📝RESUMO DA MATÉRIA

  • A posição incorreta do braço durante a medição da pressão arterial (PA) leva a uma superestimativa, resultando em diagnósticos incorretos de hipertensão em até 54 milhões de adultos americanos.
  • O estudo ARMS Crossover Trial mostrou que a posição do braço no colo aumenta as leituras em 3,9 mmHg, enquanto braços pendurados sem apoio mostram valores 6,5 mmHg mais altos do que as medições com apoio adequado.
  • Fatores fisiológicos como alterações na pressão hidrostática e diminuição do retorno venoso causam leituras elevadas quando os braços não são apoiados de maneira adequada ao nível do coração durante a medição.
  • O diagnóstico errado devido a posição incorreta do braço afeta as decisões de tratamento, resultando em tratamentos desnecessários que aumentam o risco de outras complicações de saúde.
  • Garantir uma posição padronizada do braço durante a medição da pressão arterial e usar equipamentos apropriados, como apoios de braço ajustáveis, é importante para um diagnóstico preciso. Estratégias para proteger a saúde do seu coração estão incluídas abaixo.

🩺Por Dr. Mercola

Medições precisas da pressão arterial são mais importantes do que você imagina. A hipertensão, muitas vezes chamada de assassina silenciosa, é a principal causa de doenças cardiovasculares e mortes evitáveis no mundo todo. Todos os anos, milhões de pessoas sofrem de ataques cardíacos e derrames, decorrentes da pressão alta não controlada.

Quando você visita seu médico, a leitura da pressão arterial (PA) que você recebe desempenha um papel importante na determinação do seu plano de saúde. Se a sua pressão arterial for medida de forma inadequada, isso poderá levar a consequências sérias. A superestimação pode resultar em medicamentos desnecessários e estresse, enquanto a subestimação pode significar a falta de um diagnóstico crítico que precisa de atenção imediata.

No estudo de outubro de 2024 intitulado “Posição do braço e leituras da pressão arterial: o ensaio clínico randomizado ARMS Crossover”, publicado no JAMA Internal Medicine, os pesquisadores exploraram como diferentes posições do braço durante a medição da pressão arterial afetam a precisão das leituras. Essa medição imprecisa pode levar a diagnósticos errados de hipertensão em até 54 milhões de adultos americanos.

Quais são as práticas atuais na medição da pressão?

Ao medir a pressão arterial, as diretrizes clínicas enfatizam o apoio do braço sobre uma mesa com o manguito posicionado na altura do coração para garantir medições precisas. Essa posição padronizada ajuda a manter a consistência e a confiabilidade. Entretanto, em ambientes clínicos cotidianos, essa posição ideal do braço é negligenciada com frequência.

Apesar dessas recomendações, posições de braço não padronizadas são bastante utilizadas. Muitos profissionais de saúde medem a pressão arterial com os braços dos pacientes apoiados no colo ou pendurados sem apoio nas laterais. Essas posições alternativas causam imprecisões nas leituras da pressão.

Fatores como espaço de trabalho limitado, restrições de tempo e treinamento inadequado contribuem para o uso comum de posições inadequadas do braço. Embora já se suspeite há muito tempo que a posição do braço afeta as leituras da pressão arterial, estudos anteriores que tentavam confirmar isso tinham limitações.

Muitos estudos incluíam um número insuficiente de participantes, não tinham randomização ou testaram posições que no  geral não são usadas em ambientes clínicos. Essas falhas metodológicas afetaram a validade dos seus resultados, dificultando tirar conclusões definitivas sobre como a posição do braço influencia as leituras de pressão.

Novo estudo esclarece melhor como a posição do braço influencia a pressão arterial

Para abordar essas lacunas, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins reuniram 133 adultos de Baltimore e testaram com cuidado três posições diferentes dos braços ao medir a pressão. Ao contrário de estudos anteriores, este ensaio utilizou um delineamento cruzado randomizado, garantindo que cada participante experimentasse todas as posições do braço. Este método forneceu dados mais confiáveis sobre como a posição do braço afeta as leituras de pressão.

