A infância, com suas brincadeiras, descobertas e inocência, vem sendo encurtada pelo avanço das telas e a busca por engajamento nas redes sociais. A adultização infantil – quando crianças passam a adotar comportamentos, linguagem e aparência de adultos, voltou ao centro dos debates nas últimas semanas, após as denúncias envolvendo o influenciador Felca.
Especialistas da Unimed Campo Grande fazem um alerta sério: o desenvolvimento emocional das crianças está em risco e o problema pode se entender para a vida adulta.
Para a pediatra Kamilla Moussa, o impacto da adultização vai muito além da estética. O primeiro grande risco, segundo ela, é a exposição das crianças a predadores sexuais.
“Mas também precisamos falar sobre os danos emocionais. Crianças adultizadas passam a enxergar a si mesmas de forma distorcida, buscando reconhecimento apenas por curtidas e conexões digitais, o que prejudica a autoestima e o desenvolvimento emocional saudável”, explica.
Segundo a médica, o brincar está sendo deixado de lado.
“A brincadeira é a linguagem oficial da infância. É por meio dela que a criança constrói o seu mundo interno, desenvolve suas emoções, aprende a lidar com frustrações e exercita a imaginação. Brincar com bonecas, de correr, jogar bola, quebra-cabeça, subir em árvores. Quando isso é substituído por telas e redes sociais, algo se perde”, reforça.
Para o psiquiatra Marcos Estevão, crianças e adolescentes que adotam responsabilidades e comportamentos de adultos, não estão preparados emocional, cognitivo e fisicamente para isso, e é justamente aí o grande problema.
“Quando etapas são puladas, fases importantes da infância e da adolescência são suprimidas, acarretando em sérios riscos ao bem-estar físico e mental”, pondera.
Os reflexos da adultização precoce podem acompanhar o indivíduo até a fase adulta, afirma o médico.
“Essas crianças, provavelmente desenvolverão estresse, baixa autoestima, ansiedade, depressão, problemas com a sexualidade e outros quadros psiquiátricos. Certamente necessitarão de acompanhamento médico e psicológico”, alerta o psiquiatra.
Os especialistas são enfáticos ao dizer que é responsabilidades dos pais observar atentamente seus filhos. Mudanças no modo de falar, nas roupas, no repertório musical e até na forma como se expressam podem ser sinais de que algo não vai bem. Essa mudança global no comportamento é perceptível e precisa ser levada a sério.
Fonte: primeirapagina