Saúde

Cientistas recuperam RNA mais antigo do mundo de mamute de 40 mil anos: descoberta surpreendente!

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Uma equipe internacional conseguiu recuperar, pela primeira vez, moléculas de RNA de um animal que viveu há quase 40 mil anos. Pesquisadores da Universidade de Estocolmo e do Globe Institute, em Copenhague, isolaram e sequenciaram esse material preservado no músculo de Yuka, um mamute-lanoso encontrado congelado no permafrost siberiano. É o RNA mais antigo já identificado.

O feito, descrito na revista Cell, mostra que essa molécula pode atravessar milênios e, sobretudo, permite descobrir quais genes estavam em uso nas células do animal pouco antes de morrer – um tipo de informação que até agora não existia para espécies extintas. O resultado chamou atenção porque contraria uma ideia tradicional: a de que esse tipo de molécula desapareceria rapidamente após a morte.

Para entender a relevância disso, vale retomar um ponto básico das aulas de biologia. O DNA reúne todas as instruções necessárias para construir e manter um organismo: forma dos músculos, funcionamento interno, características herdadas, e por aí vai. Como é estável e protegido dentro das células, pode resistir por muito tempo em ambientes congelados, o que permitiu reconstruir a história evolutiva dos mamutes e de outros animais já desaparecidos.

O RNA, por outro lado, serve como a “mensagem” criada pela célula quando ela decide usar uma parte específica desse manual. Ele só existe enquanto um gene está ativo e se desfaz logo em seguida. Por registrar processos em andamento, o RNA funciona como um retrato aproximado do que as células estavam fazendo naquele período final de vida. O problema é que esse material se degrada com facilidade após a morte, o que fazia muitos cientistas acreditarem que jamais seria encontrado em organismos tão antigos.

Como o material foi encontrado?

Os pesquisadores analisaram amostras pertencentes a dez mamutes descobertos em diferentes áreas do Ártico russo. A meta era verificar se algum tecido teria guardado vestígios desse material desde a Era do Gelo. Três indivíduos mostraram sinais positivos, e um deles, Yuka, se destacou. Encontrado em 2010 perto de Yukagir, o animal tinha seis a oito anos, cerca de três metros de altura e cinco toneladas. Seu estado excepcional de conservação já havia permitido análises minuciosas de DNA e tecidos moles.

O músculo de Yuka manteve centenas de fragmentos de RNA – alguns ligados à produção das proteínas do próprio músculo, outros responsáveis por regular o funcionamento desse tecido. Os padrões observados combinam com o que se espera de fibras saudáveis: sinais de contração, manutenção estrutural e funcionamento ativo momentos antes da morte.

Os pesquisadores também detectaram reações internas compatíveis com dano celular. Esse tipo de sinal costuma aparecer quando as células enfrentam algum tipo de agressão, como ferimentos. Isso reforça estudos anteriores que sugeriam que Yuka pode ter sido atacado por predadores pouco antes de morrer.

Além do RNA responsável por processos musculares, os cientistas identificaram microRNAs – pequenas moléculas reguladoras que indicam quando as células devem crescer, reparar danos ou manter suas fibras. Algumas dessas moléculas apresentavam alterações já documentadas em mamutes, o que ajudou a confirmar que o material realmente vinha do animal e não de contaminação recente.

A análise também corrigiu uma informação sobre o próprio Yuka. Estudos anteriores indicavam que ele seria fêmea, mas o novo trabalho encontrou fragmentos produzidos por genes exclusivos do cromossomo Y, característicos de machos. O resultado foi confirmado por uma nova checagem do DNA.

Avanços

Para especialistas, o avanço abre uma nova frente de investigação. “É definitivamente impressionante”, afirmou Audrey Lin, bióloga evolucionista do Museu Americano de História Natural que não participou do estudo, à Science. Segundo ela, esse tipo de material pode ajudar a responder perguntas que o DNA não resolve – desde reações de defesa até características fisiológicas ativas nos momentos finais da vida.

Sob as condições certas, o RNA “pode sobreviver por muito mais tempo do que se pensava anteriormente”, afirmou Love Dalén, coautor da pesquisa, em comunicado. Ele acrescentou que a técnica pode, inclusive, permitir a recuperação de vírus antigos de RNA, como influenza ou coronavírus, preservados em restos congelados.

O permafrost desempenha um papel central nisso. Ele é um tipo de solo que permanece congelado o ano inteiro, comum em áreas do Ártico. Essa camada funciona como um congelador natural: mantém temperaturas muito baixas e estáveis, o que bloqueia a ação de enzimas que destruiriam o RNA logo após a morte. Sem calor e sem água líquida, a decomposição quase não avança.

Esse ambiente é justamente o que permitiu que partes das células de Yuka chegassem até hoje. Mesmo assim, é uma situação rara: o animal precisa morrer em um local gelado, ser coberto rapidamente por neve ou sedimentos e permanecer congelado por milênios sem sofrer descongelamentos sazonais.

Apesar do avanço, há limitações claras. O RNA encontrado é sempre fragmentado e exige reconstruções cuidadosas. Muitos tecidos não mantêm esse tipo de molécula, e não se sabe se será possível ultrapassar os cerca de 40 mil anos alcançados agora. Mesmo assim, pesquisadores acreditam que o estudo inaugura uma fase nova para esse campo emergente.

Os especialistas também ressaltam que a técnica poderá, no futuro, permitir comparações da atividade celular entre diferentes espécies extintas ou até entre indivíduos de uma mesma linhagem, ampliando o entendimento de como esses animais funcionavam.

Como sintetizou Emilio Mármol, principal autor do artigo, em nota, “esses estudos podem reformular fundamentalmente nossa compreensão da megafauna extinta, bem como de outras espécies, revelando as muitas camadas ocultas da biologia que permaneceram congeladas no tempo até agora”.

Fonte: abril

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