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Cientistas da UFMT revelam: Algodão pode crescer entre árvores sem agrotóxicos

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Líder nacional na produção de algodão, Mato Grosso se destaca também pela inovação científica na busca por um modelo produtivo mais sustentável. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pesquisadores da Faculdade de Agronomia e Zootecnia (FAAZ) desenvolvem o projeto Florestas de Algodão.

O estudo propõe uma nova forma de produzir a principal matéria-prima da indústria têxtil, conciliando equilíbrio ambiental, geração de renda e fortalecimento da agricultura familiar.

Idealizado há três anos, o projeto nasceu da necessidade de repensar a forma como o algodão é cultivado no Cerrado brasileiro, bioma que concentra boa parte da produção nacional e sofre os impactos diretos da expansão agrícola. O objetivo é construir uma cadeia produtiva de algodão agroecológico e agroflorestal, capaz de reduzir o uso de insumos sintéticos e devolver ao solo parte da vitalidade perdida por décadas de cultivo intensivo.

A iniciativa é conduzida pelo Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia (CVT Agroeco), sediado no Centro de Vivência em Agroecologia da UFMT, que acaba de completar três anos consolidando resultados expressivos na produção sustentável. O trabalho une ciência, tecnologia e saberes tradicionais, com foco em regenerar o solo, fortalecer comunidades rurais e construir uma economia de base verde.

Da monocultura ao equilíbrio ecológico

O projeto parte do princípio de que o modelo convencional de cultivo (predominante em Mato Grosso) gera pressão sobre os recursos naturais e dependência de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, o que compromete o solo, a biodiversidade e a saúde humana.

No sistema agroflorestal testado pela UFMT, o algodão é cultivado junto com árvores nativas e culturas alimentares, o que forma um ecossistema diverso e autorregulado. Esse arranjo permite que diferentes espécies convivam harmonicamente e estimula o aumento da fertilidade do solo, a retenção de umidade e o sequestro natural de carbono.

O modelo agroecológico substitui o uso de produtos químicos por técnicas naturais que preservam os nutrientes e melhoram a estrutura física do solo. Além disso, reduz a necessidade de irrigação artificial e amplia a biodiversidade local, tornando o sistema produtivo mais resiliente frente às mudanças climáticas.

Resultados científicos e ambientais

Em três anos de pesquisa, o Florestas de Algodão apresenta resultados que reforçam o potencial dos sistemas agroflorestais para mitigar os efeitos da crise climática. A equipe da UFMT conseguiu completar ciclos produtivos sem o uso de agrotóxicos, utilizando apenas o manejo ecológico de pragas e inimigos naturais.

“As pragas estavam lá, mas também os inimigos naturais que as controlam, semelhante ao que ocorre em um ecossistema natural”, observa o pesquisador Henderson Nobre, responsável pelo estudo.

Os dados preliminares indicam aumento da biodiversidade acima e abaixo do solo, melhor capacidade de sequestro de carbono, maior retenção de nutrientes, e produtividade próxima à dos sistemas convencionais, demonstrando que é possível conciliar desempenho econômico e sustentabilidade.

Além dos ganhos ambientais, o projeto tem avaliado indicadores sociais e ecológicos, com ênfase na soberania alimentar e na sustentabilidade de longo prazo. O modelo permite o uso de insumos locais, estimula cadeias produtivas regionais e fortalece a agricultura familiar da Baixada Cuiabana.

Ciência aplicada à transformação social

O impacto social é um dos pilares da pesquisa. O Florestas de Algodão contribui para a formação técnica de agricultores, gera autonomia produtiva, renda e promove a inclusão de mulheres e jovens nos processos de manejo e capacitação. A proposta reforça a importância da participação comunitária e do aprendizado coletivo como motores de transformação rural.

A atuação de professores, técnicos e estudantes da UFMT é central no projeto, abrangendo desde o monitoramento do solo e das safras até o desenvolvimento de tecnologias sociais e modelos de gestão agroecológica. Essa integração entre ensino, pesquisa e extensão reafirma o papel das universidades públicas na criação de soluções inovadoras para os desafios ambientais e sociais contemporâneos.

“Mesmo sob constantes desafios, a universidade segue produzindo conhecimento e tecnologias voltadas ao desenvolvimento sustentável e à soberania nacional”, afirma Nobre.

Do campo à passarela

O algodão agroflorestal cultivado na Baixada Cuiabana também tem sido aplicado em experiências de moda regenerativa, por meio de cadeias produtivas que conectam o campo à indústria têxtil. A fibra colhida no projeto já foi utilizada na confecção de coleções piloto com foco em transparência, rastreabilidade e baixo impacto ambiental e mostra que a sustentabilidade pode estar presente em todas as etapas, do plantio ao produto final.

Essas ações apontam para um modelo de moda circular, em que o ciclo produtivo é pensado para regenerar o que a natureza oferece. Mais do que vestir, o algodão agroflorestal representa um símbolo de reconexão entre consumo e conservação ambiental.

Reconhecimento e impacto

O Florestas de Algodão já ganhou destaque nacional e internacional, sendo citado pela revista Forbes pelo impacto ambiental e social gerado na região. Os resultados apontam aumento da fertilidade do solo, expansão da biodiversidade local e maior retenção de carbono, evidenciando o potencial dos sistemas agroflorestais como ferramenta de enfrentamento à crise climática.

Com o avanço do projeto e o engajamento das comunidades rurais, a iniciativa da UFMT consolida-se como um marco da transição para uma economia mais sustentável em Mato Grosso. O estado, que já lidera a produção nacional de algodão, passa a ser também referência em ciência e inovação voltadas à sustentabilidade.

Um futuro que cresce com as árvores

O projeto mostra que é possível produzir respeitando os limites da natureza, regenerar o solo e fortalecer a vida no campo.

O que nasce da terra de forma regenerativa também se transforma em conhecimento, renda e novas perspectivas para o futuro, um futuro que cresce com as árvores, floresce com o algodão e veste a sustentabilidade como valor essencial.

Fonte: primeirapagina

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