O estudo clínico ARMS Crossover revelou que posições de braço não padronizadas, como apoiá-lo no colo ou deixá-lo pendurado ao lado do corpo, resultaram com consistência em leituras de pressão mais altas. Essa descoberta foi significativa porque sugeriu que milhões de pessoas podem ter tido um diagnóstico errado de hipertensão devido ao simples fato da posição do braço estar inadequada durante as medições da pressão.

Segundo os pesquisadores, apoiar o braço no colo aumenta bastante as leituras da pressão arterial. Em específico, a pressão arterial sistólica (PAS) foi superestimada em uma média de 3,9 mmHg, e a pressão arterial diastólica (PAD) aumentou em 4,0 mmHg em comparação com a posição padrão na mesa. Esses aumentos são substanciais o suficiente para influenciar decisões médicas, levando a tratamentos desnecessários.

Além disso, essa superestimação foi consistente em vários subgrupos, incluindo aqueles com maior índice de massa corporal (IMC) e indivíduos que não tiveram acesso a cuidados de saúde no ano anterior. Essa consistência destaca que a posição do colo é um problema generalizado, não limitado a populações específicas, e que a conveniência de apoiar o braço no colo em ambientes clínicos movimentados muitas vezes prevalece sobre a adesão às diretrizes.

O estudo também descobriu que deixar o braço pendurado sem apoio na lateral causou uma superestimação ainda maior da pressão arterial. Nessa posição, a PAS foi elevada em média 6,5 mmHg, e a PAD aumentou 4,4 mmHg em comparação à posição de referência com apoio. Um aumento de 6,5 mmHg na PAS é clinicamente significativo e pode levar os indivíduos a se encaixarem na categoria de hipertensos.

A superestimação da posição lateral também foi mais pronunciada entre indivíduos cujos níveis de PAS já estavam elevados. Aqueles com PAS de 130 mmHg ou mais apresentaram um aumento ainda maior, com superestimação da PAS atingindo cerca de 9 mmHg. Esse aumento em grupos de alto risco agrava o risco de diagnóstico incorreto, pois esses indivíduos já são vulneráveis a complicações cardiovasculares.

O estudo enfatiza que as posições de braço sem apoio não são apenas pequenos desvios, mas fatores substanciais que distorcem as medições da pressão. No geral, o estudo clínico ARMS Crossover fornece evidências sólidas de que posições do braço não padronizadas, como as posições no colo e na lateral, levam a uma superestimação significativa da pressão arterial.

Compreendendo as razões fisiológicas por trás da superestimação da pressão arterial

Quando seu braço não está posicionado de forma correta, a distância entre seu coração e o manguito de pressão arterial muda. Se o seu braço estiver apoiado no colo ou pendurado ao lado, o manguito pode estar abaixo do nível do coração. Essa diferença de altura aumenta a pressão hidrostática na artéria braquial, fazendo com que a leitura da pressão arterial fique mais alta do que realmente está.

Além disso, quando seu braço não está apoiado, o corpo responde ajustando o fluxo sanguíneo para manter a estabilidade. Posições sem apoio de braço diminuem o retorno venoso, o que significa que menos sangue flui de volta para o coração. Para compensar, os vasos sanguíneos se contraem, aumentando a resistência vascular e elevando a pressão arterial. E deixar o braço pendurado faz com que seus músculos se contraiam, o que aumenta ainda mais sua pressão arterial de forma temporária.

Essas respostas fisiológicas ajudam seu corpo a manter o equilíbrio, mas também levam a leituras imprecisas da pressão. Entender essas reações do corpo permite que você esteja mais atento durante futuras medições de pressão arterial, garantindo resultados mais precisos.

Implicações mais amplas do diagnóstico incorreto da pressão arterial

O diagnóstico incorreto da hipertensão afeta milhões de indivíduos. Isso leva à prescrição excessiva de medicamentos anti-hipertensivos que têm sido associados a vários efeitos colaterais adversos, como tosse seca persistente, hipotensão ortostática, desequilíbrios eletrolíticos, disfunção renal, ganho de peso, disfunção sexual e alterações de humor.

