Uma mulher de braços tatuados, que exibem animais e alguns detalhes decorativos. Nas mãos, o desenho de um pássaro de cauda bufante. Essa cena pode ser familiar hoje em dia – e, ao que novas descobertas indicam, também era comum na Sibéria de 2,5 mil anos atrás.
Os desenhos foram encontrados em uma múmia congelada da cultura Pazyryk, que viveu entre 2,6 mil e 2,2 mil anos atrás nas montanhas Altai – que se estendem por partes da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão hoje.

O corpo pertence a uma mulher Pazyryk que morreu com cerca de 50 anos. Seu corpo ficou conservado pelo gelo e pelo permafrost nos túmulos profundos das montanhas Altai. O aumento das temperaturas atmosféricas, provocado pelas mudanças climáticas, tem provocado o derretimento do permafrost siberiano, revelando e destruindo vestígios arqueológicos e paleontológicos de milhares de anos.
Como o gelo danifica a pele profundamente, deixando-a escurecida e ressecada, e as tatuagens sequer são visíveis a olho nú. Mas isso não é mais um problema. Agora, um novo estudo, publicado na última semana na revista Antiquity, produziu uma digitalização 3D da mulher, usando fotografia digital de alta resolução com infravermelho próximo. As imagens revelaram as tatuagens nos braços, antebraços e mãos da mulher.

“Temos herbívoros sendo caçados por tigres e leopardos e, em um caso, por um grifo, e nas mãos temos representações de pássaros”, disse Gino Caspari, arqueólogo e autor sênior do estudo, em entrevista à New Scientist. “Devido à sua idade e ao estilo artístico vívido, as tatuagens de Pazyryk são realmente especiais.”
Os pesquisadores tiveram a ajuda de tatuadores contemporâneos para investigar os métodos de tatuagem. O pigmento era feito de material vegetal queimado ou fuligem, e os tatuadores Pazyryk provavelmente usavam várias ferramentas, incluindo uma multipontos, que faria traços mais grossos.
É um método parecido com as tatuagens hand-poke de hoje, mas os autores acreditam que mesmo os tatuadores contemporâneos teriam dificuldade em obter “resultados tão nítidos e uniformes, especialmente com métodos manuais”.

“Se eu tivesse que chutar, diria que provavelmente foram quatro horas e meia para a parte inferior do braço direito e outras cinco horas para a parte superior”, disse Daniel Riday, coautor do estudo e especialista em tatuagens antigas, em entrevista à BBC. “Isso é um compromisso sólido da parte da pessoa. Imagine sentar no chão na estepe, onde o vento sopra o tempo todo. Isso precisaria ser feito por alguém que entende de saúde e segurança, que conhece os riscos do que acontece quando a pele é perfurada.”
Além disso, há também diferenças de técnica entre as tatuagens do braço direito e as do braço esquerdo. Duas hipóteses podem explicar isso: ou dois tatuadores diferentes realizaram o trabalho, ou o mesmo tatuador aprimorou suas habilidades antes de terminar a tatu. Seja como for, o ofício claramente exigia treinamento.
“O estudo oferece uma nova maneira de reconhecer a ação pessoal nas práticas pré-históricas de modificação corporal”, disse Caspari, em um comunicado. “A tatuagem surge não apenas como decoração simbólica, mas como um ofício especializado – que exigia habilidade técnica, sensibilidade estética e treinamento formal ou aprendizagem.”
As tatuagens mais antigas de que se tem notícia têm cerca de 5,3 mil anos, e foram encontradas numa múmia dos Alpes chamada Ötzi. Também conhecido como Múmia do Similaun e o Homem do Gelo, ele tinha 61 marcas com cruzes e linhas pretas paralelas em todo o corpo, especialmente nas pernas.
Fonte: abril