Depois de amassar um rodízio de comida japonesa, você fica tão cheio de peixe que, mesmo com oferta constante de comida, não quer comer mais. É tipo isso que acontece com os tubarões. Os funcionários do aquário garantem que eles estejam bem alimentados – e, se não estão com fome, não atacam os colegas.
Em um ambiente controlado de zoológico, um tubarão come de 1 a 10% do seu peso corporal por semana. Na natureza, eles podem passar vários dias ou semanas sem se alimentar; já nos aquários, eles costumam ser mimados com três refeições semanais – o suficiente para encher a barriga.
Por lá, rola uma prática chamada target feeding: os animais têm “alvos”, locais específicos do recinto, em que precisam estar para receber o alimento. Quando chega a hora do lanche, os tubarões prontos para comer se dirigem aos pontos designados. Assim, os funcionários conseguem controlar se cada um deles comeu direitinho. O almoço de cada espécie varia, sempre pensando nos valores nutricionais para uma dieta balanceada de proteína e gordura e também no seu cardápio na natureza.
Esse é um ponto importante: tubarões não comem qualquer coisa. As rêmoras, por exemplo, são pequenos peixes que vivem grudados nos tubarões, se alimentando de restos de sua comida. E os tubarões não comem as rêmoras. Se uma espécie não é uma presa comum desse tubarão em ambiente natural, não é em um aquário que ela vai passar a ser. Então, peixes desse quadro estão fora de perigo.
Tubarões podem ser vistos como caçadores implacáveis e violentos, mas, na verdade, eles não vão caçar se não precisarem comer. Matar mais do que o necessário é um comportamento chamado de overkill ou caça em excedência, e é observado em orcas, lobos, leões, hienas, coiotes, entre outros – mas não em tubarões. Esses outros animais atacam suas presas, mas deixam carcaças para trás ou levam para viagem. Alguns fazem isso porque preferem comer apenas certas partes dos animais, ou então levam o lanche para os filhotes.
Ir atrás de uma presa requer energia. Para os tubarões, não é vantajoso desperdiçar fôlego indo atrás de comida fora da hora do almoço. Em um aquário, em que a janta chega com regularidade e sem esforço, não há motivo para ataques.
Contudo, não é como se isso nunca acontecesse. Caso algum animal esteja ferido, soltando sangue, o instinto de caça do tubarão pode ser estimulado e ele pode sim comer um colega de aquário – em Procurando Nemo (2003), é quando Dory se machuca que os tubarões passam a querer comer ela e Marlin.
Além disso, machos também brigam entre si por território e por fêmeas. Então, manter os outros peixes saudáveis também é um jeito de evitar confusão. Mas, se não tiver nenhuma presa fácil, um tubarão satisfeito não vai querer comer mais.
Fonte: Bianca Rangel, doutora em fisiologia geral pelo Instituto de Biociências da USP; Lunch-time with the sharks, sawfish and many more fish at Ripley’s Aquarium of Canda!
Fonte: abril