Existem 350 mil tipos de plantas registrados. Mas esse não é o número final: estima-se que a ciência ainda desconhece mais de 15% das espécies do planeta.
Boa parte delas pode estar nos 33 “dark spots” (“pontos escuros”) descobertos por uma recente pesquisa, publicada na revista New Phytologist. São locais ao redor do globo onde milhares de espécies de plantas ainda podem estar esperando para serem descobertas e catalogadas.
A maioria desses pontos está em locais do planeta com uma grande biodiversidade, mas que foram devastados pela ação humana. Alguns exemplos: a ilha de Sumatra (Indonésia), os Himalaias orientais, Assam (Índia), Vietnã, a ilha Madagascar, províncias do Cabo (África), Colômbia, Peru e o sudeste do Brasil.
O estudo foi liderado por pesquisadores do Jardim Botânico Real de Kew, do Reino Unido. Eles identificaram que muitos desses pontos são considerados “hotspots” de biodiversidade: áreas ricas em vida animal e vegetal mas que estão seriamente ameaçadas. A ideia da pesquisa, então, é ajudar a tentar priorizar regiões que necessitem de mais esforços de conservação.
“Estamos protegendo 30% do planeta até o fim da década, de acordo com as metas da ONU – mas não sabemos quais áreas proteger sem as informações adequadas”, afirmou o brasileiro Alexandre Antonelli, diretor de ciência de Kew e autor sênior do estudo, ao jornal The Guardian.
Pesquisas anteriores revelaram que três quartos das plantas ainda não conhecidas já estão ameaçadas de extinção. Ou seja: muitas espécies podem subir do mapa antes que possamos conhecê-las.
Como o estudo foi feito?
Os cientistas analisaram dados de vários bancos sobre plantas, como o World Checklist of Vascular Plants (WCVP), que possui um catálogo das 350 mil espécies já conhecidas.
O objetivo era levantar quais eram as principais lacunas de dados geográficos e taxonômicos (ou seja, relativo às características de cada espécie) das plantar. A partir daí, foi possível estimar quais eram as regiões do planeta com alta probabilidade de conterem espécies desconhecidas, mas que ainda não haviam sido estudadas satisfatoriamente.
Muitas vezes, as áreas que mais precisam de pesquisa são as que enfrentam barreiras como pobreza, insegurança e falta de proteção ambiental. Isso torna difícil o trabalho de cientistas, como a realização de coletas de amostras em locais onde há grandes espaços em branco de conhecimento – isto é, lugares com poucas análises morfológicas, moleculares e de registros prévios de suas plantas. Além disso, quando se avaliam áreas para coleta e conservação, raramente são considerados os contextos socioeconômicos e ambientais.
A iniciativa busca destacar espaços onde os botânicos devem concentrar suas pesquisas de maneira urgente, para conhecerem novas espécies antes da extinção. Samuel Pironon, biólogo da Queen Mary University de Londres e coautor do estudo, enfatizou ao The Guardian que não é possível preservar e restaurar a biodiversidade se não se sabe quais são as espécies que existem nem onde elas estão.
Os próximos passos
Com a digitalização dos herbários do mundo em progresso, as prioridades de coleta e conservação poderão ser identificadas em escalas mais detalhadas. Os autores esperam que essa análise inspire futuras colaborações entre instituições de pesquisa e comunidades locais.
Mas, com limites. Os cientistas alertaram o público para que não coletem espécies por conta própria, devido às leis internacionais rigorosas sobre o transporte de biodiversidade e ao risco de ameaçar a sobrevivência das plantas. Contudo, eles encorajaram a captura de fotografias de espécimes nessas áreas e o compartilhamento em plataformas de ciência cidadã.
“É uma grande oportunidade para fortalecer parcerias entre cientistas e cidadãos, já que plataformas como o iNaturalist dependem de ambos. As pessoas podem fotografar espécies que consideram interessantes e os cientistas ajudam a identificá-las”, destacou Piron.
Desde 2022, existe um combinado entre governos de prevenção à biodiversidade no planeta e no próximo mês, os países se reúnem na Convenção de Biodiversidade das Nações Unidas (chamada de COP16) em Cali, na Colômbia. Um dos objetivos de discussão será a restauração de pelo menos 20% de cada um dos ecossistemas de água doce (marinhos e terrestres).
Fonte: abril