A missão Euclides, lançada no ano passado pela Agência Espacial Europeia (ESA) com contribuições da NASA, divulgou as primeiras imagens do que será o maior “atlas cósmico” já feito do Universo. O material será um mapa 3D, que apresentará 14 milhões de galáxias e dezenas de milhares de estrelas da Via Láctea.
A região mapeada corresponde a aproximadamente 500 vezes a largura da Lua cheia vista da Terra. O mosaico de 208 gigapixels gerado pela missão Euclides abrange, surpreendentemente, apenas 1% do que será o produto final.
O objetivo do projeto é criar um mapa de espaço-tempo do Universo. Algo que consiga acompanhar sua evolução, e quem sabe abrir portas para entender o mistério da energia e matéria escuras, que juntas ocupam 95% do Universo.
Com uma câmera VIS de alta resolução, Euclides é capaz de capturar imagens de vastas áreas do céu como nunca visto antes. “Antes da missão, não conseguíamos visualizar as nuvens cirrus da Via Láctea ou identificar cada estrela que a rodeia em alta resolução,” explicou Mat Page, professor do Mullard Space Science Laboratory da University College London e líder da VIS, ao The Guardian.
Durante uma reunião do Congresso Internacional de Astronáutica, Carole Mundell, diretora de ciência da ESA, destacou a magnitude da missão. “Representar a imagem em resolução total exigiria mais de 16 mil telas 4K,” afirmou.
A missão já capturou uma variedade impressionante de objetos, incluindo nuvens de gás e poeira que refletem luz óptica e aparecem como faixas azuis no mosaico. As primeiras imagens, liberadas pela ESA em novembro de 2023, mostravam mosaicos que revelam nuvens galácticas e galáxias distantes, incluindo a NGC 2188 e o aglomerado Abell 3381.
A abordagem começa com uma visão ampla do cosmos e depois se concentra em detalhes mais específicos. Dessa forma, a missão Euclides proporciona aos astrônomos uma nova maneira de explorar o Universo. Essa técnica de observação permite que os cientistas ampliem o mosaico de imagens para examinar minuciosamente as estruturas.
Outro exemplo do que a missão já disponibilizou é a forma da galáxia espiral ESO 364-G036, que está a 420 milhões de anos-luz de distância de nós. Essa profundidade de detalhe não só mostra características complexas da galáxia, como suas estrelas, braços espirais e regiões de formação estelar, mas também ajuda a entender melhor a dinâmica e a evolução dela ao longo do tempo cósmico.
Valeria Pettorino, cientista do projeto Euclides na ESA, afirmou ao Space.com que essa é apenas uma pequena amostra do que está por vir. “Em seis anos, revelaremos mais de um terço do céu,” disse ela, destacando que essas imagens iniciais já oferecem uma diversidade de fontes para novas descobertas.
Lançado em julho de 2023, o telescópio espacial de ângulo largo, com sua câmera de 600 megapixels, ajuda os cientistas a medirem o “redshift”, essencial para entender a energia escura – a força misteriosa que impulsiona a expansão do Universo.
Aproximadamente 12% da coleta de dados planejada já está concluída, e os cientistas estão ansiosos para as próximas etapas. A missão promete ser um marco na astronomia, com a primeira série de dados de cosmologia prevista para ser compartilhada com a comunidade científica em 2026. “Isso é apenas o começo do que poderemos observar durante a vida da Euclides,” afirmou Luz Ángela García Peñaloza, ao Space.com.
“Euclides está observando o Universo de uma maneira completamente nova”, comentou Peñaloza, cosmóloga da Universidade ECCI. “Qualquer imagem que revele a distribuição de galáxias fornecerá informações valiosas sobre a natureza do cosmos.”
Confira aqui as imagens completas gravadas por Euclides:
“Estamos testando as leis fundamentais da física nas escalas extremas do cosmos,” concluiu Carole Mundell.
Fonte: abril