O aquecimento das águas do oceano tem o poder de alterar o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. O calor pode auxiliar na sobrevivência e reprodução de certos animais e algas enquanto destrói as populações de outros, desestabilizando as cadeias alimentares.
O que nos leva à notícia biológica peculiar mais recente: no nordeste do Oceano Pacífico, no litoral dos estados americanos de Washington e Oregon, a população de uma espécie animal fina, exótica e alongada está crescendo cada vez mais.
Com a aparência de grandes salsichas brancas, os pirossomas (nome centífico Pyrosoma atlanticum) na verdade são colônias translúcidas formadas por milhares de bichinhos filtradores milimétricos chamados tunicatos.
A maioria dos pirossomas atinge apenas alguns centímetros de comprimento, mas alguns podem chegar aos 18 metros – são tão grandes que um humano poderia passar nadando por dentro deles. Eles podem parecer águas-vivas esticadas, mas, na verdade, têm um grau de parentesco mais próximo de nós do que esses seres gelatinosos.
Assim como os humanos, eles fazem parte do filo Chordata – o que significa que, em algum momento de seu desenvolvimento embrionário, eles possuíram uma notocorda. Em nós, a notocorda dá origem à coluna vertebral, mas a dos tunicatas desaparece.
Essas sacolas plásticas biológicas podem ser encontradas em águas quentes ao redor do mundo. Contudo, conforme mares tradicionalmente frios se aquecem além da conta, os pirossomas começam a visitar e colonizar lugares novos – atrapalhando os ecossistemas locais.
Para investigar tanto sua proliferação quanto seu impacto ambiental, um grupo de pesquisadores analisou dados de longo prazo sobre espécies do ecossistema da corrente da Califórnia, um fluxo de água fria que flui de norte a sul ao longo da costa oeste da América do Norte.
O estudo, publicado por Dylan Gomes da Universidade Estadual do Oregon e seus colegas, ainda não passou pela revisão por pares nem foi publicado em um periódico especializado, mas já está disponível na forma de pré-print.
Uma simulação de computador mostrou que a multiplicação de pirossomas pode ter grande influência na região. Quando essas colônias-tubo são abundantes, elas acabam comendo todo o plâncton disponível – e outros animais, como krill e sardinhas, ficam sem comida.
Outro problema é que os pirossomas não são o prato principal de nenhuma outra espécie. Enquanto outros animais que se alimentam de plâncton são comidos por outros bichos maiores e mais altos na cadeia alimentar, esses cilindros raramente são presas.
Isso significa que toda a energia e os nutrientes que eles consomem ao longo de suas vidas acabam afundando junto com seu corpos quando morrem, em vez de seguirem cadeia alimentar acima.
Uma hipótese para explicar por que os pirossomas são recusados na janta é que os predadores só não estejam acostumados a esse novo item no cardápio e não sejam muito chegados em uma novidade – pode ser que eles comecem a consumi-los com o tempo.
Outra ideia é que esses seres compridos simplesmente não valham o esforço. Seus corpos gelatinosos são duros, difíceis de digerir e, por serem baixos em calorias, talvez não compensem as calorias gastas para capturá-los e processá-los em algo aproveitável pelo organismo.
“Embora haja evidências de que alguns predadores tenham consumido pirossomas, não está claro quais os benefícios energéticos para esses predadores em comparação com crustáceos ou peixes”, escrevem os pesquisadores. “Há muito que se assume que as presas gelatinosas são becos sem saída tróficos, devido ao seu baixo conteúdo energético.”
Essa situação pode, segundo os pesquisadores, atrapalhar o mercado da pesca na região. Populações de rei salmão (Oncorhynchus tshawytscha) e bacalhau da região, por exemplo, diminuíram desde que as ondas de calor começaram. “Se estas espécies não regressarem à sua antiga abundância, a pesca comercial poderá ter de transferir os seus esforços para outras espécies mais facilmente disponíveis”, escrevem.
Fonte: abril