Saúde

Cientistas descobrem maior teia de aranha do mundo em caverna na fronteira entre Albânia e Grécia

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Em uma caverna escura e sufocante, na fronteira entre a Albânia e a Grécia, pesquisadores encontraram o que pode ser a maior teia de aranha do planeta: uma estrutura de 106 metros quadrados, quase o tamanho de uma quadra de tênis de praia, que cobre parte das paredes da chamada Caverna de Enxofre. 

O achado, descrito na revista Subterranean Biology, revelou uma colônia com mais de 111 mil aranhas vivendo em harmonia num ambiente hostil, impregnado de gás sulfídrico e completamente sem luz.

A descoberta foi liderada por István Urák, biólogo da Universidade Sapientia da Transilvânia, na Romênia. “O mundo natural ainda nos reserva inúmeras surpresas”, disse ele ao Live Science. “Ao ver a teia, o que senti foi admiração, respeito e gratidão.”

A equipe, formada por cientistas de dez países, identificou duas espécies vivendo juntas na teia: cerca de 69 mil Tegenaria domestica, conhecidas como tecelãs-de-funil ou aranhas-domésticas, e 42 mil Prinerigone vagans, que costumam habitar locais úmidos. Nenhuma delas era conhecida por viver em grupo. 

“Trabalho com aranhas há 18 anos e nunca vi uma comunidade assim”, afirmou Blerina Vrenozi, zoóloga da Universidade de Tirana e uma das autoras do estudo, em entrevista ao The New York Times.

A Caverna de Enxofre, chamada assim pelo forte odor do gás sulfídrico, foi formada pela ação corrosiva do ácido sulfúrico sobre o calcário, ao longo de milênios. Ela faz parte de um sistema subterrâneo cortado pelo rio Sarandaporos, conhecido pelos gregos como Vromoner, que significa “água fétida”. 

As primeiras notícias sobre a teia vieram em 2022, quando espeleólogos tchecos relataram uma formação incomum durante uma expedição. Em 2023, os cientistas iniciaram visitas regulares para estudar o fenômeno.

O acesso à caverna exige trajes de mergulho e cordas. “Tudo cheirava a enxofre e hidrogênio, não dava para respirar”, contou Vrenozi. “Mas era pura adrenalina para biólogos.” Ao iluminar a parede, ela viu o brilho da teia: milhares de estruturas em forma de funil se sobrepunham como uma colcha viva de seda, refletindo a luz em pontos cintilantes.

O ambiente mantém uma temperatura constante de 26 °C e concentrações de sulfeto de hidrogênio de até 14 partes por milhão – letais para a maioria dos animais. Mesmo assim, prospera ali uma cadeia alimentar peculiar.

A base dessa teia alimentar é formada por bactérias que oxidam o enxofre do gás e produzem matéria orgânica – um processo chamado quimioautotrofia, típico de cavernas sulfurosas.

Essas bactérias formam biofilmes brancos sobre as rochas e servem de alimento para larvas e adultos de pequenos mosquitos não picadores (Tanytarsus albisutus). Estima-se que haja mais de 2,4 milhões deles na caverna.

Os mosquitos, por sua vez, são capturados pelas aranhas. Segundo análises isotópicas de carbono e nitrogênio, publicadas no artigo científico, toda a cadeia é sustentada internamente, sem depender de matéria orgânica vinda da superfície. O estudo descreve o ecossistema como “um dos poucos casos conhecidos em que uma comunidade inteira é sustentada por energia química, não pela luz solar”.

Convivência inesperada

Em condições normais, as tecelãs-de-funil caçariam as pequenas P. vagans. Na caverna, porém, algo mudou. “Como é escuro lá dentro, nossa hipótese é que elas não se enxergam”, explicou Vrenozi ao NYT. Sem visão, perdem o estímulo predatório e passam a dividir o mesmo espaço e as mesmas presas.

O estudo aponta que ambas as espécies desenvolveram diferenças genéticas e microbiológicas em relação a suas populações externas. As análises de DNA mostraram mutações exclusivas nas aranhas da Caverna de Enxofre, indicando um processo de isolamento e adaptação.

Além disso, seus microbiomas – o conjunto de bactérias que vivem em seus corpos – são muito menos diversos, reflexo do ambiente extremo. A principal espécie, T. domestica, apresentou também padrões reprodutivos distintos: as fêmeas botam, em média, 16 ovos por ninho, número inferior ao registrado em populações de superfície, que podem chegar a cem. Os pesquisadores suspeitam que as condições tóxicas e a ausência de luz afetem a fecundidade.

A estrutura da colônia é dinâmica. Partes mais antigas se descolam do teto por excesso de peso e novas camadas são tecidas sobre as velhas – um ciclo constante de reconstrução. Vrenozi descreveu o material como “muito macio e esponjoso”, retornando à forma original após o toque. A observação sugere que a megateia está em permanente renovação, acompanhando o fluxo de mosquitos e o ritmo da caverna.

As aranhas dominam a zona escura mais próxima à entrada, enquanto outras espécies, como Metellina merianae e Kryptonesticus eremita, vivem isoladas em setores mais profundos e secos. “Sustentar um número tão grande de predadores requer uma fonte constante de alimento”, escreveram os autores. “Isso só é possível graças à produção primária baseada em enxofre.”

O estudo é o primeiro a documentar comportamento de colônia em aranhas das famílias Agelenidae e Linyphiidae. O fenômeno já havia sido observado em regiões tropicais, mas nunca em espécies comuns da Europa. 

“Muitas vezes achamos que conhecemos uma espécie completamente, mas descobertas inesperadas ainda podem ocorrer”, disse Urák ao Live Science. “Algumas exibem uma plasticidade genética notável, que se revela apenas em condições extremas.”

Os pesquisadores alertam que o local precisa ser protegido. A Caverna de Enxofre está em uma área de fronteira e sob risco potencial de exploração mineral. “A preservação é fundamental, mesmo com os desafios diplomáticos e logísticos”, afirmou Urák.

O isolamento e o equilíbrio químico da caverna sugerem que ela pode ter funcionado como refúgio ecológico por milhares de anos. A equipe pretende continuar as visitas para investigar como essa metrópole subterrânea se mantém estável.

Fonte: abril

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