📝RESUMO DA MATÉRIA
- A vertigem é caracterizada por uma falsa sensação de movimento ou rotação enquanto a pessoa está parada. Ela pode ser categorizada como periférica (causada por problemas no ouvido interno) ou central (causada por problemas no sistema nervoso central).
- A vertigem periférica pode ser causada por condições como vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), doença de Ménière e neurite vestibular. A vertigem central pode ser causada por enxaquecas, derrames, esclerose múltipla ou lesões cerebrais.
- Os tratamentos direcionados para VPPB incluem manobras de reposicionamento, como as manobras de Epley, Foster, Semont e Gufoni, que visam reposicionar os cristais deslocados no ouvido interno.
- A terapia de reabilitação vestibular é uma forma especializada de fisioterapia projetada para reeducar o cérebro no processamento de informações de equilíbrio.
- Medidas preventivas para diminuir o risco de episódios de vertigem incluem dormir com a cabeça elevada, levantar-se devagar, evitar movimentos rápidos da cabeça e explorar remédios naturais, como chá de gengibre ou óleos essenciais.
🩺Por Dr. Mercola
A vertigem é um tipo específico de tontura caracterizado por uma falsa sensação de movimento ou rotação, mesmo quando você está parado. Cerca de 40% dos adultos nos EUA já sentiram vertigem pelo menos uma vez na vida, sendo as mulheres mais suscetíveis que os homens.
Em vez de ser uma doença em si, a vertigem é um sintoma que, em geral, sinaliza um problema subjacente no sistema vestibular do corpo ou, em alguns casos, no sistema nervoso central. Quando não tratada, a vertigem pode impactar sua qualidade de vida de maneira significativa, levando a um desconforto persistente, estresse e ansiedade, além de dificuldade para realizar atividades diárias.
A boa notícia é que existem estratégias eficazes para lidar com a vertigem, muitas vezes categorizadas como “exercícios”, apesar de irem além das noções tradicionais de exercício físico. Em vez disso, são técnicas e manobras especializadas projetadas para recalibrar o sistema de equilíbrio do seu corpo e melhorar a capacidade do cérebro de processar informações espaciais. As técnicas específicas usadas para tratamento podem variar dependendo da causa subjacente da sua vertigem.
Vertigem periférica — Um indicador de problemas vestibulares
A vertigem periférica é responsável por cerca de 80% de todos os casos de vertigem. Ela é causada por um problema no ouvido interno, onde se encontra o sistema vestibular. Seus principais componentes incluem os canais semicirculares, que são três tubos em forma de anel que detectam movimentos rotacionais da cabeça, e os órgãos otolíticos (utrículo e sáculo), que detectam acelerações lineares e contêm otocônias, pequenos cristais de carbonato de cálcio que se movem com o movimento da cabeça.
Juntos, esses componentes trabalham para manter o equilíbrio e a orientação espacial, enviando informações contínuas sobre os movimentos e a posição da cabeça ao cérebro através do nervo vestibular. Disrupções nesses componentes podem desencadear a vertigem periférica. Causas comuns incluem:
- Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) — A causa mais frequente de vertigem periférica, a VPPB, ocorre quando pequenos cristais de cálcio no ouvido interno se deslocam e se movem para os canais semicirculares. Isso costuma ser desencadeado por posições específicas da cabeça e faz com que sinais falsos sejam enviados ao cérebro.
- Doença de Ménière — Causada pela produção anormal de fluido dentro do ouvido interno, essa condição causa o aumento da pressão, levando à vertigem. Isso também pode afetar sua audição.
- Labirintite — Esta condição é definida, sobretudo, pela inflamação no labirinto do ouvido interno. Em geral, devido a uma infecção viral. Ela afeta tanto seu equilíbrio quanto sua audição.
- Neurite vestibular — Caracterizada por uma inflamação do nervo vestibular, esta condição interrompe o fluxo de informações sensoriais do ouvido interno para o cérebro.
- Neuroma acústico — Isto é causado por tumores benignos no nervo craniano do ouvido interno, que pressionam as estruturas adjacentes, causando vertigem, perda auditiva, dores de cabeça, zumbido e até dormência facial.
Vertigem central — Um tipo menos comum de vertigem
O sistema nervoso central (SNC), que compreende o cérebro e a medula espinhal, controla o movimento muscular e transmite estímulos sensoriais ao cérebro. No caso da vertigem central, os responsáveis, no geral, são danos ou disfunções no cerebelo, o centro de equilíbrio do cérebro. As causas subjacentes comuns da vertigem central incluem:
- Enxaqueca vestibular — Essa condição é caracterizada por episódios de vertigem que ocorrem com ou sem dor de cabeça. É uma das causas mais comuns de episódios recorrentes de vertigem espontânea. Enxaquecas vestibulares podem durar horas ou dias, e são com frequência acompanhadas de sensibilidade à luz e ao som, além de distúrbios visuais.
