Atire a primeira pedra quem nunca sentiu ciúme na vida! Ligado ao amor, esse sentimento está presente nas mais diversas relações humanas. Entretanto, até que ponto ele é saudável e quando se transforma em um relacionamento tóxico? Para falar sobre o assunto e esclarecer algumas dúvidas, o Dicas de Mulher conversou com a psicóloga Olivia Klem. Acompanhe!
O que é ciúme e o que ele tem a ver com o amor?
A manifestação do ciúme está muito atrelada às diversas formas de amor. De acordo com a psicóloga Olivia, basicamente, “ciúme é um conjunto de sentimentos, pensamentos e comportamentos que surgem quando achamos que um relacionamento especial está sob ameaça”. Portanto, é uma mistura de emoções, envolvendo “raiva, ansiedade, medo, excitação, impotência, desesperança, tristeza, amor e apego”. Por estar no campo do abstrato (aquilo que não é palpável), é difícil definir e compreender sua elaboração.
A profissional ressalta que a pessoa ciumenta, muitas vezes, duvida dos seus valores e não sabe como lidar com a insegurança. Assim, ela pode ser dominada por pensamentos negativos sobre si, o outro ou o relacionamento. Provavelmente, você já ouviu a expressão: ‘fulano estava cego de cíumes’. Nessas horas, as palavras e atitudes precisam de um olhar cuidadoso.
Causas do ciúme
Sabendo que o ciúme é inerente às relações humanas, é possível pensar sua constituição a partir das vivências pessoais. Dessa forma, não existe uma única causa que o desencadeia, mas, sim, várias. Entre elas, estão:
- Medo de perder o relacionamento;
- Receio de ser deixado de lado ou ser trocado;
- Baixa autoestima;
- Insegurança;
- Crença de desvalor;
- Experiências traumáticas em outras relações;
- Falta de autoconfiança.
Compreender o ciúme e suas motivações é um processo de autoconhecimento. A reflexão contínua ajuda na resolução dos conflitos desencadeados por esse sentimento. Entretanto, é preciso saber que sentir ciúme não é sinônimo de obsessão ou loucura. É humano, compreensivo e, por vezes, saudável.
Ciúme saudável: tudo tem medida
Por estar diretamente relacionado ao sentimento amoroso e às relações interpessoais, o cíume exagerado desencadeia vários problemas. Entretanto, é importante validar a existência desse sentimento e lidar com suas nuances. Sobre isso, Olivia explica que “o ciúme saudável não gera uma sensação tão profunda e avassaladora de desvalor”.
No ciúme saudável, o medo de perder a outra pessoa ainda é latente, porém aparece de maneira mais amena e não gera tantos conflitos no relacionamento. Assim, é “possível conversar com o outro sobre as necessidades que não estão sendo atendidas e trabalhar a relação para que a comunicação, a amizade, a confiança e o amor sejam fortalecidas”, esclarece Olivia.
Ciúme excessivo: quando a medida transborda
Ao contrário do saúdavel, o ciúme excessivo é patológico, beira a obsessão e transborda. Segundo Olivia, ele acontece sem uma base real, trazendo “disfuncionalidade para a vida do ciumento e de quem está ao redor”. Além disso, essa configuração pode estar associada “aos quadros de transtornos psicológicos, como o transtorno obsessiva-compulsivo, transtorno de personalidade narcisista, transtorno de personalidade borderline, depressão, entre outros”.
Em um artigo publicado em julho de 2022 pela revista Perspectiva: Ciência e Saúde, Radde e Mendes observam que o indivíduo ciumento em excesso “se sente constantemente ameaçado, angustiado, tenso, inquieto, desconfiado sem justificativas, com raiva, inseguro em relação a si e ao outro e frequentemente com baixa autoestima”.
Um relacionamento tóxico é o cenário ideal para o desencadear do ciúme excessivo. Segundo a psicóloga, a pessoa faz de tudo para provocar esse sentimento na outra. Além disso, geralmente ele está acompanhado de comportamentos passivo-agressivos e manipulações. Nas palavras da especialista, “frequentemente o abusador sofre com ciúme doentio e procura controlar, de forma extrema, a vida da outra pessoa”, o que, infelizmente, pode resultar em agressões físicas e assassinato, como em casos de violência contra mulher e feminicídio.
Características do ciúme excessivo
Independentemente do nível de intensidade, o ciúme sempre se manifesta como ameaça e “medo de deixar de representar para a outra pessoa aquilo que se deseja representar”, explicam Radde e Mendes (2022). Porém, algumas características específicas podem diferenciar o ciúme comum e saudável do obsessivo. Veja abaixo quais são:
- Desconfiança severa da fidelidade;
- Tentativas extremas de garantir essa fidelidade;
- Comportamento controlador excessivo;
- Violação da privacidade da pessoa amada;
- Desconfiança severa da fidelidade e lealdade;
- Medo excessivo de perder a pessoa amada;
- Interferência nas relações interpessoais da pessoa amada;
- Intenso sofrimento emocional, podendo desencadear sintomas físicos.
O ciúme é comum, desencadeia mudanças, conversas e limites, no entanto, o excesso machuca quem sente e quem é o alvo do sentimento. Se estiver passando por uma situação assim, procure ajuda, a psicoterapia é essencial para lidar com as emoções.
O que fazer se você for vítima de ciúme obsessivo?
