Nesta quarta (30), um estudo publicado na revista Nature descreve o achado d um fóssil de girino na Patagônia, argentina. Seria uma descoberta normal, não fosse o fato de que o esse é o registro mais antigo de que se tem notícia desse tipo de animal.
O fóssil data de 161 milhões de anos atrás, bem no meio do período Jurássico, o apogeu dos dinossauros. Até então, o registro mais antigo de girino vinha do Cretáceo, há 145 milhões de anos.
(Fósseis de rãs adultas mais antigos, vale dizer, já foram achados antes. Eles pertencem ao período Triássico Superior, de 217 a 213 milhões de anos atrás.)
Os sapos e rãs fazem parte de um clubinho de anfíbios sem cauda, os anuros. Esse grupo é caracterizado por levar uma vida dividida em dois estágios. A primeira é no formato de girino, quando os animais se assemelham a um peixe de cauda longa, sem membros (pernas ou braços). Nesse período eles vivem uma vida exclusivamente aquática e respiram através de brânquias externas.
Já na segunda fase, quando chegam à idade adulta, os anuros passam por uma metamorfose e se transformam em espécies terrestres. Desenvolvem pulmões, membros posteriores e, em seguida, os anteriores – além da perda da cauda. É nesse momento que o animal deixa de ser girino e se transforma em rã ou sapo.
O girino encontrado agora é da espécie Notobatrachus degiustoi, uma das rãs jurássicas mais conhecidas e figura constante na área do Macizo del Deseado, ao sul da Patagônia. Essa espécie foi registrada pela primeira vez em 1957, a partir de fósseis encontrados na mesma região em que o exemplar mais antigo foi encontrado.
A cientista Mariana Chuliver, autora principal do estudo, da Universidad Maimónides de Buenos Aires, descreveu o fóssil como extremamente bem preservado. “Este exemplo tem uma dupla relevância. Por um lado, corresponde ao registro mais antigo de um fóssil renascentista e por outro lado se destaca por sua preservação excepcional”.
De acordo com os pesquisadores envolvidos no estudo, é possível visualizar a cabeça, a maior parte do corpo, uma pedaço da cauda, bem como os olhos, nervos e membros anteriores – o que indica que o animal já estava nos últimos estágios de sua metamorfose.
“Eles têm corpos muito moles com muitos tecidos finos, e a maior parte do corpo é feita de cartilagem, então é muito difícil encontrar girinos preservados por causa dessas características”, explicou Chuliver, ao jornal The New York Times.
Além disso, foi possível inferir que várias características morfológicas presentes nos girinos de hoje em dia também estavam presentes em seus antepassados de 161 milhões de anos. Um exemplo é o sistema de alimentação por filtro desses anfíbios. A grande maioria dos girinos existentes possui um complexo aparelho de filtro bucofaríngeo, que retém partículas de alimento das correntes de água – um método que, ao que parece, não é exclusivo da atualidade.
Outra curiosidade do fóssil foi que o animal não era pouca coisa não: ele era gigante (para seus próprios padrões, claro). Girinos gigantes são todos aqueles que possuem um comprimento igual ou superior ao dobro da média das espécies amostradas. O fóssil encontrado encarava o gigantismo com seus enormes 16 cm.
Algumas explicações são possíveis para justificar o tamanho de titã do bebê rã. Uma delas seria que os adultos de N. degiustoi são considerados um dos maiores anuros do Mesozoico, e por isso, no final de uma fase metamórfica, os filhotes também seriam bem maiores que o normal.
Uma segunda razão pode ser um desenvolvimento prolongado, com taxas aceleradas de crescimento. Essas taxas podem ser influenciadas por fatores ecológicos, como estabilidade ambiental, aumento de poças sazonais e ausência de predadores, condições que, segundo evidências, eram favoráveis onde o fóssil foi achado.
O estudo mostrou também que, mesmo que o gigantismo tenha evoluído várias vezes durante a história dos anuros, essa é uma das poucas espécies que apresentavam tanto girinos quanto rãs gigantes.
Fonte: abril