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Ciência & Saúde

Baleias cachalote: cientistas revelam novo ‘alfabeto’ de comunicação

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Dory, de Procurando Nemo, estava certa: as baleias realmente falam “baleiês”. E, quem sabe, um dia poderemos entender esse “idioma”.

Um novo estudo publicado na revista Nature Communications analisou em detalhes o mecanismo de comunicação usado pelas baleias cachalotes (Physeter macrocephalus), os mamíferos marinhos de 16 metros de comprimento que habitam quase todos oceanos do mundo, sempre em grupos.

A conclusão do artigo é que essa habilidade de comunicação desses bichos é bem mais complexa do que se imaginava até agora – e lembra, de certa forma, a linguagem humana. A nova pesquisa foi feita por cientistas do Projeto CETI, uma iniciativa fundada em 2020 justamente para estudar o falatório das baleias usando inteligência artificial.

Desde 2020, a equipe vem observando um grupo de baleias que vive próximo a Dominica, uma ilha no Caribe, e registrando os sons emitidos por , bem como o contexto dessas conversas em baleiês. Com os dados coletados nestes anos, eles conseguiram observar uma espécie de “alfabeto” de sons usado por esses mamíferos para se comunicarem.

Mas vamos por partes. O mecanismo de vocalização dessas baleias não é uma descoberta exatamente nova: sabemos há décadas que as cachalotes conseguem emitir sons de alta frequência parecidos com “cliques” por meio de estruturas localizadas em suas cabeças. 

Não confunda: é um mecanismo diferente do usado pelas baleias jubartes, conhecidas por seus “cantos”. Ouça os cliques das cachalotes abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=g_jijaidSbo

Esses cliques das cachalotes têm duas funções principais. Uma delas é a ecolocalização: o mecanismo de emitir ondas que se espalham pelo local, são refletidas quando encontrarem algo no caminho e voltam em forma de eco ao animal, permitindo com que as baleias “ouçam” o ambiente ao seu redor e detectem onde as coisas estão, incluindo presas. É parecido com o que os fazem.

Mas não só. As baleias cachalotes conseguem combinar tipos de cliques diferentes em sequências específicas para criar o que os cientistas chamam de “codas”. Essas sequências de sons são utilizadas por esses titãs oceânicos para se comunicarem umas com as outras. Cada coda pode conter de três até 40 cliques combinados.

Em uma analogia, é como se os cliques fossem os nossos fonemas, os sons que humanos conseguem emitir e que representamos em vogais e consoantes. “Ba” e “na” são fonemas humanos que conseguimos combinar para formar a palavra “banana”. As codas seriam exatamente as “palavras” desse baleiês.

Isso não é novidade. Acontece que a ciência não sabe exatamente o quão complexo é esse sistema de codas – se são apenas alguns padrões de cliques fixos para comunicar situações mais gerais (tipo um S.O.S em código morse), ou se, de fato, constituem um tipo de “linguagem” parecida com a nossa.

O que o novo estudo mostra é que, sem dúvidas, a comunicação das baleias usando cliques é bem mais complexa do que sabíamos até agora. As codas não são fixas ou padronizadas – elas variam, dependendo do contexto, em quesitos como ritmo e velocidade. E também não são apenas combinações aleatórias de cliques – há padrões que se repetem, e parece haver alguma lógica por trás desse baleiês que ainda não compreendemos totalmente.

Com isso, os cientistas acreditam que estão aos poucos documentando uma espécie de “alfabeto” de diferentes codas usadas por essas baleias para se comunicar. Eles conseguiram identificar pelo menos 156 codas diferentes entre si, cada uma com sua combinação específica de número de cliques, velocidade, ritmo etc.

A conclusão foi feita usando algoritmos que analisaram mais de nove mil sons de codas gravados das baleias que habitam o Caribe.

Esse estudo, então, abre uma possibilidade intrigante: será que no futuro poderemos decifrar o que cada combinação de cliques quer dizer, e assim criar um “dicionário de baleiês”? Os cientistas envolvidos acreditam que essa é uma possibilidade real.

“Nossas descobertas indicam a existência de conteúdos informativos estruturados [nas baleias] e também desafiam a crença predominante entre muitos linguistas de que a comunicação complexa é algo exclusivo dos humanos”, diz Daniela Rus, cientista da computação do MIT e uma das autoras do estudo. 

“Este é um passo para mostrar que outras espécies têm níveis de complexidade de comunicação que ainda não foram identificados. Nossos próximos passos visam decifrar o significado por trás dessas comunicações e explorar as correlações entre o que está sendo dito e as ações do grupo”, explica ela.

Fonte: abril

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