A região de El Alto, próxima à cidade de La Paz, na Bolívia, ganhou fama nas redes sociais graças aos seus edifícios coloridos com fachadas estilizadas, exemplares únicos da chamada “Nova Arquitetura Andina” — que passaram a ser referidos como cholets.
O estilo, apelidado de “arquitetura Transformer” devido ao uso abundante de vidro e pinturas refletivas metálicas, é rico em elementos inspirados nas cerâmicas e nos têxteis andinos, representados nos projetos do pedreiro e arquiteto Freddy Mamani, responsável pelas construções mais icônicas.
Uma boa maneira de apreciar essa exibição de prédios psicodélicos é pegando o teleférico que circula entre La Paz e El Alto: ele passa junto às ruas onde estão alguns dos principais exemplares do movimento arquitetônico que tem roubado a cena na Bolívia.
@losviajesdealejo Estos son los famosos Cholets en Boliva, acá te cuento parte de mi experiencia. #bolivia #cholet #cholets #datoscuriosos #sudamerica
Construções mesclam modernismo e tradição na Bolívia
A paisagem de La Paz e de sua vizinha, El Alto, é dominada pelo laranja dos tijolos da construção civil. As moradias inacabadas e sem reboco são fruto de um “mito urbano” sobre a diminuição dos impostos para obras que ainda não estejam finalizadas. Por isso, as fachadas futuristas e coloridas projetadas por Freddy Mamani provocam um contraste tão evidente quando comparado à monocromia ao redor.

Os primeiros projetos vieram no final dos anos 2000, encomendados por famílias de origem aymara que haviam ascendido economicamente. Os aymara são indígenas do altiplano boliviano que migraram para áreas urbanas e se estabeleceram em El Alto, uma das cidades que mais tem crescido no país.
Apesar da ascensão social, faltavam locais em que pudessem celebrar suas tradições e, ao mesmo tempo, demonstrar o seu novo poderio econômico. Por isso, geralmente o primeiro piso dos prédios estilizados é dedicado a algum estabelecimento comercial, enquanto o segundo andar é ocupado por um salão de baile, decorado num estilo igualmente pujante.
Das cholitas aos cholets
Freddy Mamani começou sua carreira trabalhando como assistente de pedreiro. Mais tarde, estudou engenharia e arquitetura na Universidade Mayor de San Andrés.
A paleta das suas construções remete aos aguayos, mantas usadas pelas comunidades tradicionais andinas. Hoje, o estilo de Mamani já é copiado por outros projetistas locais, embora os exemplares mais famosos ainda levem a assinatura do pioneiro.
Seus prédios já foram chamados de “cholos”, uma palavra usada para depreciar pessoas e itens que mesclam origens indígenas e espanholas. O termo é o mesmo empregado para se referir às cholitas, mulheres que se vestem com roupas tradicionais coloridas.
Com o tempo, os prédios passaram a ser chamados de cholets, um jogo de palavras que ressalta o orgulho indígena e o produto dessas tradições.
Em 2024, Mamani participou da Bienal das Amazônias Sobre as Águas projetando uma embarcação no mesmo estilo dos seus prédios. O barco aportou no Píer das Onze Janelas, em Belém, e visitou localidades próximas no Pará e no Amazonas com programações múltiplas de arte e educação.
Fonte: viagemeturismo