- AVC – Quando um derrame afeta áreas do cérebro envolvidas no equilíbrio e na orientação espacial, como o tronco cerebral ou o cerebelo, pode resultar em vertigem súbita e grave.
- Esclerose múltipla (EM) — Esta doença autoimune crônica afeta o sistema nervoso central, danificando a cobertura protetora das fibras nervosas (mielina). Quando as lesões da EM ocorrem em áreas do cérebro responsáveis pelo processamento do equilíbrio e da informação espacial, isso pode causar vertigem que pode aparecer e desaparecer como parte dos sintomas recorrentes e remitentes.
- Traumatismo cranioencefálico ou concussão — Traumas físicos na cabeça podem prejudicar a função cerebral normal, incluindo áreas responsáveis por manter o equilíbrio.
- Tumores no cérebro e/ou medula espinhal — Tumores, sejam benignos ou malignos, podem causar vertigem se se desenvolverem ou pressionarem áreas do sistema nervoso central envolvidas no processamento de informações do sistema vestibular.
Abordagens direcionadas para VPPB
Para determinar o tratamento adequado para sua vertigem, é crucial obter um diagnóstico preciso para identificar sua causa subjacente. Como você pode imaginar, o tratamento para vertigem periférica difere da vertigem central porque o problema se origina em partes diferentes do corpo (ouvidos ou SNC).
Embora a maioria dos casos de vertigem se resolvam sozinhos em um curto espaço de tempo, a vertigem persistente ou crônica exige atenção médica. Para a VPPB, a fisioterapia é recomendada com frequência. Um fisioterapeuta realizará movimentos específicos da cabeça para reposicionar os depósitos de cristais no ouvido interno em uma área que não afete o seu equilíbrio. Esses procedimentos de reposicionamento de partículas incluem:
• Manobra de Epley — A manobra de Epley, também conhecida como procedimento de reposicionamento canalicular, é a técnica mais utilizada para tratar a VPPB que afeta o canal semicircular posterior. Ela envolve uma série de movimentos da cabeça para reposicionar as otocônias deslocadas dos canais semicirculares de volta ao utrículo, onde não causam mais sintomas.
Para casos leves e temporários, você pode tentar realizar essa técnica em casa se souber qual dos seus ouvidos foi afetado. Siga estes passos para realizar a manobra de Epley:
- Comece sentando-se na beirada da cama.
- Incline a cabeça 45 graus para o lado que estiver causando a vertigem.
- Deite-se rapidamente de costas, mantendo a cabeça virada. Seus ombros devem estar apoiados no travesseiro e sua cabeça deve estar reclinada. Aguarde 30 segundos.
- Sem levantar a cabeça, gire-a 90 graus para o lado oposto. Agora sua cabeça deve estar voltada 45 graus na direção oposta. Aguarde mais 30 segundos.
- Vire a cabeça e o corpo mais 90 graus na mesma direção, de modo que você fique deitado de lado. Aguarde mais 30 segundos.
- Sente-se com cuidado.
• Manobra de Foster — Também chamada de “meia cambalhota”, a manobra de Foster foi desenvolvida como uma opção de tratamento domiciliar para a VPPB do canal posterior. Ela envolve uma sequência de movimentos que imitam uma cambalhota, mas apenas até a metade. Algumas pessoas acham isso mais fácil de fazer, pois não exigem que você fique deitado na cama. O vídeo abaixo demonstra como realizar a manobra de Foster. Aqui está o resumo:
- Ajoelhado, levante a cabeça e olhe para o teto por alguns segundos.
- Encolha o queixo em direção aos joelhos, deixando o topo da sua cabeça repousar no chão. Espere a vertigem parar, o que costuma levar cerca de 30 segundos.
- Gire a cabeça mais ou menos 45 graus em direção ao lado que está te causando vertigem. Aguarde 30 segundos.
- Levante rápido de volta à posição de quatro para que sua cabeça fique alinhada com suas costas (posição de tampo de mesa), mantendo a cabeça com a mesma inclinação de 45 graus em direção ao lado afetado. Aguarde 30 segundos.
- Sente-se rápido com as costas retas, mantendo a inclinação de 45 graus da cabeça em direção ao lado afetado, e depois levante-se devagar, ficando de pé e retornando a cabeça para a posição normal. Se necessário, repita a sequência após descansar por 15 minutos.
• Manobra de Semont — Esta técnica envolve mover-se rapidamente da posição sentada para a deitada de um lado, e depois para o lado oposto em um único movimento rápido, para desalojar e realocar a otocônia. Siga as instruções:
- Sente-se com as costas retas e a cabeça virada 45 graus em direção ao ouvido não afetado.
