O maior artrópode que já existiu acaba de ganhar um rosto – ou quase isso. Pela primeira vez, pesquisadores descreveram a anatomia da cabeça do Arthropleura, inseto que viveu entre 346 e 290 milhões de anos atrás, no Período Carbonífero. O animal é conhecido desde o século 18, mas até agora os cientistas não haviam encontrado um fóssil completo de sua cabeça.
O Arthropleura vivia nas florestas próximas ao equador. A atmosfera rica em oxigênio da época permitiu que alguns animais e plantas alcançassem proporções gigantescas. É o caso deste artrópode, que chegava a medir 2,6 metros e pesar 45 kg. Isso equivale ao tamanho de um sofá ou de um carro pequenininho, do tipo smart. O artigo que descreve o animal foi publicado no periódico Science Advances.
O problema de estudar fósseis do Arthropleura é que eles geralmente não têm cabeça. Como outros artrópodes, ele passava por um processo de troca do exoesqueleto para poder crescer. O “casco” deixado para trás é o que os pesquisadores encontram na forma fossilizada, e por isso eles sempre parecem decapitados.
Agora, pesquisadores da Universidade Claude Bernard Lyon 1 descreveram dois fósseis de Arthropleura que morreram jovens, antes de passar pela muda de exoesqueleto. Eles foram encontrados em Montceau-les-Mines, uma região que se encontrava no equador há 300 milhões de anos. Graças ao movimento das placas tectônicas, hoje ela está na França.
Os fósseis encontrados medem apenas 6 centímetros – bem abaixo do tamanho máximo que podiam atingir. Mesmo assim, os pequenos dão uma noção da anatomia dos adultos. O Arthropleura tinha duas antenas, olhos protuberantes (como os de um caranguejo), e uma boca adaptada para comer folhas e cascas de árvore. Para sustentar o corpão, ele devia passar a maior parte do dia comendo.
Avô dos piolhos-de-cobra
O corpo do Arthropleura é dividido em segmentos, com dois pares de perna por seção. Tudo indicava que ele pertencia à classe dos diplópodes, à qual pertencem os piolhos-de-cobra. Mas, sem a cabeça, não dava para ter certeza. O animal também poderia ser um quilópode, grupo ao qual pertencem as centopeias. Essa era uma questão em aberto entre os cientistas.
A análise do fóssil mostrou características tanto de diplópodes quanto de quilópodes. “A aparente natureza quimérica do Arthropleura é uma evidência importante que pode ajudar a responder perguntas fundamentais sobre a evolução dessas espécies”, disse o paleontólogo James Lamsdell, que não participou do estudo, à LiveScience.
Com base nas características anatômicas e dados genéticos, os pesquisadores concluíram que o Arthropleura é um diplópode ancestral. O que mais intrigou os cientistas foram os olhos saltados do animal, que nunca foi visto em nenhum dos dois grupos. Essas estruturas são geralmente encontradas em artrópodes aquáticos, como os crustáceos. E, até onde sabemos, o Arthropleura era totalmente terrestre.
Uma hipótese é que os olhões sejam característicos da fase juvenil do inseto, antes de serem perdidos na fase adulta. No entanto, mais pesquisas são necessárias para explicar esse mistério.
Fonte: abril