Esses efeitos colaterais prejudicam sua qualidade de vida de forma significativa e levam à polifarmácia, onde vários medicamentos são prescritos para tratar os sintomas causados por outros medicamentos. A polifarmácia aumenta o risco de interações medicamentosas, que pioram os efeitos colaterais ou cria novos problemas de saúde. Por exemplo, combinar anti-hipertensivos com estatinas leva a complicações sérias, como aumento do risco de diabetes tipo 2, dores musculares e danos ao fígado.

Além disso, o tratamento desnecessário aumenta a probabilidade de não adesão à medicação, pois os pacientes ficam frustrados com os efeitos colaterais dos medicamentos que não precisam. Essa não adesão resulta no controle irregular da pressão arterial, complicando ainda mais o tratamento médico.

Além da saúde individual, as consequências ambientais da prescrição excessiva de medicamentos anti-hipertensivos também merecem atenção. A produção e o descarte de produtos farmacêuticos em excesso contribuem para a poluição ambiental, em particular em sistemas hídricos. Medicamentos como betabloqueadores e estatinas estão sendo cada vez mais detectados em ecossistemas aquáticos, onde representam uma ameaça à vida selvagem e à qualidade da água.

Melhores práticas para medição precisa da pressão

Para evitar medições incorretas da pressão, os autores do estudo recomendam o uso de dispositivos automatizados para minimizar erros humanos e eliminar as inconsistências inerentes às medições manuais. Dispositivos como o ProBP 2000, usados no ARMS Crossover Trial fornecem medições precisas e repetíveis, reduzindo a variabilidade muitas vezes observada em medições manuais.

Padronizar protocolos de medição em todas as unidades de saúde também é importante para garantir a consistência. Diretrizes claras sobre a posição do braço, tamanho do manguito e preparação do paciente ajudam os profissionais de saúde a obter medições precisas e comparáveis. Essa padronização proporciona diagnósticos e decisões de tratamento mais precisos, melhorando, em última análise, os resultados dos pacientes.

Treinar profissionais de saúde sobre a posição correta do braço é outra recomendação importante para garantir que todos eles sigam técnicas de medição padronizadas. Educar os pacientes também é importante, para garantir que eles sigam a posição correta do braço para obter leituras precisas da pressão, tanto em ambientes clínicos quanto durante medições em casa.

Por fim, o estudo enfatiza a importância de equipar os ambientes clínicos com as ferramentas adequadas, como apoio de braço ajustável, mesas resistentes e manguitos de pressão arterial de tamanho correto, para manter a posição adequada do braço.

Da medição precisa ao gerenciamento ativo — Estratégias para uma pressão arterial saudável

Embora o estudo em destaque evidencie a importância da medição precisa da pressão arterial para o diagnóstico e tratamento adequados, é importante ter em mente que, mesmo com técnicas de medição perfeitas, muitas pessoas ainda lutam contra uma hipertensão genuína que requer gerenciamento. Manter um nível saudável de pressão arterial requer uma abordagem abrangente. Aqui estão algumas estratégias que recomendo que você adote:

Evite óleos de sementes e alimentos processados: Os óleos de sementes são uma fonte primária de ácido linoleico, um tipo de gordura poliinsaturada ômega-6 (AGPI). A ingestão excessiva de LA está associada a quase todas as doenças crônicas, incluindo pressão alta, obesidade, resistência à insulina e diabetes.

O LA fica incorporado nas membranas celulares, causando estresse oxidativo, e permanece lá por até 7 anos. Os metabólitos oxidativos do ácido linoleico (OXLAMs) são responsáveis por danos celulares significativos, sobretudo nas células endoteliais. Esse dano contribui para a disfunção vascular, que é um fator-chave no início de paradas cardíacas e ataques cardíacos.

Para proteger a saúde cardiovascular, recomendo reduzir de maneira radical sua ingestão de LA eliminando os óleos de sementes da sua cozinha. Evite alimentos processados, que costumam ser carregados de óleos de sementes, assim como refeições de restaurantes, já que a maioria é preparada com esses óleos pouco saudáveis.