Como dito anteriormente, o ciúme obsessivo pode resultar em diversos prejuízos físicos e psicológicos, além de tragédias nas relações. Segunda Olivia, o isolamento é um dos principais fatores que impede a vítima (geralmente uma mulher) de pedir ajuda. Por causa da manipulação, a pessoa se afasta da sua rede de apoia e sente receio ou vergonha de contar para alguém o que está acontecendo.
Assim, a psicóloga ressalta a importância da comunicação e do acolhimento. As “vítimas não são responsáveis pela violência que estão sofrendo, elas são vítimas!”. Por isso, familiares, amigos e profissionais de saúde precisam demonstrar apoio e oferecer amparo. Ninguém merece estar em uma relação abusiva. Mais uma vez, vale lembrar que a terapia é essencial nesse momento.
O que fazer se você sentir ciúme excessivo?
E se a pessoa ciumenta obsessiva for você? A resposta da psicóloga é certeira: “procurar terapia, sem dúvida, é a coisa mais importante a se fazer”. Para Olivia, “aprofundar-se nas raízes psicológicas individuais do ciúme pode, na verdade, abrir nossos olhos para aspectos importantes da nossa vida”. A partir disso, é possível rever os padrões que estão por trás dos comportamentos.
Outra indicação da especialista é ler sobre o assunto, pois a literatura (ficcional ou não) atua como um trabalho de “psicoeducação e pode desempenhar papel importante na jornada de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal do ciumento”. Dito isso, ela sugere o livro “A Cura do Ciúme”, do renomado psicólogo norte-americano, Robert L. Leahy.
Como controlar o ciúme?
Dizem que de dose em dose, o veneno mata. O mesmo vale para o ciúme: de pouquinho em pouquinho, ele estraga uma relação. A pessoa ciumenta pode até sofrer, porém é a vítima que fica com os danos mais severos. Abaixo, confira dicas da psicóloca que te ajudarão a controlar esse sentimento:
Abra espaço para o ciúme
Pode parecer estranho, mas o primeiro passo para controlar o ciúme é sentindo. Segundo a psicóloga, é necessário “aceitar que o ciúme é um sentimento normal e que não é um objetivo razoável querer se livrar dele”. Diante disso, ela explica que o ser humano não consegue controlar o que sente, na verdade, “nossa tarefa é aprender a lidar com os sentimentos que temos da melhor forma possível”.
Combata os pensamentos negativos
O ciúme nem sempre estar pautado na realidade. Na maioria das vezes, ele é “baseado em fantasias que criamos na nossa própria mente”, gerando, assim, pensamentos negativos, por exemplo: imaginar um futuro desastroso, acreditar que algo muito ruim vai acontecer, além de anular todos os aspectos positivos da relação e do presente. Por isso, é preciso perceber, analisar e compreender esses pensamentos.
Controle os comportamentos ciumentos
“Todos nós temos direito de sentir ciúmes, mas não temos direito de agir como bem entendermos”. A partir disso, é preciso pensar na diferença entre sentir ciúme e controlar a vida de outra pessoa por conta do sentimento. A dica da psicóloga é evitar: “interrogatórios; buscar por evidências; invadir a privacidade do outro; fazer cara feia e se afastar; invalidar a concorrência; invalidar o parceiro; ameaçar terminar o relacionamento; ameaçar dar o troco provocando ciúme no parceiro; começar a trair ”.
Trabalhe a sua autoestima
A baixa autoestima, a insegurança e falhas na autoconfiança são fatores que desencadeiam o sentimento de ciúmes e podem afetar a sua intensidade. Dessa forma, como colocado por Radde e Mendes (2022), é imprescindível “reforçar a autoestima e valorizar a autoimagem da pessoa ciumenta, melhorando sua confiança diante de si e dos outros”.
Invista no relacionamento
Investir na relação é outra dica da psicóloga. Olivia afirma que “a confiança vem do profundo senso de companheirismo e amizade entre os parceiros”. Esse sentimento é dissolvido por meio do cuidado com o relacionamento em suas diversas facetas e do desenvolvimento de empatia pelo outro. “Você não vai ter confiança sem isso”, conclui.
Procure ajuda profissional
Começar um processo terapêutico individualmente e/ou em casal pode ser uma excelente opção para controlar o ciúme, reafirma a profissional. Na psicoterapia individual, por exemplo, a pessoa “pode se fortalecer psicologicamente e desenvolver ferramentas para lidar melhor com os próprios sentimentos, pensamentos e comportamentos”. A partir disso, é possível transformar o ciúme “em uma oportunidade de ganhar em autoconhecimento”.
Converse sobre o ciúme
Em qualquer relação, o diálogo aberto e sincero é fundamental. Isso não muda quando se trata dos conflitos causados pelo ciúme. Por isso, Olivia ressalta a importância de falar sobre as angústias, inseguranças e medos. Entretanto, sempre “fale dos sentimentos positivos que estão por trás do ciúme, por exemplo, sobre o quanto você valoriza seu parceiro. Além disso, ouça o que ele tem a dizer”.
Apesar de ser um sentimento causado por emoções, em sua maioria, negativas, o ciúme é comum e nem sempre causa conflito nos relacionamentos. Ainda assim, é sempre bom observar as características dos comportamentos que permeiam a relação e entender o que de fato é um relacionamento saudável.
Fonte: dicasdemulher