Você pode não ter pegado nenhuma gripe nos últimos anos. Ou, pelo contrário, pode ser aquela pessoa que, ao menor sinal de um vento mais forte, já fica resfriada e em um estalar de dedos adquire uma irritação na garganta. O fator responsável por essas diferenças, na maior parte das vezes, é a imunidade, que, segundo a imunologista Walderez Dutra, é quem garante a defesa do organismo, por meio das atividades e reações do sistema imunológico, composto por anticorpos, células e fatores solúveis.
Formado pela resposta imunológica humoral – que é a produção dos anticorpos – e pela resposta celular – que são as atividades efetoras de diferentes células –, o sistema imunológico interage com outros sistemas, como o nervoso e o endócrino. “Com isso, ele desempenha funções fisiológicas de manutenção de homeostase, que é manter as funções de cada sistema em equilíbrio”, destaca Walderez, que é professora titular no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
Por isso, é importante que, independentemente da idade, cada pessoa busque uma resposta imune eficiente. Afinal, não se pode pensar que seja possível aumentar a imunidade com alguma receita mágica em algumas horas ou dias, orienta a imunologista, indicando que seus pacientes mantenham a boa atividade do sistema imune de forma constante.
Contudo, também não devemos iniciar uma busca desenfreada por uma imunidade “alta”, mas, sim, adequada ou eficiente. É que uma imunidade alta, ou seja, sem controle, também pode acarretar doenças, como a leishmaniose mucosa, que é resultado de uma resposta imune exacerbada.
Imunidade adequada pode variar de pessoa para pessoa
Algumas pessoas realmente têm a imunidade reduzida naturalmente, se comparadas com a maioria da sociedade. Isso porque, segundo Walderez, a composição genética do indivíduo tem relação direta com sua resposta imune, conforme indicam alguns estudos.
“Há pessoas que possuem uma habilidade geneticamente pré-determinada de produzir baixos ou altos níveis de proteínas solúveis e isso pode alterar diretamente a resposta imune”, exemplifica a médica. Além do mais, doenças imunológicas ou tratamentos de imunossupressão também podem tornar a resposta imune menos eficiente. Porém, embora existam medicamentos específicos para melhorar a resposta imune, eles devem ser específicos para determinadas doenças e usados apenas com prescrição médica.
Conjunto de fatores contribui para imunidade eficiente
De modo geral, segundo a médica, manter um sistema imunológico eficiente depende de uma vida com estresse controlado e períodos de descanso e de uma saúde em boas condições gerais, inclusive com correta hidratação e alimentação balanceada.
Assim, consequentemente, as coisas que atrapalham este balanço interferirão de forma negativa no funcionamento do sistema imunológico, destaca a profissional. O descanso permite ao organismo se renovar, obtendo um equilíbrio fisiológico que pode ficar desfeito pela vida conturbada e pelo cansaço. “Durante o sono, por exemplo, são secretados hormônios importantes para a resposta imunológica”, acrescenta Walderez.
Da mesma
forma, ela conta que a atividade física estimula o organismo a secretar
substâncias que participam da resposta imune. Por isso, deve-se dizer que o
excesso de atividade pode não necessariamente ser uma boa coisa, visto que pode
desencadear quadros inflamatórios. “Como tudo, um balanço é importante”,
destaca.
E para quem acha que a saúde mental não tem importância nessa questão, pode saber que está equivocado. “As emoções, sem dúvida, podem impactar a imunidade”, alerta a imunologista, ao explicar que os químicos produzidos quando estamos felizes ou tristes têm ação distinta no sistema imune, podendo alterar sua função. “Sabe-se, por exemplo, que quadros de depressão estão ligados a doenças imunológicas”, complementa.
Alimentação pode ajudar ou atrapalhar
Ainda que alguns alimentos possam de fato “aumentar” a imunidade, na medida em que fornecem nutrientes usados pelas células do sistema imune para sua função, a oferta desses nutrientes por si só pode não ser suficiente para regular a situação, já que são muitos os fatores que interferem no sistema imunológico, explica Walderez.
Muitas pessoas, por exemplo, aderiram nos últimos anos ao consumo de doses de ingredientes e vitaminas, conhecidos como “shot da imunidade”. Porém, eles não são milagrosos, ainda que possuam nutrientes importantes para o sistema imunológico. “Os shots são bem-vindos, mas é preciso cuidar de todo o estilo de vida para colher os benefícios”, orienta a nutricionista Bruna Leffa Allebrand da Silveira (CRN10 2201), especializada em atendimento nutricional na terceira idade.
Ela alerta que um alimento isolado não é capaz de promover o aumento da imunidade e que para isso é necessário um conjunto de fatores. Entre eles estão a alimentação saudável, com consumo mínimo de alimentos ultraprocessados; a inclusão de alimentos específicos, além de praticar atividade física, não fumar e evitar bebidas alcoólicas.
“O limão,
quando inserido num contexto de alimentação saudável com hábitos de vida
saudáveis, pode sim contribuir. O problema é que muitas pessoas apostam em
algum alimento milagroso erradamente, e esquecem de cuidar de todo o restante”,
desabafa a profissional.
Dentre os
alimentos importantes para o fortalecimento da imunidade, ela destaca:
A variedade alimentar, ou seja, montar um prato colorido, com diversas vitaminas e minerais, com alimentos tão naturais quanto ossível e menos produtos industrializados, continua sendo uma ótima escolha para um bom sistema de defesa do organismo. Porém, cuidado! Assim como existem alimentos que contribuem para uma imunidade eficiente, outros podem ser a causa de diminuição da capacidade do sistema de defesa do corpo humano.
O açúcar e a cafeína são exemplos de alimentos que atrapalham a absorção dos nutrientes. Por isso é importante não ingerir café durante todo o dia, como muitas pessoas têm o hábito, alerta Bruna. Já o consumo prolongado ou exagerado de álcool inibe a resposta do sistema imune, o que propicia o surgimento de doenças, pois dificulta o reconhecimento dos microorganismos invasores.
Além
disso, a nutricionista lembra que algumas infecções podem atingir o trato
gastrointestinal, o que muitas vezes dificulta o consumo de alguns alimentos ou
atrapalha a absorção dos nutrientes, por conta de sintomas como náuseas, vômitos
e diarreia. “Na maioria das doenças, é importante manter uma boa hidratação,
ingerindo água, chás, sucos naturais ou águas saborizadas, manter uma
alimentação equilibrada e procurar um médico”, orienta a nutricionista.
Sendo assim, de um modo geral, Bruna explica que não existe um único alimento que seja responsável pela recuperação da imunidade, mas sim um conjunto de fatores, formado pela alimentação balanceada com todo o estilo de vida, como exercitar-se regularmente, não fumar e dormir bem.
Walderez finaliza destacando a importância de que as pessoas se vacinem contra doenças para as quais existem vacinas disponíveis, pois isso é fundamental para a manutenção da saúde e, consequentemente, da boa imunidade. “Ter uma boa saúde depende de ter uma boa imunidade e ter uma boa imunidade depende de ter uma boa saúde, uma vida saudável”, diz a médica.
Fonte: semprefamilia.com.br