SAÚDE

Cientistas tornam chifres de rinocerontes radioativos para combater a caça furtiva

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Uma nova estratégia sul-africana transforma o objeto mais cobiçado pelos caçadores em ferramenta de combate ao tráfico. 

Cientistas da Universidade de Witwatersrand passaram a injetar isótopos radioativos nos chifres de rinocerontes, numa tentativa de dificultar o contrabando e facilitar a detecção do material em aeroportos e portos. 

A substância, inofensiva para os animais, pode ser identificada por sensores de radiação e representa uma forma de antecipar a ação dos criminosos, em vez de apenas reagir aos ataques.

O projeto, batizado de Rhisotope, é resultado de seis anos de pesquisa e foi desenvolvido em colaboração com autoridades nucleares e conservacionistas. Em uma etapa anterior, cerca de 20 animais de um santuário passaram por testes preliminares. 

Após os bons resultados, a técnica foi aplicada em cinco rinocerontes no Parque Nacional Kruger – onde se concentra um quarto da população africana da espécie. A expectativa dos pesquisadores é utilizar o método em larga escala.

“A gente demonstrou, além de qualquer dúvida científica, que o processo é completamente seguro para o animal e eficaz para tornar o chifre detectável nos sistemas de segurança nuclear das alfândegas internacionais”, disse James Larkin, diretor científico do projeto, ao The Guardian.

Ele destacou que até mesmo um chifre com níveis de radioatividade significativamente inferiores aos planejados para o uso em campo conseguiu acionar os alarmes de detectores.

Em alguns testes, os sensores foram capazes de identificar o material radioativo escondido dentro de contêineres totalmente carregados de cerca de 12 metros de comprimento.

A África do Sul abriga a maior população de rinocerontes do mundo, com cerca de 16 mil animais. Ao mesmo tempo, lidera os índices de caça ilegal, favorecida pela alta concentração da espécie e pela dificuldade de fiscalização em áreas extensas.

A ONG Save the Rhino estima que mais de 400 indivíduos são mortos por ano no país desde 2021. Só no primeiro trimestre de 2025, 103 já haviam sido abatidos.

O chifre do rinoceronte é alvo de intensa demanda no mercado clandestino, especialmente em países asiáticos como China e Vietnã. 

Apesar de ser composto basicamente de queratina – a mesma substância encontrada em unhas e cabelos humanos – o material é utilizado na medicina tradicional, onde é falsamente creditado como capaz de tratar febre, dor e disfunção sexual. 

Além disso, o chifre é visto como símbolo de status e ostentação entre elites, o que inflaciona ainda mais seu valor. 

Para Larkin, o uso de tecnologia radioativa representa um avanço por ser uma abordagem preventiva, e não apenas reativa. “Pelo menos um animal ainda está sendo caçado por dia”, afirmou à BBC. 

“Acho que esses números só vão aumentar se a gente não fizer nada. Essa é uma ferramenta significativa para ajudar a reduzir os números, porque estamos sendo proativos.”

Já a ativista Jamie Joseph, da organização Saving the Wild, avaliou a iniciativa como “inovadora e muito necessária”, mas reconheceu seus limites. 

“Não é a solução final – só uma legislação mais eficaz e vontade política podem acabar com a crise dos rinocerontes. Mas certamente ajudará a dificultar o fluxo de chifres que deixam o país e permitirá que especialistas mapeiem melhor os canais ilegais ao fornecer dados confiáveis”, destacou à BBC.

Fonte: abril

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