Um estudo recente da Aldeias Infantis SOS revela que o fortalecimento das famílias impediu que cerca de 1.200 crianças e adolescentes fossem acolhidos institucionalmente nos últimos quatro anos. Essa cifra representa mais de 95% dos casos acompanhados pela organização, líder mundial no cuidado direto à infância, mostrando a importância de preservar os vínculos familiares.
O levantamento, apresentado em São Paulo, abrangeu 14 localidades em dez estados, envolvendo a participação de 65 profissionais da Aldeias Infantis SOS, 44 cuidadores em grupos focais e depoimentos de representantes de órgãos públicos, como Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Conselhos Tutelares e o Ministério Público.
Michéle Mansor, gerente nacional de Desenvolvimento Programático da organização, destacou que o modelo exclusivo de atuação no país, baseado em escuta qualificada, apoio psicológico e visitas domiciliares, é fundamental para reduzir o afastamento das crianças de suas famílias. Ela afirmou que “quando há compromisso real com o cuidado e acompanhamento sistemático, as chances de separação caem drasticamente”.
O relatório propõe ainda estratégias para o poder público e sociedade civil, como a garantia de financiamento contínuo, maior integração entre serviços de proteção social, saúde, educação e justiça, além do reconhecimento da diversidade de arranjos familiares.
“Garantir que nenhuma criança cresça sozinha é uma responsabilidade coletiva que exige o envolvimento do Estado, da comunidade e da sociedade”, afirmou Michéle, reforçando a importância da prevenção para evitar intervenções judiciais como último recurso.
O estudo ressalta a necessidade da escuta sensível e do suporte emocional aos cuidadores, evidenciando que o apoio psicológico e a presença de equipes técnicas de confiança são decisivos para que as famílias se sintam acolhidas e acompanhadas.
José Carlos Sturza de Moraes, cientista social e pesquisador responsável pelo estudo, reforçou a importância da proteção especial às famílias, prevista na Constituição Federal, para que crianças e adolescentes tenham condições adequadas ao seu desenvolvimento. Segundo ele, a escuta deve identificar riscos iminentes de ruptura dos vínculos familiares, possibilitando intervenções rápidas e eficazes.
“É fundamental um apoio intensivo e ágil do sistema de assistência social e das organizações civis especializadas para evitar o sofrimento das crianças”, enfatizou Moraes.
Além de apontar estratégias para evitar a separação judicial de crianças e adolescentes, o estudo apresenta boas práticas para apoiar famílias em situação de vulnerabilidade social.
Relatório anterior
O estudo divulgado é sequência do relatório Vozes (In)escutadas e Rompimento de Vínculos, apresentado em 2023, que revelou que 32 mil crianças e adolescentes estavam afastados do convívio familiar em serviços de acolhimento no Brasil, concentrados principalmente nas regiões Sudeste e Sul.
Negligência e violência física ou psicológica foram apontadas como principais motivos para esses afastamentos.
Fonte: cenariomt