Passe tempo no sol: A exposição ao sol estimula a produção de óxido nítrico, que dilata os vasos sanguíneos e diminui a pressão arterial. O óxido nítrico também protege seu endotélio e aumenta a melatonina mitocondrial, melhorando a produção de energia celular. No entanto, é importante ter cuidado com a exposição ao sol, ainda mais se sua dieta for rica em óleos de sementes.

Esses óleos se acumulam na pele e oxidam ao serem expostos ao sol, causando inflamação e danos no DNA, aumentando o risco de queimaduras solares. Se você estiver fazendo uma dieta rica em LA, recomendo evitar a exposição intensa ao sol até reduzir a ingestão de óleo de semente por 4 a 6 meses. À medida que você reduz a ingestão de LA, aumente aos pouco o tempo que você passa ao ar livre. Com o tempo, você poderá aproveitar uma hora ou mais durante os horários de pico de luz solar.

Reduza seus níveis de insulina e açúcar no sangue: Estratégias simples para conseguir isso incluem evitar alimentos ultraprocessados e adoçantes artificiais, restringir de forma significativa a ingestão de LA e praticar exercícios com frequência.

Aborde o estresse crônico: Isso aumenta o açúcar no sangue e a pressão arterial, promove a coagulação sanguínea e prejudica seus sistemas de reparação. O cortisol, um hormônio responsável pelo estresse, reduz a produção de células endoteliais.

Otimize a saúde do seu intestino: O mau funcionamento intestinal leva à inflamação sistêmica, aumentando o risco de doenças cardíacas. Certas bactérias intestinais, como a Oscillibacter, foram associadas a níveis mais baixos de colesterol e menor risco de doenças cardíacas. Essas bactérias quebram o colesterol em moléculas menores que não aumentam o risco de doenças cardíacas.

Manter um microbioma intestinal diversificado e equilibrado, em especial promovendo bactérias intolerantes ao oxigênio, como a Akkermansia, fortalece as defesas intestinais e a saúde geral. A importância da saúde intestinal na prevenção de doenças cardíacas também vai além do controle do colesterol. Bactérias intolerantes ao oxigênio produzem ácidos graxos de cadeia curta benéficos que promovem a saúde intestinal.

No entanto, fatores do estilo de vida moderno, como o consumo de óleo de semente e a exposição a toxinas como produtos químicos desreguladores endócrinos nos plásticos perturbam esse equilíbrio delicado, levando ao aumento da produção de endotoxinas e à inflamação sistêmica. Para colocar seu microbioma intestinal de volta nos trilhos e reduzir a inflamação, incorpore alimentos fermentados, como iogurte de leite de vaca alimentada com capim, chucrute, kimchi ou kefir, em sua dieta e considere tomar um probiótico de alta qualidade.

Tome coenzima Q10: A CoQ10 é um poderoso antioxidante essencial para a produção de energia celular, o que o torna benéfica para os músculos cardíacos, que têm cerca de 5.000 mitocôndrias por célula.

Um estudo publicado na revista Antioxidants (Basel) afirma que a CoQ10 ajuda a reduzir o estresse oxidativo, diminui o risco de morte por causas cardiovasculares e melhora os resultados em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio.

Ela também ajuda a prevenir o acúmulo de lipoproteína de baixa densidade oxidada (LDLox) nas artérias, reduz a rigidez vascular e a pressão alta, melhora a função endotelial ao reduzir as espécies reativas de oxigênio (ERO) e aumenta os níveis de óxido nítrico.

Outro estudo recente em uma grande coorte chinesa, publicado no jornal Nutrients, descobriu que a ingestão moderada de CoQ10 na dieta protegia contra o início de hipertensão.

Aumente seus níveis de magnésio: Este mineral desempenha um papel no transporte de cálcio e potássio através das membranas celulares, o que é importante para a “condução do impulso nervoso, contração muscular, tônus vasomotor e ritmo cardíaco normal”.