Os impactos da mudança climática vem se fazendo presentes em todo o globo: aumento das temperaturas, aumento do nível do mar, secas, inundações e tantos outros eventos foram acompanhados em 2024. O topo do planeta é um dos lugares mais abalados, com o gelo ártico cada vez mais escasso e temperaturas aumentando de duas a quatro vezes mais rápido que no resto do mundo.
À medida que o Ártico esquenta, uma grande quantidade de gases de efeito estufa pode ser liberada dos sedimentos no fundo dos lagos, uma fonte que anteriormente havia sido negligenciada.
O solo congelado, conhecido como permafrost, já está em processo de degelo graças ao aumento das temperaturas. Acontece que, nas regiões polares do Hemisfério Norte, o carbono reside, na maioria dos casos, no chão mesmo. Estudos anteriores mostraram que existe mais carbono no solo do Ártico do que em todas as árvores do mundo combinadas.
Essas análises já são conhecidas, estudos sobre o permafrost debaixo da vegetação de tundra e seu descongelamento já foram feitos de cabo a rabo. Agora, um novo estudo publicado na revista Nature Geoscience analisa uma nova perspectiva: o problema do fim do permafrost sob os lagos da região.
Através da datação por radiocarbono, incubações de sedimentos e classificações de sedimentos, a equipe de pesquisadores estudou o descongelamento extenso do permafrost que pode ocorrer sob lagos.
O estudo analisou um núcleo de sedimento de 20 metros retirado do Lago Goldstream, no Alasca, e revelou que o permafrost abaixo do lago havia descongelado completamente até profundidades superiores. À medida que a água, o gelo e a neve que cobrem esses lagos derretem, e o solo ao redor descongela, a atividade microbiana nesses sedimentos aumenta, levando à decomposição da matéria orgânica. Esse processo libera tanto metano quanto dióxido de carbono na atmosfera.
A pesquisa descobriu que a produção dos dois gases nos sedimentos profundos é semelhante à produção nas camadas superficiais, mas, em temperaturas mais altas e especialmente em condições sem oxigênio (anaeróbicas), o impacto das emissões profundas no aquecimento global é o dobro, indicando que o aquecimento no Ártico pode amplificar substancialmente as emissões de gases de efeito estufa.
“Embora se tenha assumido que a produção de dióxido de carbono aeróbico em camadas rasas dominaria o impacto climático do descongelamento do permafrost, encontramos que a produção anaeróbica de dióxido de carbono e metano a partir de sedimentos profundos era equivalente à produção aeróbica em termos de carbono por grama”, explica Nancy L. Freitas, principal autora do estudo.
Vale lembrar que esses gases não são brincadeira de criança: o metano, por exemplo, é mais de 28 vezes mais potente do que o dióxido de carbono em reter calor na atmosfera.
A pesquisa identificou depósitos fluviais antigos sob o permafrost Yedoma (um solo congelado existente desde o Pleistoceno rico em orgânicos) como uma fonte significativa de carbono.
A pesquisa sugere que os modelos climáticos atuais subestimam o papel dos lagos termocásticos – formados quando o permafrost descongela, criando depressões que se enchem de água – em liberar gases de efeito estufa de reservatórios profundos.
Lagos recém-formados são importantes para mobilizar carbono de forma rápida, mas lagos mais antigos, que já passaram por processos de descongelamento e estabilização, continuam liberando gases de efeito estufa por um longo período, possivelmente séculos ou milênios. Ou seja, o aquecimento global causado pelo aumento das emissões de carbono no Ártico pode continuar por muito tempo.
Fonte: abril