia as reservas de ferro em seu organismo. Manter os níveis abaixo de 100 ng/mL, de preferência entre 35 e 45 ng/mL, ajuda a proteger seu cérebro.
  • A doação regular de sangue (de duas a quatro vezes por ano) é uma medida eficaz para equilibrar os níveis de ferro e reduzir tanto o risco quanto a gravidade de um AVC.

🩺Por Dr. Mercola

Imagine um engarrafamento dentro dos vasos sanguíneos do cérebro. É o que acontece em um AVC isquêmico: um bloqueio súbito que impede a chegada de oxigênio e nutrientes às células do cérebro. Esse é o tipo mais comum de AVC, que atinge milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano. Quando ele não é revertido a tempo, pode deixar sequelas permanentes ou até levar à morte.

À primeira vista, pode parecer um problema apenas pessoal, mas o AVC afeta a família, o trabalho e toda a rotina diária. Quando um AVC acontece, suas células cerebrais não morrem por acaso.

Há um processo silencioso chamado “morte celular programada”, algo semelhante a um botão de autodestruição que certas células acionam. Novas pesquisas destacam um fator importante nesse processo: um tipo de morte celular ligada ao ferro que se acumula em seu cérebro. Essas descobertas podem abrir caminho para tratamentos capazes de preservar uma área maior do cérebro dos danos. E, como veremos, controlar os níveis de ferro é um passo fundamental para se proteger.

O que acontece com o seu cérebro durante um AVC?

Durante um AVC, as células cerebrais não param de funcionar por acaso. Elas seguem um processo estruturado de desligamento. Um estudo de 2024 investigou esse fenômeno e identificou três formas principais de morte celular: uma semelhante a uma enchente provocada pelo ferro, outra que se espalha como um incêndio florestal e uma terceira, mais controlada, comparável à demolição planejada de construções antigas.

• Imagine seu cérebro como uma cidade movimentada: A morte celular relacionada ao ferro  se assemelha a uma enchente que transborda, inundando as ruas com ferro. A morte celular que age como um incêndio florestal se espalha com rapidez, destruindo tudo ao redor. Já a morte celular programada ocorre de forma mais controlada, como a demolição intencional de prédios antigos. Esses três mecanismos atuam juntos durante um AVC, e compreender como funcionam pode abrir caminho para formas mais eficazes de tratamento e proteção cerebral.

• Em que momento tudo isso acontece?  Quando o fluxo sanguíneo é interrompido e depois retorna de forma abrupta, as mortes celulares relacionadas ao ferro e semelhantes a incêndios florestais são as primeiras a ocorrer. É como uma tempestade que invade a cidade, provocando caos imediato. Em seguida, entra em ação a morte celular programada, agindo como uma equipe de limpeza que remove o que restou após o estrago. Essa sequência mostra como os danos se acumulam no cérebro ao longo de horas ou dias, e não apenas em um único instante.

• De que forma o ferro afeta as células do cérebro?  É aqui que a coisa fica interessante: o ferro desempenha um papel central em todo o processo. O estudo constatou que o excesso de ferro no cérebro após um AVC, intensifica tanto a morte celular associada ao ferro quanto a que se espalha como fogo. É como jogar gasolina em uma chama, o fogo se torna mais intenso e se espalha com maior velocidade.

Os pesquisadores testaram essa hipótese em camundongos e observaram que um medicamento capaz de capturar o ferro excedente reduziu essa atividade destrutiva nas células cerebrais. Pense no ferro como um encrenqueiro distribuindo fósforos em uma floresta seca. Se você impedir essa ação, é possível preservar uma parte maior do cérebro.

• Será que os tratamentos poderiam conter essas três ameaças?  Como esses tipos de morte celular ocorrem de forma interligada, o estudo sugere que, no futuro, os tratamentos possam agir sobre todas elas ao mesmo tempo. Imagine uma equipe de super-heróis: um deles impede a inundação, outro apaga o fogo e o terceiro interrompe a demolição. Se os médicos conseguissem alcançar isso, você teria uma chance maior de se recuperar após um AVC. Embora um tratamento como esse ainda não esteja disponível, trata-se de uma proposta promissora e capaz de transformar vidas, inclusive a sua.

Como o ferro faz seu cérebro se voltar contra si mesmo

O ferro é importante para o seu corpo, ajudando o transporte de oxigênio no sangue. Mas, quando em excesso, o ferro deixa de ser um aliado e se torna um problema. A morte celular relacionada ao ferro é uma forma sorrateira pela qual as células do cérebro morrem e, como o nome indica, tudo gira em torno desse metal.

• O que é essa morte celular relacionada ao ferro?  Um segundo estudo, publicado em 2024, aprofundou-se no assunto e identificou três pontos principais. 3 Primeiro, o ferro se acumula em excesso no cérebro. Segundo, as gorduras dentro das células tornam-se tóxicas. Terceiro, o sistema de limpeza celular deixa de funcionar. Imagine suas células cerebrais como carros: essa forma de morte celular é como a ferrugem que entope o motor, o óleo deteriorado que causa falhas e o mecânico que simplesmente abandona o reparo.

• Como um AVC desencadeia essa morte celular?  Um AVC cria o cenário perfeito para que isso aconteça. A barreira hematoencefálica seria como uma parede protetora ao redor do cérebro que se rompe durante um AVC. Assim, permite que o ferro se infiltre onde não deveria.

