Os habitats de água doce – rios, lagos, lagoas, córregos, pântanos e zonas úmidas – cobrem menos de 1% da superfície do planeta, mas sustentam 10% das suas espécies animais conhecidas. Agora, um estudo sugere que um quarto dos animais que dependem desse tipo de habitat estão ameaçados de extinção.
O cálculo é de um estudo internacional publicado na última quarta-feira (8) no periódico Nature. Os pesquisadores examinaram 23.496 espécies de libélulas, peixes, caranguejos e outros animais que dependem exclusivamente de ecossistemas de água doce.
A equipe descobriu que 24% desses animais estão em risco de extinção – classificados como vulneráveis, ameaçados ou criticamente ameaçados – devido a poluição, represas, extração de água, agricultura, espécies invasoras, mudanças climáticas e outras perturbações.
O estudo levou em conta as classificações da IUCN, a União Internacional para a Conservação da Natureza, organização que define os níveis de risco das espécies. Caranguejos, lagostins e camarões correm o maior risco de extinção entre os grupos estudados, com 30% das espécies sob ameaça, seguidos por 26% dos peixes de água doce e 16% das libélulas e libelinhas.
Embora esses animais pareçam muito pequenos e talvez irrelevantes para a vida humana, especialistas apontam que eles são essenciais para manter o equilíbrio de diversos ecossistemas dos quais nós também dependemos. A degradação desses ecossistemas pode impactar no fornecimento de água potável, nas enchentes, na agricultura e em outros fatores e mudanças climáticas que afetam bilhões de pessoas.
“A degradação ambiental é um risco para a sobrevivência deles e para a nossa. Devemos levar essa notícia a sério e, em vez de nos desesperarmos, investir energia e recursos na conservação desses ambientes – nossa saúde, nutrição, água potável e meios de subsistência dependem deles”, disse Stephanie Wear, vice-presidente sênior da Conservation International no Moore Center for Science, em comunicado.
As principais razões que colocam os animais de água doce em risco são a poluição e a conversão dos ecossistemas para uso agrícola, extração de água e construção de represas, que também bloqueiam as rotas de migração dos peixes. Segundo a IUCN, outros fatores como a pesca excessiva e a introdução de espécies exóticas invasoras também são particularmente importantes para provocar extinções.
É a primeira vez que um estudo realiza uma avaliação global da fauna de água doce, ao invés de focar em apenas um grupo de espécies. Segundo a IUCN, o feito é o resultado de mais de 20 anos de trabalho, com a colaboração de mais de mil especialistas ao redor do mundo.
Catherine Sayer, líder de biodiversidade de água doce da IUCN e principal autora do artigo, disse no mesmo comunicado que espera que as informações publicadas no estudo permitam “que os formuladores de políticas e os atores locais planejem medidas de conservação da água doce onde elas são mais necessárias.”
Em entrevista à AP News, a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Patrícia Charvet, afirmou que “rios enormes como o Amazonas podem parecer poderosos, mas, ao mesmo tempo, os ambientes de água doce são muito frágeis.”
Fonte: abril