No mundo da ficção, os efeitos da radiação na maioria das vezes costumam ser mais benéficos do que prejudiciais para quem entra em contato. No mundo real, entretanto, a coisa não é tão agradável quanto ganhar superpoderes como em filmes e HQs. Porém, apesar da radiação não transformar animais como tartarugas em grandes ninjas, cientistas descobriram que seus cascos podem, pelo menos, armazenar vestígios de radiação.
Em uma pesquisa publicada na revista PNAS Nexus, uma equipe liderada pelo pesquisador Cyler Conrad e por pesquisadores de diversas universidades americanas encontrou uma nova forma de se estudar o acúmulo de isótopos radioativos em seres vivos: as inerentes carapaças de nossos amigos répteis.
Estudar o acúmulo de radiação em organismos é algo bastante difícil. As árvores, por exemplo, conseguem guardar um pouco de elementos radioativos em seu tronco. O problema é que muitas vezes, essa radiação se mistura com os anéis das árvores, o que torna complicado de se fazer um registro cronológico preciso.
A solução que eles chegaram foi justamente o casco das tartarugas. Geralmente, eles possuem duas camadas: uma interna e outra externa. Na parte interna, sua composição é de cálcio, formando um grande pedaço de osso. Já a parte externa, recobrindo isso tudo, são placas de queratina (o mesmo elemento das nossas unhas, só que muito mais duro).
Por essas escamas crescerem em camadas, e por serem separadas de outras partes e tecidos do corpo desses animais, os pesquisadores descobriram que o casco pode ser um marcador temporal, principalmente quando o assunto envolve radiação.
Problemas ambientais envolvendo isótopos radiativos costumam ser bem graves, já que além de se espalharem rapidamente, eles costumam perdurar no ambiente por um bom tempo. A área mais contaminada de Chernobyl, por exemplo, pode levar até 3 mil anos para se tornar habitável. E apesar de ser o mais famoso, esse caso está longe de ser o único.
Só nos Estados Unidos atualmente, acredita-se que algumas atividades nucleares do passado contaminaram mais de 80 milhões de metros cúbicos de solo, e 4,7 bilhões de metros cúbicos de água.
E é justamente nesse contexto que as tartarugas entram. Elas podem se tornar marcadoras biológicas para o estudo de contaminação nuclear nos ambientes, área de estudo conhecida como radioecologia.
Para esse estudo, os pesquisadores coletaram amostras em museus de quatro espécies de quelônios diferentes, vindas de locais expostos a materiais radioativos. Dois deles foram palcos de testes nucleares: as Ilhas Marshall e o deserto de Mojave, em Nevada, nos EUA, enquanto as outras duas vieram de locais contaminados por vazamentos de resíduos nucleares.
Apesar do estudo ter sido feito com animais mortos, os pesquisadores acreditam que por precisar de amostras muito pequenas para análise, essa pode ser considerada uma técnica não invasiva de pesquisa.
Ah sim, e vale destacar. Apesar do senso comum, nem todos os répteis com casco são tartarugas. Mesmo não sendo classificações taxonômicas oficiais, se divide esses animais em três grupos. Os que são essencialmente terrestres, são chamados de Jabutis, como a famosa espécie brasileira Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria).
Já os de água doce, como o Cágado de Barbicha (Phrynops geoffroanus), são conhecidos como cágados. Tartaruga propriamente dito são as espécies marinhas, como a Tartaruga de Couro(Dermochelys coriacea), a maior espécie de tartaruga do mundo. Ela pode atingir até 2 m de comprimento e pesar até 1 tonelada.
Fonte: abril