Dor crônica, transtornos do movimento, desordens psiquiátricas graves, como depressão e transtorno obsessivo compulsivo, assim como tantas outras doenças exigem um tratamento profundo e, mesmo com o uso de medicação, podem não apresentar quaisquer avanços.
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Nesses casos, a neurocirurgia funcional, área que atua no tratamento das mais variadas doenças do sistema nervoso, é capaz de alterar a funcionalidade cerebral, possibilitando a eliminação ou controle dos sintomas de muitas doenças graves. “Por meio de técnicas minimamente invasivas, o paciente é submetido a procedimentos pontuais que irão diminuir os males causados por alterações no sistema nervoso central ou periférico”, explica o médico Murilo Meneses, chefe do Departamento de Neurocirurgia Funcional do Hospital INC e sócio fundador da instituição, em Curitiba, no Paraná.
A dor, por exemplo, é um dos sintomas mais comuns que diminuem a qualidade de vida das pessoas, causando transtorno nas atividades cotidianas do paciente. E, com este procedimento, pode ser minimizada ou extinta. “O principal meio de controlar a dor é retirar sua causa. Porém, quando há uma lesão crônica, seja causada pelo câncer, seja causada por outras doenças, é impossível retirá-la, salvo através das técnicas da neurocirurgia”, conta o médico.
Aliás, a estereotaxia, uma das técnicas empregadas nessa especialidade, possibilita atingir de forma precisa, e pouco invasiva, o interior do crânio com um pequeno furo. E, com isso, pode ser aplicada em áreas que envolvem distúrbios dos movimentos, como a Doença de Parkinson, epilepsia refratária – que afeta 30% dos pacientes epilépticos e até mesmo a espasticidade (rigidez cerebral), causada por uma lesão no sistema nervoso central.
A grande variedade de aplicações em doenças diferentes se dá, segundo Daniel Benzecry Almeida, neurocirurgião do Hospital INC, porque cada área do sistema nervoso, incluindo o cérebro, a medula espinhal e os diversos nervos, cumpre determinado papel no funcionamento do corpo. “A neurocirurgia
funcional então seria o ramo da cirurgia neurológica que, baseado no
conhecimento da anatomia e da função de cada uma dessas áreas, visa melhorar o
desempenho do corpo em determinadas doenças”, acrescenta ele.
A neurocirurgia funcional não deve ser primeira opção de tratamento
Almeida
explica que, geralmente, a neurocirurgia funcional só é empregada nos casos em
que o tratamento convencional não surtiu efeitos, incluindo, por exemplo, o uso
correto de medicação, programa exaustivo de reabilitação e psicoterapia. “A dor pode
ser controlada, muitas vezes, com analgésico simples, outras vezes com medicações
mais potentes, mas quando a dor é refratária torna-se indicação para que a
neurocirurgia ofereça um melhor resultado”, exemplifica Meneses.
Contudo, ainda que deva ser respeitado o momento exato da cirurgia, tentando verificar se os tratamentos mais simples surtem efeito, quanto maior for a brevidade de sua realização, melhores são os resultados oferecidos. “Como existe uma enorme variedade de procedimentos possíveis, cada um deles traz um índice de sucesso e risco que devem ser discutidos caso a caso com a equipe médica, paciente e seus familiares”, orienta ele.
Em certos casos, como na neurocirurgia para epilepsia, a melhora significativa, e até mesmo cura, dos sintomas de uma doença grave é possível, já que é capaz de eliminar as crises do paciente, inclusive eventual uso de medicação, possibilitando a independência da pessoa para realizar atividades básicas como estudo e trabalho. “A neurocirurgia funcional é extremamente gratificante. É claro que existem casos mais graves em que ela apenas ameniza a dor ou outros sintomas, mas na grande maioria das vezes traz muito sucesso, melhorando a qualidade de vida do paciente e de sua família”, comemora o sócio fundador do Instituto de Neurologia e Cardiologia.
Tratado de neurocirurgia funcional busca divulgar o tratamento no Brasil
A neurocirurgia funcional vem sendo difundida no Brasil a partir dos grandes
centros urbanos, mas, por exigir equipamentos sofisticados e profissionais
habilitados, está muito longe de ser acessível facilmente pela população que a necessita.
Assim,
para que mais pessoas possam se beneficiar dos recursos trazidos pelas técnicas
e alcancem conforto e qualidade de vida, segundo Almeida, programas de educação
têm sido criados para tentar motivar a formação de médicos especializados, estimulando
o conhecimento concreto sobre as possibilidades reais de tratamento.
Pensando nisso, ele, Meneses e Osvaldo Vilela Filho, também neurocirurgião, lançaram, pela primeira vez na literatura portuguesa, um Tratado de Neurocirurgia Funcional e Estereotáxica. “Mesmo os médicos que já têm formação em neurocirurgia funcional podem se beneficiar pra desenvolverem suas habilidades e obterem uma atualização das técnicas que evoluem tão rapidamente”, conclui Meneses, que também é autor dos livros Aspectos Clínicos e Cirúrgicos da Doença de Parkinson (Guanabara Koogan, 1996), Neuroanatomia Aplicada (Guanabara Koogan,1999) – que possui três edições – Doença de Parkinson (Guanabara Koogan, 2003) e Técnicas de Estudo do Sistema Nervoso Central (Editora UFPR, 2007).
Fonte: semprefamilia.com.br