Durante a Operação Antártica Brasileira XLI, realizada na Ilha Livingston, no arquipélago das Shetland do Sul, um pesquisador brasileiro fez uma descoberta inédita: a descrição de quatro novas espécies de fungos da ordem Agaricales no continente antártico. É a primeira vez que um brasileiro realiza esse tipo de classificação de fungos macroscópicos na região.
A pesquisa focou na diversidade, taxonomia e filogenia de fungos conhecidos por sua forma de cogumelo, que desempenham papel fundamental na decomposição da matéria orgânica e na manutenção da saúde do solo.
“Esses registros representam uma contribuição inédita para a ciência polar, ampliando significativamente o conhecimento sobre a biodiversidade da região e reforçando o papel da micologia brasileira na pesquisa antártica”, destacou Fernando Bertazzo, doutorado na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com bolsa da CAPES, pesquisando a taxonomia e filogenia de fungos da ordem Agaricales.
Um dos resultados mais relevantes do estudo foi o registro da espécie Galerina marginata, anteriormente detectada apenas duas vezes na Antártica. Pela primeira vez, foi feita uma descrição morfológica completa de um exemplar encontrado no continente. A análise filogenética mostrou que o fungo encontrado forma um clado monofilético dentro do grupo marginata.
Além de ampliar o catálogo da biodiversidade antártica, o trabalho tem implicações mais amplas. Fungos como os estudados são altamente sensíveis a variações ambientais e funcionam como bioindicadores. Assim, monitorá-los permite compreender melhor como organismos vivos respondem a condições extremas, como frio intenso, radiação UV e mudanças súbitas na disponibilidade de nutrientes. “Esses organismos são altamente sensíveis às alterações climáticas e, por isso, atuam como bioindicadores, permitindo a detecção de impactos ambientais.”
“A Antártica funciona como um “termômetro” do clima da Terra, em que pequenas alterações nesse ecossistema indicam transformações maiores em curso no planeta”, explicou o pesquisador. Os dados coletados são uma base inicial para monitorar a população de G. marginata na região e avaliar como as mudanças climáticas poderão impactar sua sobrevivência nos próximos anos.
“Além disso, a pesquisa reforça o papel do Brasil no cenário da ciência polar internacional”, conclui Bertazzo.
Fonte: abril