Ao mesmo tempo, os neurotransmissores ficam superestimulados e começam a causar problemas, enquanto a inflamação agrava ainda mais o quadro. É como se um portão se rompesse, permitindo que o caos invadisse o cérebro. O estudo mostrou que esse descontrole favorece a morte celular relacionada ao ferro, matando mais células do que você pode se dar ao luxo de perder.

• Há alguma maneira de impedir que essa morte celular cause danos?  O estudo identificou caminhos para combater esse processo. Um dos protagonistas é um agente de limpeza natural presente nas células, responsável por eliminar gorduras nocivas. Aumentar a potência desse agente é como contratar mecânicos extras para consertar seu carro. Outra estratégia envolve o uso de ferramentas capazes de neutralizar o ferro excedente. Esses mecanismos podem ajudar a proteger as células cerebrais durante um AVC. Imagine esse agente de limpeza entrando em ação como um super-herói, pronto para salvar o dia.

O que isso significa para a sua saúde?

Vamos reunir tudo o que vimos até aqui. O primeiro estudo mostrou que, logo no início de um AVC, as três formas de morte celular atuam de maneira combinada, tendo o ferro como gatilho inicial. O segundo estudo aprofundou-se na morte celular associada ao ferro, esclarecendo seu funcionamento e apontando caminhos para bloqueá-la. Juntos, esses achados funcionam como um mapa que indica onde acontecem as batalhas no cérebro e como vencê-las. Compreender esse processo pode proteger você ou alguém que você ama.

Qual é o futuro do tratamento do AVC?

Essas descobertas apontam para um futuro mais promissor. Imagine tratamentos capazes de atingir essas três formas de morte celular ao mesmo tempo, como uma equipe de heróis que impede o caos antes que ele se instale. Se os médicos conseguirem controlar esse processo devastador logo no começo, o AVC pode não deixar danos permanentes. A pesquisa avança em ritmo acelerado e ensaios clínicos já estão testando essas abordagens. Ainda não é uma garantia, mas representa uma esperança sólida de cuidados mais eficazes.

Como você pode diminuir o risco de sofrer um AVC?

Enquanto os cientistas desvendam os grandes mistérios, você já pode começar a assumir o controle. Veja algumas ações importantes:

• Alimente-se de forma inteligente: Priorize alimentos naturais e evite os ultraprocessados, que em sua maioria contêm óleos vegetais prejudiciais.

• Movimente-se mais: O exercício físico melhora o fluxo sanguíneo para o cérebro. Uma caminhada rápida pode ser uma grande aliada.

• Controle sua pressão arterial: A pressão alta é um inimigo silencioso que prepara o terreno para um AVC.

• Verifique seus níveis de ferro: Um exame de sangue simples, conhecido como teste de ferritina sérica, fornece informações valiosas sobre suas reservas de ferro. Níveis baixos sugerem deficiência de ferro, enquanto níveis elevados indicam o seu excesso. O ideal é manter a ferritina abaixo de 100 ng/mL e, de preferência, entre 35 e 45 ng/mL.

Controlando a sobrecarga de ferro: uma estratégia simples

Uma forma eficaz de se proteger é manter seus níveis de ferro sob controle. O excesso de ferro no organismo é um risco silencioso, elevando a probabilidade de um AVC. Quando esses níveis ultrapassam o ideal, eles intensificam o tipo de dano celular antes descrito. Mas há uma maneira simples de regular seus níveis de ferro: a doação de sangue.

Doar sangue de duas a quatro vezes por ano é uma ótima forma de reduzir seus níveis de ferro. Se preferir, doações mensais menores também podem ajudar. Lembre-se: se você tiver problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca congestiva, ou problemas pulmonares, como DPOC grave, consulte seu médico primeiro. Se você não puder doar sangue em um centro de coleta, não se preocupe.

Seu médico pode prescrever algo chamado flebotomia terapêutica, que segue o mesmo princípio: remover parte do sangue para reduzir o excesso de ferro. Ao manter seus níveis de ferro equilibrados, você dá um passo decisivo para proteger seu cérebro contra os danos provocados por um AVC.

Perguntas Frequentes: Entendendo a sobrecarga de ferro e o risco de AVC

P: Por que o excesso de ferro é prejudicial ao cérebro durante um AVC?

R: O excesso de ferro agrava os danos causados por um AVC. É como jogar gasolina no fogo, fazendo com que ainda mais células do cérebro morram.

P: Como o ferro causa danos às minhas células cerebrais?

R: Quando há ferro em excesso, ocorre um tipo de morte celular em que o ferro se acumula dentro das células, levando à sua destruição. Pense nisso como a ferrugem que corrói uma máquina.

P: Como posso verificar se tenho excesso de ferro?

R: Um exame de sangue simples, chamado teste de ferritina sérica, pode indicar seus níveis de ferro. O ideal é que sua ferritina esteja abaixo de 100 ng/mL e, de preferência, entre 35 e 45 ng/mL.

P: O que posso fazer para diminuir meus níveis de ferro?

R: Doar sangue é uma ótima maneira de reduzir o nível de ferro no organismo. Se você não puder doar sangue, seu médico pode realizar um procedimento semelhante de retirada de sangue chamado flebotomia terapêutica.

P: Controlar meus níveis de ferro ajudará a prevenir um AVC?

R: Sim, controlar os níveis de ferro ajuda a diminuir o risco de AVC. Ao manter seus níveis de ferro sob controle, você protege seu cérebro de danos maiores caso um AVC ocorra.