- Deite-se de forma rápida sobre o lado afetado, de modo que você olhe para o teto. Aguarde cerca de 30 segundos ou até que a tontura passe.
- Com a cabeça ainda virada em um ângulo de 45 graus, gire o corpo de forma rápida para o lado não afetado, de modo que você fique virado para baixo. Aguarde 30 segundos ou até que a tontura desapareça.
- Retorne devagar à posição sentada.
• Exercícios de Brandt-Daroff — Embora não sejam tão eficazes de imediato quanto as manobras de reposicionamento, os exercícios de Brandt-Daroff são recomendados com frequência como tratamento complementar ou de acompanhamento para a VPPB. Esses exercícios envolvem uma série de movimentos repetitivos realizados várias vezes ao dia. Eles visam dispersar a otocônia por meio de mudanças repetidas de posição e podem ajudar a prevenir a recorrência dos sintomas da VPPB. Siga estes passos:
- Sente-se na cama com os pés no chão. Vire a cabeça 45 graus para a direita.
- Mantendo a cabeça virada, deite-se sobre o lado esquerdo. Permaneça nessa posição até que a tontura desapareça e, então, continue aguardando por mais 30 segundos. Se não sentir tontura, mantenha a posição por 30 segundos.
- Retorne devagar à posição sentada e aguarde 30 segundos.
- Vire a cabeça 45 graus para a esquerda. Em seguida, repita o processo deitando-se sobre o lado direito, esperando a tontura passar e mantendo a posição por 30 segundos, caso não sinta tontura.
- Retorne à posição sentada e aguarde mais 30 segundos.
- Execute um total de 5 repetições em cada lado. Faça isso 3 vezes por dia.
• Manobra de Gufoni — É usado sobretudo para tratar a VPPB que afeta o canal semicircular horizontal. Veja como você pode fazer isso, de acordo com o Sistema de Saúde da Universidade de Michigan:
- Comece sentando-se na beirada da cama. Sente-se com a cabeça voltada para a frente e o queixo nivelado.
- Deite-se rápido sobre o seu lado direito. Aguarde até que todos os sintomas desapareçam, além de mais um minuto.
- Vire a cabeça de forma rápida para olhar na diagonal em direção ao chão (45 graus para baixo). Permaneça nessa posição por 2 minutos.
- Retorne devagar à posição sentada e mantenha a cabeça nivelada por 15 minutos.
A Terapia de Reabilitação Vestibular (TRV) pode beneficiar distúrbios do equilíbrio em geral
Ao contrário das manobras específicas usadas para a VPPB, a TRV é uma forma especializada de fisioterapia projetada para aliviar uma ampla gama de distúrbios do equilíbrio, incluindo vários tipos de vertigem.
A TRV funciona com base no princípio da neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de formar novas conexões neurais e se adaptar às mudanças. A terapia visa compensar a disfunção no sistema vestibular, retreinando o cérebro para processar informações de equilíbrio de forma mais eficaz. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia explica:
“A RV é um método de terapia fisiológica que atua no sistema vestibular para estimular a plasticidade do SNC, auxilia na restauração do equilíbrio corporal, acelera os mecanismos de compensação, adaptação e habituação. Foi sugerido que a RV aumenta a qualidade de vida em indivíduos com tontura e distúrbios do equilíbrio.
Os principais princípios da RV são a dessensibilização do sistema vestibular, o aumento dos ganhos dos reflexos vestíbulo-oculares e vestíbulo-espinhais e a criação de novos sentidos alternativos contra o desequilíbrio desencadeado pela mudança de posição. A melhora em todos esses mecanismos resulta em uma melhora progressiva na tontura e na vertigem.
Os componentes da reabilitação vestibular incluem “dessensibilizar” o sistema vestibular provocando sintomas, aprender a coordenar os movimentos dos olhos e da cabeça, desenvolver habilidades de equilíbrio e caminhada, e aprender a lidar com situações perturbadoras.
Componentes da RV: 1) Compensação/habituação; 2) Adaptação (adaptação do RVO [reflexo vestíbulo-ocular], estabilização da fixação visual), 3) Substituição sensorial (substituição de outras estratégias para a função perdida), 4) Aprendizagem motora para mudar o comportamento do movimento inclui exercícios de controle postural, prevenção de quedas, exercícios de relaxamento, exercícios de recondicionamento e retreinamento funcional”.
Outras estratégias para reduzir o risco de vertigem
Além de realizar os exercícios e manobras vestibulares acima, há diversas medidas preventivas que você pode adotar para minimizar o risco de sofrer episódios de vertigem, incluindo:
Fonte: mercola