O mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) foi a última espécie de mamute a andar pela Terra, com alguns espécimes vivendo até 4 mil anos atrás na Ilha de Wrangel, na Sibéria. Desde 2021, a empresa norte-americana Colossal Biosciences está dedicada a trazer os mamutes de volta da extinção. Como uma forma de testar a tecnologia de edição genética, eles criaram uma nova espécie de camundongos: ratinhos lanosos.
A Colossal Biosciences quer que o primeiro filhote de mamute nasça em 2028, após a modificação genética de elefantes-asiáticos para que eles adquiram traços de mamutes-lanosos. Antes disso, eles criaram camundongos parecidos com mamutes em miniatura, com características específicas para tolerância do frio, como os pelos de lã.
Os novos ratinhos não são um passo necessário para a desextinção dos mamutes, mas são um bom sinal de que as técnicas de edição genética da empresa – que também pretende trazer de volta os dodôs – funcionam. A pesquisa que detalha a criação dos camundongos com lã foi disponibilizada em estágio de pré-publicação no site bioRxiv, e aguarda revisão por pares da comunidade científica.
A start-up bilionária conseguiu investimentos, mas ainda há desconfiança de cientistas sobre quão significativa é a criação dos camundongos lanosos para a desextinção dos mamutes. Na Nature, o engenheiro genômico Stephan Riesenberg afirmou que a pesquisa da Colossal consiste em “só um rato com alguns genes especiais”, o que está muito longe de um camundongo com as mesmas características de um mamute – e mais longe ainda de um mamute-lanoso.
Como funcionou o experimento
Para criar em laboratório o rato com lã, os pesquisadores associados à Colossal Biosciences modificaram geneticamente óvulos fertilizados e células-tronco embriônicas de camundongos, e depois implantaram esses óvulos em roedores que serviram de barriga de aluguel.
O foco foi alterar nove genes, que definem a cor do pelo, sua textura e comprimento. Eles foram editados para produzir características parecidas, mas não idênticas, com as dos mamutes, como os pelos dourados.
Desses nove genes, dois também são encontrados nos mamutes. Os pesquisadores acreditam que eles contribuíam para a penugem lanosa dos animais pré-históricos, e por isso conseguiram reproduzir características tão parecidas nos ratinhos.
Os mamutes também tinham outras adaptações específicas ao frio, como armazenamento de gordura. Por isso, os cientistas alteraram um gene nos ratos associado à forma como eles metabolizam gordura, que também era presente nos mamutes. Os pesquisadores sugerem que esse gene tenha um papel importante na adaptação ao frio, mas isso ainda precisa ser comprovado por outros estudos.
Os pesquisadores fizeram várias tentativas de edições genéticas, e nem todas resultaram em camundongos lanosos. Algumas edições proporcionaram tipos de pelos diferentes. Todos os camundongos nasceram saudáveis, sem alterações preocupantes.
A pesquisa é interessante, mas desextinguir um mamute vai ser bem mais difícil do que só alterar alguns genes relacionados à tolerância ao frio. Se tudo der certo, as alterações genéticas – que seriam muito mais complexas do que as edições realizadas nos camundongos – poderiam fazer um elefante se parecer com um mamute-lanoso, mas será que conseguiriam fazer os animais criados em laboratório se comportarem como mamutes? Vamos esperar 2028 para ver se a Colossal Biosciences vai conseguir.
Fonte: abril